Por Bruno Dias
O problema da falta da verdade está quando se oculta algo em busca de proteção ou quando se mente para manipular, tirar vantagem de alguém ou dada situação
Se todo enunciado pode ser verdadeiro ou falso, é preciso pensar nas possibilidades da mentira. De La Taille destaca as diferenças entre o erro da verdade e uma sincera mentira. Enquanto no plano do consciente, os conceitos verdade/mentira estão ligados a aspectos morais e cognitivos, no inconsciente psíquico, essa questão está mais próxima à noção de ilusão. "Um enunciado mentiroso pode ser por ignorância, déficit de raciocínio e compreensão do mundo. Já na Psicanálise, o tema é ligado à ilusão, ou seja, a uma afirmação que foge à verdade, mas é motivada por um desejo." Os erros vindos das mentiras que nós mesmos podemos inventar e acreditar acontecem pela vontade de tornar real o desejado. "É uma mentira que a pessoa faz a si mesma, motivada pela vontade de acreditar. Já no plano moral, a mentira tem o diferencial de saber o que é verdade e deliberadamente não a dizer, está para além do erro", explica o professor. É nesse aspecto que residem os principais problemas da falta da verdade: quando se oculta algo em busca de proteção ou quando se mente com o objetivo de manipular ou tirar vantagem de alguém ou de alguma situação.
A humanidade mente muito e desde cedo. No desenvolvimento da criança, os estudos de Piaget apontam que a compreensão das regras e dos aspectos necessários para o convívio em sociedade forma-se em etapas e consolida- se na mente infantil por volta dos sete anos. Antes disso, a criança ainda é totalmente egocêntrica, incapaz de assumir o ponto de vista do outro. A mentira funciona como brincadeira, um teste da sua relação com o universo que a cerca. O entendimento da responsabilidade pelos atos e opiniões, denominado autonomia moral, começa a se consolidar depois dos 11 anos.
No cérebro, a nova fronteira da verdade
Da pulsação tirada por Lombroso até a análise de freqüência de voz desenvolvida em Israel e exportada para o mundo, as tecnologias de detecção de mentiras são desenvolvidas pelas constantes pesquisas feitas com tecnologia de ponta. A última fronteira são os aparelhos de ressonância magnética adaptados para entender o funcionamento das estruturas neurais na construção da mentira.
Inventado no final da década de 1990, o mapeamento funcional por ressonância eletromagnética (Functional magnetic resonance imaging) foi desenvolvido pela Universidade de Columbia, nos EUA. Após descobertas sobre o funcionamento de áreas afetadas em doenças como Alzheimer, surgiu o interesse em estudar a atividade da mente na construção da linguagem. Segundo especialistas, é possível identificar as áreas cerebrais ativadas nos enunciados verdadeiros e falsos, demonstrando a evidência neurológica da mentira. O trabalho é feito em comparação com o mapeamento de pessoas sinceras e grandes mentirosos. As pesquisas apontam que o córtex pré-frontal demanda maior fluxo sanguíneo para gerar histórias inverídicas. Ao mesmo tempo, as áreas do hemisfério direito, ligadas às emoções, também são mais estimuladas no momento da mentira.
Desde 2007, pelo menos 50 institutos de pesquisas estadunidenses trabalham no aprimoramento da técnica para usos comerciais. Nos EUA, os polígrafos também não são aceitos nos tribunais superiores, mas podem ser utilizados como evidência em cortes estaduais. A segurança militar no combate ao terrorismo e áreas de inteligência e segurança empresarial utilizam largamente todas as tecnologias disponíveis no mercado.
Outro aparelho em pesquisa é um sensor infravermelho que atravessa o crânio e faz uma varredura no córtex. Mesmo com menor profundidade que a leitura feita pela ressonância magnética, pesquisadores da Universidade da Pensilvânia garantem que há 95% de chances de acompanhar o funcionamento cerebral e perceber alterações fora dos parâmetros da dita normalidade. O interesse comercial no equipamento é o uso discreto e imperceptível, podendo inclusive ser usado sem o conhecimento das pessoas em locais de grande movimentação, como aeroportos e estações de metrô.
Fonte: Psiqué, Ciência e Vida
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