quarta-feira, 21 de abril de 2010

A crise da sensibilidade

Negar as próprias limitações traz ao homem problemas como a depressão, o maior mal do século. Blaise Pascal torna-se atual na superação da crise da sensibilidade, pois foi o primeiro a buscar interação entre emoção e razão


Por Rodrigo dos Santos Mazano

De maneira geral, nossa época cultua a indiferença à Religião e até mesmo o ateísmo, considerada como superstição e perda de tempo. Porém, por trás da aversão à Religião, convencional, cultos a outros deuses se desenvolvem sem serem percebidos. O culto ao ser humano é a mais visível destas novas formas cultuais, traduzindo-se numa atuação humana que acredita ter a resposta para todas as perguntas. A principal consequência desta crença é a falta de ética que a atual organização social vê emergir.
A crença na chegada ao ápice do desenvolvimento humano mascara, porém, o caos que a humanidade imerge. O ideal de perfeição se vê negado por fatos que aterrorizam esta mesma humanidade. Nunca, ironicamente, se desprezou tanto a questão afetiva e os grandes problemas que atingem os homens vêm exatamente desta ordem. O mal de nosso século, a depressão, é o exemplo mais claro disto.

Outros problemas, como a frieza, a superficialidade nas relações interpessoais e o estresse, são sinais de uma sociedade “doente emocionalmente”.
Nosso tempo nutre a competição, a disputa, a rivalidade entre os mais diversos grupos, sejam eles torcidas de futebol, fãs deste ou daquele tipo de música, classes sociais, raças, e até mesmo grupos religiosos. As pessoas, cada vez mais se isolam, se sentem cada vez mais sozinhas. Este embrutecimento e insensibilidade atuais geram uma rede que podemos definir como “rede da insensibilidade”.
Assim, o filósofo francês Blaise Pascal (1623-1662) torna-se atual com seu pensamento ao nos fazer refletir na grandeza do ser humano como único ser capaz de ter consciência de sua existência, de pensar sobre suas relações com os outros homens, com a natureza, e também o único animal que sabe que irá morrer. Sabe a miséria deste mesmo ser humano, devido à sua imensa fragilidade.
Cabe à nossa era perceber que o ser humano ainda não chegou ao ápice de seu desenvolvimento, para que assim, este mesmo homem possa reconhecer sua limitação e repensar a sua existência, principalmente no nível social, abrindo possibilidades para o desenvolvimento de uma verdadeira sociedade solidária, algo muito distante da nossa realidade globalizada. Assim, o questionamento do deus-Homem, servido e projetado por outros “pequenos deuses” deve caber como uma proposta de reflexão para a humanidade e seus problemas no século que ainda alvorece.

Fonte: Psiqué, Ciência e Vida

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