sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Comportamento (Personalidade?) Infantil de Risco

BALLONE,Geraldo J.

Um tipo de comportamento infantil, quiçá algum traço marcante de personalidade (que deve ser corrigido), tem se mostrado mais vulnerável aos severos problemas de conduta no futuro. Trata-se do tipo "menino reizinho" ou "menina rainha". É uma atitude existencial infantil bastante problemática, que não existiria sem a colaboração expressa dos pais, avós, tios, enfim, da platéia de servos que rodeia a criança.

É fácil identificar esse tipo de criança. Ela não aceita nenhum limite, impõe sempre sua vontade e questiona veementemente a autoridade. Em casa, na escola e mesmo com seus amiguinhos e familiares, a criança-rei mantém relações interpessoais conflitivas. Impõe suas exigências e utiliza teatralmente os demais para obter seus desejos. Ao lado da habitual simpatia, necessária para que sua maneira de lidar com os outros seja eficiente, são sempre muito egocêntricos e não demonstram nenhum respeito para com os sentimentos e direitos das outras pessoas. Esse traço pode vir a ser um severo problema de conduta no futuro.

Há, entretanto, uma diferença entre a criança-rei e a criança simplesmente mimada. Esta, costuma ser uma criança privilegiada, tanto no plano material como na esfera afetiva, mas se comporta dentro dos limites estabelecidos para a vida gregária harmônica, enquanto a criança-rei impõe sua vontade por quaisquer meios; chantagem emocional, gritos e berros, birra, desobediência simples, mentiras, etc.

Um dos grandes obstáculos à melhora dessas crianças costuma ser a opinião de alguns familiares, normalmente avós, que consideram essa postura arrogante e egocêntrica como se tratasse de mérito ou qualidade desejáveis da personalidade (personalidade forte, como costumam dizer). Na realidade esse raciocínio é, muitas vezes, uma defesa contra o sentimento de impotência desses familiares diante do problema.

Ao contrário do que podem pensar as pessoas que convivem com as crianças que tiranizam todos à sua volta, elas não são, obrigatoriamente, felizes. Talvez serão menos felizes ainda no futuro, quando a realidade da vida impuser limites reais às suas condutas. Portanto, para boa saúde mental e boa capacidade de adaptação à vida em geral, é imprescindível definir limites nítidos, precisos e, sobretudo, sensatos sobre o que a criança (e pessoas em geral) pode e o que não pode. E essa tarefa deve começar o mais precocemente possível.

Uma das importantes funções do estabelecimento de limites é para a criança conhecer a frustração e se adaptar à realidade, mas essa tarefa só será possível quando os pais conhecerem a diferença entre "frustração" e "sofrimento". Tal distinção também será necessária para que se ensine à criança as noções de direitos e deveres, principalmente dos deveres. Ensinar a frustração significa ensinar a participar da vida cotidiana, a conviver com as outras pessoas e a superar os conflitos que, inexoravelmente, existirão durante toda a vida.

Fonte: PsiqWeb.med

Crianças Frustradas - Mito ou Realidade

BALLONE, Geraldo J.

Há um enorme conflito habitando a mente do homem moderno; por um lado, a necessidade quase imperiosa de ter sucesso, e atualmente isso significa, exclusiva-mente, sucesso financeiro. Por outro lado, o freqüente custo amargo desse sucesso.
Segundo uma tendência deteriorante da sociedade intelectóide, crianças não podem se frustrar. Se elas se sentirem diferentes de seus pares, se elas não tiverem os bens de consumo de seus coleguinhas, telefone celular, roupas de grife, dinheiro para bares, boates e afins, enfim, se elas não se inserirem totalmente no mundo consumista que contactuam na escola e na mídia, pode ocorrer uma enorme tragédia; ficam frustradas.

Diante dessa perspectiva lúgubre, os pais têm de dota-las dessa "penosa normalidade" e, para tal, têm que trabalhar muito. Às vezes tem que trabalhar o pai e a mãe e, com isso, na falta alguém para educar e orientar essas crianças, elas acabam indo parar em creches e pré-escolas. E nas creches e pré escolas o que lhes é ensinado? Bem, aí já é outra questão, muito mais longa. Além disso, essas crianças correm o risco de crescerem frustradas porque seus pais são, como se diz modernamente, ausentes.

As crianças, incluindo aqui adolescentes, que por sinal são crianças pioradas, reivindicam desde os 11-12 anos, direitos dos adultos. Elas sempre têm coleguinhas cujos pais deixam fazer de tudo, permitem tudo e dão tudo e, novamente para não crescerem frustradas, ou pior, revoltadas, recebem tudo. Depois que perdem a virgindade, se drogam e chegam em casa bêbadas, os pais se sentem culpados, novamente por terem sido ausentes. Para minimizar a culpa ou continuar furtando-se da árdua tarefa de educar, levam os filhos a psicólogos.

Agora pasmem: uma excelente reportagem intitulada Jovem sabe o que há de errado com a família, de autoria de Daniela Tófoli e publicado no Jornal da Tarde de 11/02/03 mostra-se que, na opinião dos jovens, o erro foi terem tido excesso de liberdade. Juntando essa pesquisa, sensata e, possivelmente, verdadeira, o conflito dos pais aumenta muito. O que faremos com tudo aquilo que ouvimos dos psicólogos, educadores, pediatras e psiquiatras a favor da liberdade aos filhos, agora que eles já estão no ápice dos problemas de conduta?

Algumas correntes mais fantasiosas chegam a defender a idéia de que o quarto do filho é seu espaço inviolável, que suas opções de indumentária sejam prontamente aceitas (incluindo aqui piercings, tatuagens e toda sorte de automutilação), e outras liberalidades semelhantes.
As correntes libertárias e irresponsáveis, porque nem sempre seus defensores são pais, se propagam pela mídia, desde o cinema até programas atuais como os Big Bro-thers da vida e são defendidas com furor de orgasmo por mães que anseiam, não apenas serem consideradas amigas dos filhos, como também pessoas bacanas, legais, modernas e qualquer outro adjetivo que as faça esquecer que estão envelhecendo.

