domingo, 18 de abril de 2010

Atualidades na Dislexia do Desenvolvimento


O diagnóstico e intervenção precoces na dislexia podem minimizar os déficits e prevenir comorbidades como a depressão

Por Ricardo Franco de Lima - Cíntia Alves Salgado - Sylvia Maria Ciasca

Ricardo Franco de Lima é psicólogo com aprimoramento em Neurologia Infantil.
Mestrando em Ciências Médicas - FCM/UNICAMP.

Cíntia Alves Salgado é fonoaudióloga,
Doutoranda em Ciências Médicas - FCM/UNICAMP.


Sylvia Maria Ciasca é neuropsicóloga, livre- docente em Neurologia - FCM/UNICAMP.


A aprendizagem pode ser considerada um processo de alteração no comportamento decorrente de uma experiência.

É por meio de uma mudança observável no comportamento que podemos inferir a ocorrência da aprendizagem.
Para tanto, ela depende da conjugação de três importantes fatores:

a) Neurobiológicos - neurodesenvolvimento, integridade das funções cerebrais, aspectos sensoriais, funções neuropsicológicas e de processamento cerebral;
b) Sócioculturais - influência do contexto histórico cultural, escolar e familiar;
c) Psicoemocionais - influência de fatores pessoais, de personalidade, estados emocionais, estilos de aprendizagem, dentre outros.


As três partes salientadas na figura configuram as regiões das áreas posterior e anterior do hemisfério esquerdo do cérebro, relevantes para o sistema de leitura e fala

Durante o processo de aquisição das habilidades escolares da leitura/escrita, a criança pode apresentar algumas dificuldades.

As dificuldades de aprendizagem são queixas comuns na infância e adolescência e motivam grande parte dos encaminhamentos por professores e profissionais da saúde.

A análise de queixas dos casos atendidos no Ambulatório de Neuro-Dificuldades de Aprendizagem do Hospital das Clínicas da Unicamp demonstrou que 46% são decorrentes de dificuldades para aprendizagem (leitura, escrita e cálculo), 19% por desatenção e dificuldades de memória 15% por problemas de comportamento (comportamentos hiperativos, agressivos, opositores), 9% por dificuldades na fala (trocas e/ou omissões) 5% por dificuldades no relacionamento social e interpessoal (isolamento), 4% por problemas psicológicos (irritabilidade, tristeza, medos, ansiedade), e 2% por dificuldades motoras (coordenação motora).

Dos 69 casos analisados, foram identificados 57% de dificuldades escolares com origens diver-sas (quadros neurológicos, psicológicos e problemas pedagógicos), 30% de Distúrbios de Aprendizagem e 13% de Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (Lima et al., 2006).

DISTÚRBIO DE APRENDIZAGEM É UM TRANSTORNO QUE SE MANIFESTA DEVIDO A DISFUNÇÃO NO SISTEMA NERVOSO CENTRAL

A Organização Mundial de Saúde, no manual diagnóstico de Classificação Internacional das Doenças - CID -10 (OMS, 1992), denomina os Distúrbios de Aprendizagem na categoria F-81 "Transtornos Específicos do Desenvolvimento das Habilidades Escolares (TEDHE)" que se encontra no capítulo dos "Transtornos do Desenvolvimento Psicológico".

O National Joint Committe on Learning Disabilities (Hammill et al., 1988) define que o distúrbio de aprendizagem é um grupo de transtornos que se manifesta por dificuldades na aquisição e uso da escrita, fala, leitura, raciocínio ou habilidades matemáticas, sendo devido a uma disfunção do Sistema Nervoso Central. Conforme pode ser observado na definição acima, podemos considerar que há dois grandes grupos de Dificuldades de Aprendizagem (figura ao lado):

1) Dificuldades Escolares (DE) que podem ter como causas, as falhas no processo de alfabetização, inadequação do método pedagógico aos estilos e características de aprendizagem do aluno, excesso de mudanças de escolas, problemas escolares diversos (na dinâmica escolar), além de poderem ser resultantes de condições neurológicas diversas (epilepsia, paralisia cerebral e outros quadros neurológicos), deficiências em geral (física, mental, auditiva, visual, múltipla) e psicossociais (problemas na dinâmica familiar, estimulação inadequada e outros problemas sociais). É evidente que tais condições não são determinantes para que uma criança apresente uma dificuldade de aprendizagem, no entanto, irão influenciar o processo de aprendizagem.

2) Distúrbios de Aprendizagem (DA) caracterizados por uma disfunção no Sistema Nervoso Central e decorrentes de uma falha no processamento das informações. Desse modo, a criança recebe adequadamente as informações do meio externo (visuais, auditivas e cinestésicas), porém há uma falha na integração, processamento e armazenamento dessas informações resultando em problemas na "saída" das informações, sejam pela escrita, leitura ou cálculo.
O diagnóstico dos Distúrbios de Aprendizagem deve ser realizado por uma equipe multidisciplinar formada por profissionais das áreas: Psicologia/neuropsicologia, fonoaudiologia, neurologia, psiquiatria e até pedagogia, uma vez que o quadro pode ser acompanhado por alterações em funções diversas que comprometem a aprendizagem da criança, assim como, dependendo do caso, pode ser acompanhado por comordidades.

Fonte: Psiqué, Ciência e Vida.

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