sexta-feira, 16 de abril de 2010

Tempo dedicado aos filhos está aumentando, diz estudo

TARA PARKER POPE
do New York Times

Pais que trabalham fora vivem sofrendo porque não veem seus filhos o suficiente. Mas um novo e surpreendente estudo descobriu que mães e pais estão se saindo melhor do que eles mesmos pensam, passando muito mais tempo com suas famílias do que os pais de gerações anteriores.

O estudo, realizado por dois economistas da Universidade da Califórnia, em San Diego, analisa uma dúzia de pesquisas de como os americanos afirmam usar seu tempo, realizadas em diferentes períodos entre 1965 e 2007. O estudo relata que a quantidade de tempo dedicado aos cuidados com as crianças por parte dos pais em todos os níveis de renda --e especificamente para as pessoas com nível universitário-- aumentou "dramaticamente" desde meados da década de 1990 (as descobertas feitas pelos economistas Garey Ramey e Valerie A. Ramey, marido e mulher, aparecem num artigo apresentado em março numa conferência do Brookings Institution, em Washington).

Antes de 1995, as mães passavam uma média de 12 horas por semana atendendo às necessidades dos filhos. Até 2007, esse número tinha aumentado para 21,2 horas por semana para mulheres com instrução universitária e 15,9 horas para aquelas sem formação superior.

Embora as mães ainda sejam responsáveis por grande parte das tarefas de cuidar dos filhos, os pais também registraram ganhos acentuados: passaram para 9,6 horas semanais para homens com educação universitária, mais que o dobro do número de 4,5 horas de antes de 1995; e para 6,8 horas para os demais homens, contra 3,7 anteriormente, segundo uma análise adicional de Betsey Stevenson e Dan Sacks, economistas do Wharton School, da Universidade da Pensilvânia.

Pesquisadores sobre a família afirmam que a notícia deveria trazer alívio para pais que trabalham fora e se sentem culpados.

"Os pais sentem que não passam tempo suficiente com as crianças", afirmou Ellen Galinsky, presidente do Families and Work Institute, em Nova York, que conduz pesquisas sobre a força de trabalho. "Eles temem que estejam em falta com os filhos. Nunca encontrei um grupo de pais que acredita passar tempo suficiente com as crianças".

Embora estudos anteriores tenham mostrado um aumento no tempo passado pelos pais com seus filhos na década de 1990, o estudo dos Ramey é importante porque associa muitas pesquisas sobre o uso do tempo e também desmembra dados por idade da criança e nível de instrução.

O aumento do tempo dedicado aos filhos é apenas um dos aspectos da família americana que está mudando. Os casais estão, em geral, esperando mais tempo para se casar e começar a ter filhos. Os índices de divórcio estão caindo geração após geração.

Casamento moderno

É notável o fato de que as crianças não são mais amplamente vistas como essenciais para um casamento feliz. Em 1990, 65% dos americanos disseram que as crianças eram "muito importantes" para um casamento de sucesso, mas até 2007 o número de adultos que concordaram com essa frase tinha caído para 41%, segundo uma pesquisa do Pew Research Center.

Na verdade, o aumento no tempo dedicado aos filhos diz mais sobre o casamento moderno do que sobre práticas modernas de cuidados com as crianças, disse Stevenson. Ela observa que, entre os pais com educação superior, duas horas ou duas horas e meia do tempo aumentado dedicado às crianças ocorrem quanto ambos os pais estão presentes. "Todos entram no carro", ela disse, "e mãe e pai animam a criança".

Isso pode refletir um aumento no que Stevenson chama de "casamento hedonista", no qual os casais dividem responsabilidades do lar e de trabalho para que possa passar mais tempo junto.

Em contraste, casais de gerações anteriores geralmente tinham papéis "especializados" que tendiam a separá-los --o marido trabalhava fora para sustentar a família e a mulher ficava em casa para cuidar das crianças.

"Estamos vendo um aumento de casamentos onde se escolhe pessoas com as quais gostamos de fazer atividades", disse Stevenson. "Então, não é surpresa que comecemos a ver que algumas atividades que queremos fazer juntos envolvam nossos filhos".

Outras tarefas

Mas de onde vem esse tempo extra com os filhos? As mulheres, especificamente, estão passando menos tempo cozinhando e limpando a casa, enquanto os homens estão trabalhando menos horas no escritório. Um relatório de 2007 do "The Quarterly Journal of Economics" mostrou que o tempo de lazer entre homens e mulheres aumentou de quatro para oito horas semanais, entre 1965 e 2003.

Notavelmente, os dados do estudo do casal Ramey não contabiliza as horas que as mães e os pais passavam "perto" dos filhos --na mesa de jantar, por exemplo, ou quando as crianças brincavam sozinhas. Em vez disso, a pesquisa rastreia atividades específicas nas quais o pai ou mãe está diretamente envolvido com a criança.

"É levá-las para a escola, ajudar com a lição de casa, dar banho, brincar de pega-pega no quintal", disse um coautor do artigo sobre o tempo de lazer, Erik Hurst, economista da University of Chicago Booth School of Business. "Essas são as atividades que aumentaram nos últimos 15 ou 20 anos."

Galinsky observa que, embora pais que trabalham fora normalmente se sintam culpados por não passar mais tempo em casa, as crianças muitas vezes têm uma reação diferente. Num estudo publicado como "Pergunte às Crianças" (Harper, 2000), ela perguntou a mais de mil crianças sobre seu "maior desejo" em relação aos pais. Embora os pais esperassem que seus filhos pedissem mais tempo em família, as crianças queriam algo diferente.

"As crianças tiveram maior probabilidade de desejar que os pais estivessem menos cansados e menos estressados", afirmou Galinsky.

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