Não dar liberdade aos filhos pode causar frustração, dar liberdade também, assim como dar tudo o que querem, que dizem também corromper seus futuros ou, ao contrário, não dar o que querem deixa-os revoltados.... Se os pais não se preocupam muito em ganhar dinheiro, preferindo ficar mais tempo em casa enriquecendo a convivência com os filhos e, conseqüentemente, porventura o menino não tenha dinheiro para passar as férias em Búzios com os amigos, também fica revoltado, dizendo que seus pais são perdedores, não souberam ter o sucesso que tiveram os pais dos amiguinhos. Se, por outro lado, os pais batalham na vida para que os filhos tenham dinheiro para passar as férias em Búzios, aí os pais serão ausentes, logo, os filhos são frustrados do mesmo jeito. Afinal, o que eles querem?

A grande armadilha da natureza, visando a preservação da espécie, é claro, foi fazer as pessoas acreditarem que com elas tudo será diferente, portanto, acabam tendo filhos também. E a mãe continuará tendo orgulho em se achar a melhor amiga dos filhos, esquecendo-se que amigos a gente escolhe. Talvez se ela se dedicasse a desempenhar seu papel original as coisas fossem diferente.

Algumas (sugerem-me colocar sempre esse algumas) mães não são as melhores amigas dos filhos; elas são cúmplices. Escondem do pai a maioria dos comportamentos reprováveis, são empresárias do marketing de suas filhas, "modelos ou atrizes em potencial" custe o que custar, ocultam a primeira bebedeira do filho e assim por diante.

Talvez, devido à inclinação de sentir-se sempre jovem, moderno e progressista, grande número de profissionais dedica-se a entender os adolescentes. Sua função seria plena de êxito se conseguissem fazer esses adolescentes queixosos de que ninguém os entende, entender que, de fato, ninguém tem obrigação de entendê-los. Seria meritosa sua função se convencessem os adolescentes, que vivem se queixando com o velho chavão de não terem pedido para nascer, de que seus pais também não pediram para nascer exatamente eles. Poderiam ter nascidos crianças melhores.

Em meu caso, longe de ser um consultório médico inusitado, tenho visto mais freqüentemente pais frustrados com os filhos do que o inverso. De qualquer forma, ao menos em termos de publicidade, tem sido bem menor o número de profissionais que se dedicam a compreender os pais frustrados. Não apenas frustrados porque não existe o Dia dos Adultos (como Dia das Crianças), mas também porque os pais dos amigos dos filhos são sempre melhores, porque todos (incluindo as mães cúmplices) gostariam que os pais fossem mais generosos com o dinheiro mas, ao mesmo tempo, recriminam qualquer tentativa de economizar o dinheiro suficiente para serem generosos... De fato, quando um adolescente se suicida, a sociedade tende a avaliar seus pais com olhos pouco compreensivos, mas o inverso, ou seja, quando um dos pais se suicida, ninguém olha seus filhos com malícia.

Fonte: PsiqWeb.med
Voltando ao tema original do capítulo, concluímos que, de fato, crianças e adolescentes podem sim estar frustradas com seus pais, na mesma ou menor proporção que os pais também se frustram com elas.

Ciúme Patológico

Texto sobre o Ciúme, transcrito do artigo de Laine Furtado, publicado na revista Linha Aberta, ano VIII, Ed. 63 de Novembro de 2003.

"Geraldo J. Ballone, especialista em psiquiatria pela ABP e professor do Departamento de Neuropsiquiatria da Faculdade de Medicina da PUCCAMP de 1980 à 2001, afirma que "em questões de ciúme, a linha divisória entre imaginação, fantasia, crença e certeza freqüentemente se torna vaga e imprecisa. "No ciúme as dúvidas podem se transformar em idéias supervalorizadas ou francamente delirantes.

Depois das idéias de ciúme, a pessoa é compelida à verificação compulsória de suas dúvidas. O ciumento verifica se a pessoa está onde e com quem disse que estaria, abre correspondências, ouve telefonemas, examina bolsos, bolsas, carteiras, recibos, roupas íntimas, segue o companheiro, contrata detetives particulares". Toda essa tentativa de aliviar sentimentos, além de reconhecidamente ridícula até pelo próprio ciumento, não ameniza o mal estar da dúvida.

Os ciumentos estão em constante busca de evidências e confissões que confirmem suas suspeitas mas, ainda que confirmada pelo companheiro, essa inquisição permanente traz mais dúvidas ainda ao invés de paz. Depois da capitulação, a confissão do companheiro nunca é suficientemente detalhada ou fidedigna e tudo volta à torturante inquisição anterior.

Existem alguns princípios e conceitos que podem ser de ajuda para a grande maioria de pessoas. A psicóloga Célia Bezerra, de Orlando, afirma que, de modo geral, o ciúme é uma emoção comum. De tempos em tempos somos levados a experimentar esse sentimento no campo do que poderíamos chamar "normal". E por ser uma emoção comum, se toma difícil em muitos casos distinguir entre o normal e o patológico. De modo geral resumimos o ciúme como um conjunto de emoções desencadeadas por sentimentos que ameaçam a estabilidade ou qualidade de um relacionamento íntimo valorizado, explicou. Ela disse que existem muitas definições de ciúme, mas geralmente encontramos três elementos em comum:

1) Ser uma reação frente a uma ameaça percebida.
2) haver um rival real ou imaginário
3) A reação visa eliminar os riscos da perda do " objeto" amado.

