sexta-feira, 16 de abril de 2010

Gilberto Dimenstein "As Melhores Coisas do Mundo"


"Fico feliz por não terem escutado meus palpites", diz Gilberto Dimenstein sobre "As Melhores Coisas do Mundo"
ALESSANDRO GIANNINI
Editor de UOL Cinema

O jornalista e educador Gilberto Dimenstein participa como arguidor de Sabatina da Folha
Autor em parceria com Heloísa Prieto da série de livros "Mano", que inspirou o filme "As Melhores Coisas do Mundo", o jornalista e educador Gilberto Dimenstein conta que quando a Warner do Brasil lhe propôs a adaptação, sua principal preocupação era criar uma obra que pudesse ser usada em sala de aula posteriormente para educar os jovens metropolitanos. "Há uma série de questões que não são discutidas com esses meninos e meninas nas escolas, que vão desde tolerância e aceitação das diferenças até violência - um elemento cada vez mais presente na vida das grandes cidades", explicou ele, em entrevista exclusiva por telefone ao UOL Cinema.

Dimenstein foi amplamente atendido. O filme de Laís Bodanzky não só lança um olhar para essa parcela de jovens metropolitanos de classe média que enfrenta cada vez mais cedo os problemas das grandes cidades como também coloca em discussão os temas urgentes que o jornalista discute semanalmente em suas colunas no jornal "Folha de S. Paulo" e na emissora de rádio CBN. "Eles [Laís e o marido e parceiro de trabalho dela, o roteirista Luís Bolognesi] pegaram os livros, estudaram e traduziram o espírito", disse ele. "Escreveram o roteiro e resolveram fazer uma imersão com alunos de alguns dos principais colégios de São Paulo. Foi um grande trabalho colaborativo."

A força de "As Melhores Coisas do Mundo" vem desse aspecto colaborativo e da mistura entre os jovens protagonistas, não-atores escolhidos por meio de testes em várias escolas, como Francisco Miguez e Gabriela Rocha, e atores veteranos, como Zécarlos Machado e Denise Fraga. Dimenstein se diz amplamente representado pelo filme e por eles, além de ser grato ao casal de cineastas por não terem escutado as suas sugestões. "Agradeço por eles terem me ouvido pouco", disse o jornalista e educador. "Pedi para não ver o roteiro, mas me mostraram mesmo assim, a contragosto. E fico feliz por não terem escutado os meus palpites, até porque acho que, se tivessem escutado, o filme correria o risco de ficar didático e politicamente correto."

"Bullying" e ética
Nesta quinta (15), um dia antes da estreia de "As Melhores Coisas do Mundo" nos cinemas, foi divulgado o mais completo relatório sobre o "bullying", como é chamado em língua inglesa o assédio e a violência entre jovens e estudantes, no Brasil. Para Dimenstein, é importante que o filme tenha sido lançado neste momento, pois é uma maneira de se discutir mais esse assunto para, inclusive, tentar evitá-lo. "É uma maneira de discutir a ética, pois é disso que se trata o 'bullying'", disse ele. "Tudo isso tem a ver com repetição de preconceitos, intolerância, dificuldade de entender o outro, opressão e violência. Essas coisas, que são problemas cada vez mais comuns nas grandes cidades, se repetem no microcosmo da escola. E é importante se discutir isso tudo."

Ao analisar os temas e questões propostos pelo filme, Dimenstein analisa que a ética se sobressai como pano de fundo. Para ele, o personagem de Mano lida o tempo todo com situações em que sua resposta exige uma postura nesse sentido. "Faz parte do processo de crescimento dele dentro da escola", disse. "O problema é que as escolas, muitas delas, têm dificuldade de discutir valores. São muito boas para discutir conteúdo, mas não funcionam na hora de falar dessas questões que são mais cotidianas."

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