O psiquiatra Eduardo Ferreira Santos, autor do livro Ciúme, o medo da perda, que está sendo sucesso de vendas no Brasil, disse que existem quatro tipos de ciumentos: o zeloso, o enciumado, o ciumento e o delirante, capaz de matar caso se sinta traído. Ele afirma que se analisarmos mais detalhadamente o ciúme, podemos perceber, logo de início, que não se trata de um sentimento voltado para o outro, mas sim voltado para si mesmo, para quem o sente, pois é, na verdade, o medo que alguém sente de perder o outro ou sua exclusividade sobre ele. É um sentimento egocentrado, que pode muito bem ser associado à terrível sensação de ser excluído de uma relação. O normal, mais comum, é a pessoa sentir-se enciumada em situações eventuais nas quais, de alguma forma, se veja excluído ou ameaçado de exclusão na relação com o outro.

Eduardo afirma que em um grau maior de comprometimento emocional, quando há uma instabilidade neurótica ou de autoafirmação, a pessoa pode apresentar-se como ciumento. Neste caso, a sensação permanente de angústia e instabilidade, a insegurança em relação a si mesmo e ao outro, além da fragilidade da relação afetiva, podem levar a pessoa a manter um permanente "estado de tensão", temendo ser traído ou abandonado. Qualquer sinal do outro pode significar algo e a angústia da dúvida corrói a alma de quem é ciumento. Em uma terceira situação, ainda mais grave sob o ponto de vista de comprometimento do psiquismo, podem ocorrer situações delirantes em que a desconfiança do ciumento cede lugar a uma certeza infundada de que está mesmo sendo traído ou abandonado.

Mas como saber se o ciúme é normal ou doentio? O ciúme normal e transitório é baseado em fatos. O maior desejo seria preservar o relacionamento. No ciúme patológico há geralmente o desejo inconsciente da ameaça de um rival. Para algumas pessoas o ciúme é visto como zelo, sinal de amor ou valorização do parceiro; para outros é uma prova de insegurança e baixa auto-estima. Em ambos os casos existe uma gama de sofrimento para ambos os lados envolvidos.

Mas quando se trata do ciúme patológico é necessária uma intervenção profissional, porque existem muitos casos de mortes e tragédias familiares que apresentam como pano de fundo esta enfermidade.

Segundo Geraldo Ballone, o ciúme patológico é um grande desejo de controle total sobre os sentimentos e comportamento do companheiro. Há ainda preocupações excessivas sobre relacionamentos anteriores, as quais podem ocorrer como pensamentos repetitivos, imagens intrusivas e ruminações sem fim sobre fatos passados e seus detalhes. "O Ciúme Patológico é um problema importante para a psiquiatria, que envolve riscos e sofrimentos, podendo ocorrer em diversos transtornos mentais. Na psicopatologia o ciúme pode se apresentar de formas distintas, tais como idéias obsessivas, idéias prevalentes ou idéias delirantes sobre a infidelidade. No Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), o ciúme surge como uma obsessão, normalmente associada a rituais de verificação", explicou o psiquiatra.

Segundo ele, o ciúme considerado normal dá-se num contexto interpessoal, entre o sujeito e o objeto, enquanto o ciúme no Transtorno Obsessivo-Compulsivo seria intrapessoal, só dentro do sujeito. O ciúme normal envolveria sempre duas pessoas, e os pacientes melhorariam quando sem relacionamentos amorosos. No Ciúme Patológico o amor do outro é sempre questionado e o medo da perda é continuado, enquanto no amor normal (ou ideal) o medo não é prevalente e o amor não é questionado. No Transtorno Obsessivo-Compulsivo há sempre dúvida patológica com verificações repetidas, mesmo fenômeno que se observa no Ciúme Patológico. O medo da perda é também um sintoma proeminente no TOC, tanto quanto no Ciúme Patológico. Neste, a perda do ser amado não diz respeito à perda pela morte, como ocorre num relacionamento normal, mas o temor maior, o sofrimento mais assustador é a perda para outro.

Célia Bezerra afirma que, geralmente o que move o "ciumento" é um desejo de controle total sobre a outra pessoa. Mas, por mais controle que consiga nunca é suficiente. A pessoa que sofre deste "mal" está sempre à procura de confirmações para suas suspeitas através principalmente de confissões que nunca deixa satisfeita a pessoa ciumenta porque sempre surgem outras suspeitas. O ciumento vive um eterno sofrimento, e acaba experimentando stress, descontrole emocional, terminando por causar um tremendo clima de tensão e desajuste familiar, aliando a este clima cenas públicas constrangedoras para ela e para a família. Esse tipo de ciúme, nas palavras do médico e escritor Eduardo Ferreira Santos, é conhecido como "Síndrome de Otelo", em referência ao personagem shakespeariano que sofria deste mal, e pode levar a pessoa a cometer atos de extrema agressividade física, configurando aqueles casos que recheiam as crônicas policiais de suicídios e homicídios passionais.

Enquanto os casos mais brandos de ciúme podem ser uma manifestação de má estruturação da auto-estima, os intermediários refletirem estados neuróticos, os casos da "Síndrome de Otelo" são, indiscutivelmente causados por patologias psiquiátricas graves, as chamadas psicoses ou, ainda, por problemas neuropsiquiátricos como os diversos tipos de disritmia cerebral descritas na medicina.

Diante desse fato, como podemos nos prevenir da Síndrome de ateio e como podemos ajudar pessoas que sofrem com o excesso de ciúme? De qualquer forma, o complexo sentimento de ciúme, longe de ser aquele "condimento" que toma a relação amorosa mais "apetitosa", é um sentimento que leva, via de regra, ao sofrimento de quem o sente e, principalmente, de quem padece nas mãos de um ciumento desconfiado e agressivo. Nas palavras do escritor Eduardo Ferreira Santos, o ciúme é, em última análise, um SINAL DE ALERTA! É uma "luz vermelha" que se acende no painel da vida, indicando que algo está falhando. Seja em um ou no outro, seja na relação, algum "ruído" está denunciado pelo ciúme.

Quanto mais intenso e menos controlável maior o problema. Quanto maior a intensidade desse sentimento, mais estaremos ultrapassando os limites da normalidade, para, aos poucos, podermos ser devorados por uma obsessão capaz de destruir qualquer relacionamento."


Fonte: PsiqWeb.med

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Câncer e Emoção


É difícil alguém estar realmente preparado para o diagnóstico de câncer. Quando isso acontece a primeira atitude é de negação. Normalmente as pessoas custam muito a acreditar que aquele diagnóstico, culturalmente muito temido, esteja acontecendo exatamente com elas. Muito freqüentemente as pessoas duvidam que estejam lhes dizendo a verdade. É um momento de grande angústia, sensação de vazio e abandono, onde a introspecção proporciona uma revisão nos valores e na vida em geral, onde afloram lembranças de pessoas queridas ou conhecidas que, muito possivelmente serão deixadas para trás.

Posteriormente surge o medo, medo de morrer, de deixar pessoas queridas, de abandonar projetos futuros. Há uma forte angústia diante da possibilidade da dependência dos outros, do sofrimento futuro, quer pela doença, quer pelas conseqüências do tratamento. Mas todos esses sentimentos devem ser reavaliado ou orientado por profissionais para minimizar os efeitos do preconceitos sobre as emoções.

Em geral as pessoas acreditam que câncer é sinônimo de sofrimento e morte. É assim que o câncer e seus tratamentos constituem uma fonte de estresse, capaz de desencadear desordens de ajustamento nestes indivíduos problemas somáticos, psíquicos e sociais. Há trabalhos sobre o desenvolvimento de sintomas somáticos associados às preocupações emocionais e sociais relacionados à idéia do câncer, mais do que devidos ao câncer propriamente dito.

No entando, estudos sobre os aspectos clínicos e terapêuticas referentes a 895 casos de câncer de língua tratados no Hospital do Câncer A.C. Camargo, mostram que as chances de cura para os pacientes atendidos na década de 80 foram 40% maiores do que as dos pacientes tratados nas décadas de 50 e 60. Isto significa que atualmente os pacientes podem esperar possibilidades de cura muito maiores do que no passado, principalmente em função dos significativos progressos científicos e tecnológicos que ocorreram nas áreas de cirurgia, radioterapia e quimioterapia.(Veja).

A clínica comprova freqüentemente que as manifestações iniciais do câncer permanecem latentes, estacionárias por longo tempo, antes de manifestar-se morbidamente, dando oportunidade à intervenção terapêutica. As atuais possibilidades da medicina permitem afirmar que o câncer é curável, quando tratado no início. Por conta desse prognóstico progressivamente mais otimista os médicos devem se preocupar sempre em identificar e estimular condições que facilitem a adaptação de seus pacientes. Assim sendo, o tratamento psicológico, em pelo menos alguma extensão, será sempre benéfico.

É muito importante deixar claro o significado dos seguintes termos: Pesar e Pena. Estes sentimentos estarão presentes, de forma variada, nos familiares de pacientes com câncer e são termos que se usam, freqüentemente, com diferentes intenções (Rando, 1984).


Pesar
Pesar é o sentimento que surge como reação ao fato de ter sofrido uma perda. O Pesar identifica a situação específica das pessoas que tenham experimentado uma determinada perda (Corr, 1997), portanto, o Pesar é uma reação emocional específica a este determinado "objeto".

Devido à perda, se desenvolve uma grande quantidade de emoções, experiências e mudanças na vida psíquica da pessoa. A duração desse estado depende da intensidade da relação com a pessoa que morreu ("objeto" perdido). É bom sublinhar que o Pesar tem também um aspecto antecipatório, ou seja, supõe o aparecimento de emoções e sentimentos antecipadamente à perda (vai morrer).

Pena
A Pena é o processo normal de reação emocional à percepção (forte indício) de uma perda. As reações de Pena podem ser vistas nas respostas à perdas básicas ou tangíveis, como por exemplo a morte, ou a perdas abstratas e psicossociais, como por exemplo o divórcio, o emprego, etc.

Cada tipo de perda implica experimentar algum tipo de falta ou privação. Durante o processo que atravessa uma família que vivencia o câncer, se experimentam várias perdas e cada uma gera sua própria reação. As reações de Pena podem ser psicológicas, físicas, sociais e conflitos emocionais.

As reações psicológicas podem incluir a raiva, mágoa, culpa, ansiedade e tristeza. As reações físicas incluem dificuldade para dormir, mudanças no apetite, queixas ou doenças somáticas, enfim, sinais e sintomas relacionados ao Transtorno de Adaptação e Ajustamento. As reações sociais incluem os sentimentos experimentados ao ter que cuidar de outros membros da família, o desejo de ver ou não a determinados amigos ou familiares (isolamento), ou o desejo de regressar rapidamente ao trabalho. Este processo depende do tipo de relação que se teve com a pessoa que morreu. Lindenmam (1994) faz notar cinco características para essas reações:

1. - aflição somática,
2. - preocupação com a imagem da pessoa morta,
3. - culpa,
4. - reações hostis, e
5. - perda da conduta normal.

O conflito emocional, seja ele consciente o inconsciente, pode ser relacionado também à resposta cultural à perda. O processo de incorporar a perda na vida afetiva contrapõe aquilo que queremos, com aquilo que devemos e aquilo que conseguimos. O conflito é, por exemplo, a contraposição entre o fato de sabermos que a morte deve ser inevitável, até como decorrência normal de quem vive, mas mesmo assim não queremos, e nem conseguimos aplicar à realidade essa conotação racional. Muitos outros conflitos, mais complexos que esse do exemplo, podem estar presentes diante da perda de um ente querido.

No chamado Processo da Pena se incluem três tarefas necessárias para que a pessoa volte a reintegrar-se à sua vida normal. Estas atividades incluem:

1. - liberar-se dos laços com a pessoa falecida,
2. - reajustar-se ao ambiente onde a pessoa falecida já não está e
3. - formar novas relações.

Liberar-se dos laços com a pessoa falecida, implica que se deve modificar a "energia emocional" (o tônus afetivo) invertida na pessoa perdida. Isto não quer dizer, de forma alguma, que tenhamos deixado de amar a pessoa desaparecida, mas sim, que é possível agora dirigir os sentimentos e afetos a outros, em busca de uma satisfação emocional.

A morte desperta com freqüência evocações de perdas ou separações do passado. Bowlby (1961) descrevia três fases do processo de luto:

1. - a urgência de recuperar à pessoa perdida,
2. - a desorganização e desespero e, finalmente,
3. - a reorganização da vida.

Durante o processo de reajuste ambiental (reorganização da vida) tem-se que modificar as regras, os valores, a própria identidade e as habilidades para ajustar-se a um mundo onde o falecido já não está. Ao modificar a energia emocional, a energia que uma vez se concentrava na pessoa falecida, agora se concentra em outras pessoas ou outras atividades. Esse esforço adaptativo costuma requerer muita energia física e emocional e, não é raro, vermos pessoas atravessando essa fase experimentando uma fadiga avassaladora. Nessa fase, em se tratando de um estado depressivo, ou mesmo um Transtorno de Ajustamento, pode estar indicado um tratamento psiquiátrico medicamentoso e/ou psicoterápico.


A experiência de Perda e Pesar não é somente pela pessoa que faleceu, mas também por todos os planos, idéias e fantasias que não se levaram a cabo com a pessoa desaparecida. De qualquer forma, os processos de Perda e Pesar fazem parte normal do universo existencial humano, são normais na medida em que sugerem que os seres humanos necessitam apegar-se a outros para melhorar sua sobrevivência e reduzir o risco de dano.

As crianças e o pesar pela morte de um ente querido.
A reação de uma criança pela morte de um ente querido pode ser muito diferente da reação das pessoas adultas. As crianças de idade pré-escolar acreditam que a morte é temporária e reversível; esta crença está reforçada pelos personagens em desenhos animados que "morrem e revivem" várias vezes.

As crianças entre cinco e nove anos começam a pensar mais como adultos acerca da morte mas, todavia, não podem imaginar que eles ou alguém que eles conheçam possa morrer. Acrescenta-se, ao choque e à confusão que sofre a criança que tenha perdido seu irmão, irmã, pai ou mãe, a falta de atenção adequada de outros familiares que choram essa mesma morte e que não podem assumir adequadamente a responsabilidade de cuidar da criança.

Os pais devem estar conscientes de quais são as reações normais das crianças ante a morte de um familiar, assim como dos sinais de perigo emocional. De acordo com os psiquiatras de crianças e adolescentes, é normal que durante as semanas seguintes à morte, algumas crianças sintam uma tristeza profunda ou que acreditem que o ente querido continua vivo. Entretanto, a negação da morte por longo período, que serve para evitar as demonstrações de tristeza, não é saudável e pode resultar em problemas mais severos no futuro.

Não se deve obrigar a uma criança assustada a ir ao velório ou ao enterro, entretanto, se recomenda que se a faça participar de alguma cerimônia como, por exemplo, ascender uma vela, rezar uma prece ou visitar a sepultura.

Uma vez que a criança aceita a morte, é normal que manifeste sua tristeza, de vez em quando, ou mesmo por um período de tempo mais longo um pouco e, às vezes, em momentos inesperados. Seus parentes devem procurar passar todo o tempo possível com a criança e fazê-la saber claramente que tem permissão para manifestar seus sentimentos livremente e abertamente.

Se a pessoa morta era essencial para a estabilidade do mundo da criança, a raiva, ira ou revolta são reações naturalmente esperadas. Esta ira pode se manifestar em jogos violentos, pesadelos, irritabilidade ou numa variedade de outros comportamentos inadequados. Não é raro que essa criança se mostre com intolerância para com outros membros da família.

Depois da morte de um dos pais, muitas crianças agem como se tivessem idade menor (regressão). A criança temporalmente age de maneira mais infantil, exige comida na boca, quer atenção, carinho e fala "como um bebê".

As crianças menores acreditam que eles sejam a causa do que sucede em seu redor. O pequeno pode crer que seu pai, irmão, mão, etc., tenha morrido porque uma vez ele pode ter desejado que isso acontecesse. A criança se sente culpada porque acredita que seu desejo se realizou.

Alguns sinais de perigo emocional:

· um período prolongado de depressão durante o qual a criança perde interesse por suas atividades e eventos habituais
· insônia, perda do apetite e medo de ficar sozinho
· Regressão a uma idade mais precoce por um período longo de tempo
· Imitação excessiva da pessoa morta
· Dizer freqüentemente que quer ir-se com a pessoa morta
· Isolamento dos amiguinhos
· Deterioração pronunciada do rendimento nos estudos ou negar-se ir à escola.

Estes sintomas de aviso podem indicar que se necessita ajuda profissional. Um psiquiatra de crianças e adolescentes pode ajudar a criança a aceitar a morte, bem como assistir a sua família para que ajudem melhor a criança durante o processo de pesar e luto.


Lidando com as Fases (finais) da Doença Grave
Entender como outras pessoas enfrentam as doenças graves poderia ajudar ao paciente de câncer e sua família a preparar-se para lidar com suas próprias doenças. Pode-se dizer que a doença grave consta de quatro fases:

1. - a fase antes do diagnóstico,
2. - a fase aguda,
3. - a fase crônica, e
4. - a fase de recuperação ou morte.


A primeira fase, anterior ao diagnóstico, é quando o paciente se da conta ou suspeita de que corre o risco de desenvolver uma doença. Esta fase se estende por todo período em que a pessoa é submetida à exames, e termina no momento em que recebe o diagnóstico.

A fase aguda sucede durante o diagnóstico, quando a pessoa se vê forçada a entender o diagnóstico e tem que tomar uma serie de decisões acerca de seu cuidado médico.
A fase crônica se define como o período entre o diagnóstico e os resultados do tratamento, quando os pacientes tentam lidar com as demandas da vida cotidiana ao mesmo tempo em que recebem tratamento e tentam aceitar seus efeitos secundários.

Há algum tempo, o período entre o diagnóstico de câncer e a morte era de uns meses, geralmente passados no hospital. Entretanto, atualmente as pessoas podem viver muitos anos depois de receber um diagnóstico de câncer e de se submeterem a tratamento especializado.

Em seguida vem a fase de recuperação, durante a qual, as pessoas têm que enfrentar os efeitos psicológicos, sociais, físicos, religiosos e monetários do câncer.

A fase final ou terminal de uma doença grave ocorre quando a morte se converte em algo iminente. Neste momento se alteram os objetivos e, ao invés de se tentar a cura ou prolongar a vida do paciente, os esforços se concentram em ajudar a pessoa a se sentir mais confortável e mais aliviada de sofrimentos. As tarefas durante esta fase final, com freqüência, se enfocam no aspecto religioso.

fonte: www.psiqweb.med.br

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Sobre a Mentira

A mentira não deve ser entendida como uma espécie de contrário da verdade. Ética e moralmente a mentira está muito mais relacionada à intenção de enganar do que ao teor de deturpação da verdade e, juridicamente, a mentira está relacionada ao dolo ou prejuízo que causa a outra pessoa.

A mentira não é apenas invenção deliberada, uma ficção, pois nem toda ficção ou fábula é sinônimo de mentira. Não pode ser mentira a literatura, a arte ou mesmo a demência (sintoma da confabulação). A intencionalidade é que define a mentira, estabelece o dano ou dolo.

Assim sendo, não mente quem acredita naquilo que diz, mesmo que isto seja falso. Santo Agostinho declara que “Quem enuncia um fato que lhe parece digno de crença ou acerca do qual forma opinião de que é verdadeiro, não mente, mesmo que o fato seja falso”.

Considerarmos todas as formas de mentira, desde a mentira convencional de dizer Bom Dia às pessoas sem que, necessariamente, ansiamos para que ela tenha realmente um bom dia, passando pela mentira humanitária de consolar o moribundo, pela mentira carinhosa de achar que aquele vestido ficou muito bem na pessoa amada, o Papai Noel, ou a mentira por omissão, seja ela médica, política ou policial, enfim, todas essas maneiras de dissimular a verdade, entendemos melhor as pesquisas que mostram a mentira presente em todas as pessoas.

Mas, é o propósito com que falamos alguma coisa que definirá a mentira. Mentir seria dirigir a outro um enunciado falso, cujo mentiroso sabe conscientemente dessa falsidade, e o faz com objetivo de enganar, de levar esse outro a crer naquilo que é dito, dando a entender que diz a verdade.

Como dissemos, para mentir o que conta é a intenção e, voltando a Santo Agostinho, “não há mentira, apesar do que se diz, sem intenção, desejo ou vontade de enganar”. É a intenção que define se o que foi dito, verdadeiro ou falso, teve ou não o propósito de enganar. Aliás, excluindo-se o aspecto intencional de enganar que caracteriza a mentira, é mesmo muito difícil argüir se uma verdade é mais ou menos verdadeira, de forma a aceitarmos com facilidade a expressão “a verdade de cada um”. Isso é bem comentado quando estudamos as maneiras pessoais de representar a realidade, quando vimos o termo procepção.

Muitas vezes levadas pela insegurança de ser aceitas tal como são, as pessoas podem cair na tentação de enriquecer suas histórias e enaltecer suas habilidades de forma a causar uma impressão mais favorável em outras pessoas.

É assim, por exemplo, que um ladrão atribui-se mais roubos do que realmente tenha cometido para melhorar sua imagem diante dos companheiros de cadeia, ou o jovem que se vangloria de proezas sexuais muito além do que tenha feito, superando a insegurança de sentir-se pouco viril, ou a mãe que aumenta um pouco o desempenho escolar de seu filho, compensando assim o sentimento de inferioridade diante de outras mães satisfeitas com o rendimento dos filhos delas...

Além de atender diretamente as aspirações próprias, a mentira satisfaz também interesses de maneira indireta. É o caso, por exemplo, dos falsos rumores que diminuem, comprometem, execram pessoas que, de uma forma ou outra, nos ameaçam (às vezes ameaçam apenas nosso bem estar emocional). Mentir é um recurso fácil de se recorrer, sem necessidade de se passar por esforços ou penúrias, ainda que haja o permanente risco de ser descoberto.

O Mentiroso
Aprendemos desde cedo as vantagens da mentira. Ainda crianças aprendemos a dizer que a mãe não está em casa, quando ela quer evitar atender ao telefone. Cedo aprendemos os benefícios de um atestado médico forjado para comodidade de poder faltar às aulas de ginástica, e assim por diante. Ah! Não esquecendo das mentiras a que se obrigam os netos, quando os avós perguntam de quais avós gostam mais...

Mas o mentiroso também passa por dificuldades, e quanto mais cai na tentação de mentir, tanto mais difícil vai ficado controlar a abundante base de dados das versões de suas mentiras, mais difícil vai ficando garantir a coerência de suas estórias, mais necessidade de novas mentiras para encobrir as antigas.... a farsa cresce em progressão geométrica.

Não é possível para a psiquiatria estabelecer o estereótipo do mentiroso; cada caso é um caso. A maioria das pessoas se encaixa nos mentirosos fisiológicos, e a mais fisiológica das mentiras são os falsos elogios – “ora, você está sempre igual, parece não envelhecer...”. Esses mentirosos fisiológicos se servem das mentiras também para a elaboração das mais esfarrapadas desculpas – “não pude comparecer ao enterro porque uma tia minha teve que ser internada...” E o interessante é que o outro, igualmente mentiroso fisiológico, também mente, fingindo acreditar.

Diante dessa freqüência fisiologicamente humana há, naturalmente, uma tendência em banalizar a mentira, ou inocentemente classificar nossa mentirazinha cotidiana como sendo do tipo positiva, aquela que além de não prejudicar pode até ajudar pessoas (...o senhor me parece mais saudável hoje do que ontem... conheci seu filho, um jovem magnífico...), ou mentira negativa, aquela que prejudica.

Enfim, a mentira fisiológica pode até facilitar a integração social, e de tal forma que as pessoas com inata dificuldade para essas mentirinhas corriqueiras são tidas como ingênuas, socialmente pouco habilidosas, falta-lhes jeito ou, como se diz espertamente, não têm “jogo de cintura”.

Uma das razões interiores mais comuns para mentir é a insegurança ou baixa auto-estima. Como dissemos, a mentira passa ao outro uma imagem de nós próprios muito melhor do que de fato acreditamos ser. Mente-se também por razões externas, de acordo com as pressões para sucesso na vida em sociedade, por razões políticas ou até econômicas, quando o prejudicado for o fisco.

Finalmente há mentiras por razões patológicas, desde aquelas determinadas por uma personalidade problemática, até as outras, produzidas por neuroses francamente histriônicas, como é a Síndrome de Münchhausen e de Ganser.

Mentirosos contumazes, de dinâmica psíquica rica em conflitos e complexos, que representam personagens tal como fazem os atores, e refletem aquilo que gostariam de ser. Ao perderem o controle sobre o impulso de mentir o personagem criado suplanta o ego e a personalidade toda é tomada por um falso e inaltêntico ego.

Fonte: Psiqweb

Reações físicas e depressão

As pessoas reagem diferentemente às emoções em geral e à Depressão, em particular, inclusive em termos de eventuais doenças psicossomáticas.
Ao estudarmos o Afeto, entendemos haver uma espécie de filtro (exemplificados como lentes de óculos hipotéticos) através do qual os fatos e eventos são percebidos pelo indivíduo.
Isto faria distinguir situações percebidas como estressantes por alguns e não por outros.
A sensibilidade afetiva pessoal diante da vida exerce um efeito atenuante ou agravante aos eventos, efeito este que depende mais da própria personalidade que das circunstâncias. Isso definirá o modo de ser, de reagir, de enfrentar e de se adaptar ao estresse.
Assim sendo, podemos dizer que a elevação da pressão arterial diante do estresse, por exemplo, parece depender mais da avaliação pessoal (subjetiva) que o indivíduo faz da situação do que da própria situação, objetivamente considerada.
Alguns observadores notaram que os hipertensos tendem ao pessimismo, antecipando conseqüências negativas dos fatos, a interação interpessoal e social é por eles vivida como fonte de ansiedade e estresse.

Fonte: Psiqweb

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Discriminação leva jovens homossexuais ao suicídio

DIOGO BERCITE

"Eu sempre fui o melhor em tudo", diz Geraldo*, 19. Aluno dedicado e filho comportado, o garoto entrou em crise quando descobriu que é gay. "Vi que não seria o melhor em alguma coisa", diz.

De tanto ouvir que sua vida estava errada, ele acreditou. Há um ano, injetou ar no braço, à espera da morte. Foi socorrido no hospital.

A história de Geraldo é semelhante à de quatro adolescentes norte-americanos que se mataram em setembro passado, alertando o país inteiro para um tipo de preconceito que pode ser fatal.

As mortes levaram o presidente Barack Obama a gravar um vídeo para o site It Gets Better (isso melhora, em português). A campanha (bit.ly/itgets) reúne depoimentos cuja mensagem é simples: ser gay não é errado.

Ainda assim, os homossexuais são uma minoria que sofre discriminação. Às vezes, a níveis insuportáveis.

Foi assim com o estudante de biologia Henrique Andrade, 21, que no dia 22 foi chamado de "bicha" durante uma comemoração de alunos da USP. "Falaram que eu estava manchando a festa." Ele levou chutes e socos.

"A homofobia está na sociedade e faz com que o gay ache que ele vale menos do que os outros", explica Lula Ramires, coordenador do Grupo Corsa (corsa.wikidot.com), que defende a diversidade sexual. A discriminação surge como ingrediente-chave nas pesquisas que apontam para a relação entre homossexualidade, juventude e suicídio.

O bullying pode causar o que os psicólogos chamam de "egodistonia" --alguém não gostar de como é.

"É um sofrimento muito grande se sentir fora da norma", diz Alexandre Saadeh, psiquiatra do Hospital das Clínicas. "A discriminação, para alguém que é humilhado em casa, por exemplo, pode se tornar insuportável."

O namorado de Paulo, 20, pulou do sétimo andar

PAIS & AMIGOS

A aceitação ou não dos pais é um fator de peso, segundo Miguel Perosa, professor de psicologia da PUC-SP.

"O jovem pode sentir que não pertence a esse mundo que o discrimina", afirma.

"Suicídio passa pela minha cabeça todos os dias, está cada vez mais difícil", desabafa o técnico em farmácia Caio*, 22. Demitido na semana passada, ele diz que foi dispensado porque é gay. Nos corredores, ouvia colegas o chamarem de "veado".

"Me faz querer dar um fim a isso", diz. "Eu respiro fundo, mas o pensamento é forte." Há três anos, ele tomou veneno. Mas sobreviveu.

Psicólogos recomendam que jovens com ideias suicidas busquem ajuda profissional imediatamente. Amigos devem ficar por perto.

Outra sugestão é procurar entidades como o GPH (Grupo de Pais de Homossexuais, www.gph.org.br), que faz reuniões quinzenais para ouvir jovens gays.

Apesar de nunca ter tentado se matar, Paulo Souza, 20, participou desses encontros.

Há quatro anos, ele perdeu o namorado e amigo de infância que, aos 19 anos, pulou do sétimo andar.

"Ele achava que não tinha futuro sendo gay", conta.

Sucesso e felicidade, no entanto, independem de orientação sexual.

Entre gays assumidos estão Ian McKellen, um dos mais premiados atores britânicos (o Gandalf de "O Senhor dos Anéis") e Klaus Wowereit, prefeito de Berlim.

O ator brasileiro e gay assumido Evandro Santos, 35, diz que nunca pensou em suicídio. Famoso pelo papel de Christian Pior no "Pânico na TV", ele foi expulso de casa quando era adolescente.

"Sobrevivi por um sentimento de vingança. Queria ficar vivo para as pessoas verem que eu seria famoso."

Transtorno psíquico "burn out" ataca desiludidos com o próprio trabalho

GUILHERME GENESTRETI

Perfeccionismo é fator de risco para esta doença insidiosa, que ataca a motivação de gente que rala, sem distinção de cargos hierárquicos.

O "burn out", termo que em inglês designa a combustão completa, está incluído no rol dos transtornos mentais relacionados ao trabalho. Foi a terceira maior causa de afastamento de profissionais em 2009, segundo dados da Previdência Social.

A síndrome é bem mais que "mero" estado de estresse, não pode ser confundida.

Esse transtorno psíquico mescla esgotamento e desilusão. Pode ser desencadeado por uma exposição contínua a situações estressantes no trabalho, explica a psicóloga Ana Maria Rossi, presidente no Brasil da Isma (International Stress Management Association), entidade que pesquisa o "burn out".


O professor Cláudio Rodrigues, afastado por causa da doença, disse sentir que o seu trabalho "não vale a pena"

"A doença é gerada pela percepção de que o esforço colocado no trabalho é superior à recompensa. A pessoa se sente injustiçada e vai se alienando, apresentando sintomas como depressão, fobias e dores musculares."

É a doença dos idealistas, diz Marilda Lipp, do Centro Psicológico de Controle do Stress e professora de psicologia da PUC-Campinas.

"O 'burn out' é um desalento profundo, ataca pessoas dedicadas demais ao trabalho, que descobrem que nada daquilo pelo que se dedicaram valeu a pena."

O estresse, compara Lipp, tem um componente biológico forte, ligado a situações em que o corpo tem de responder ao perigo. Já o "burn out" é um estado emocional em que a pessoa não sente mais vontade de produzir.

"Tem a ver com o valor depositado no trabalho", diz Lipp. "Quem apresenta exaustão emocional, não se envolve mais com o que faz e reduz as ambições pode estar sofrendo do transtorno."

O diagnóstico não é fácil: a apatia gerada pelo "burn out" pode sugerir depressão ou síndrome do pânico.

Médicos, professores e policiais são grupos de risco, diz Duílio de Camargo, psiquiatra do trabalho ligado ao Hospital das Clínicas.

DESMAIOS

O professor Cláudio Rodrigues, 43, entrou em combustão total por duas vezes. Começou como um estresse, que foi se acumulando ao longo de dez anos.

Ele lecionava 13 horas por dia numa escola da zona sul de São Paulo. E se frustrava com salas lotadas e alunos desinteressados, conta.

"Via um aluno meu entregando pizza junto com alguém que nunca tinha estudado. Eu me sentia impotente como professor". Deprimido, se manteve afastado das salas por dois anos. Em 2004, depois de receber acompanhamento psiquiátrico e tomar medicação, voltou. Em maio deste ano, recaiu.

"Nada tinha mudado na escola, estrutura péssima. Eu me sentia responsável por estar levando todos os alunos a um caminho sem futuro."

No meio de uma aula, o professor começou a suar e sentir o corpo ficar mole. Saiu e desmaiou na escada. Na semana seguinte, enquanto caminhava para o trabalho, desmaiou de novo. Está afastado desde então.

"Sinto uma insatisfação por ver que o meu trabalho não vale a pena", desabafa.

A vigia Lucimeire Stanco, 34, também passou um tempo licenciada por causa de "burn out". Em 2006, ela fazia a ronda noturna em um colégio da zona leste. Passava a noite só e por duas vezes teve que se esconder quando tentaram invadir o lugar.

"Sentia desânimo porque não me tiravam daquela situação. Me sentia rejeitada, vítima." Ela se tratou e se readaptou. Hoje, só trabalha de dia, e acompanhada de outros vigias.

Casos como esses são tratados com psicoterapia e antidepressivos mas, segundo Marilda Lipp, a medicação só combate os sintomas.

"A pessoa precisa reavaliar o papel do trabalho em sua vida, aprender a dizer não quando não tem condições de executar algo e reconhecer o próprio valor, mesmo que outros não o façam."

FACA NA GARGANTA

"Eu era infeliz e não sabia", afirma a empresária Amália Sina, 45. Hoje ela é a dona do negócio, mas há quatro anos, era a vice-presidente, na América Latina, de uma multinacional e responsável pelas atividades da empresa em 22 países.

"Dava aquela impressão de que o mundo girava em torno do trabalho, sempre com a faca na garganta", diz.

Para a empresária, o apoio que teve da família e a prática de exercícios a ajudaram a suportar as pressões. Até ela deixar a função executiva.

A empresária adotou a estratégia correta para prevenir um "burn out", segundo o psiquiatra Duílio de Camargo. "A pessoa chega a esse estado sem saber o que tem. Se não tiver acolhimento da família, o desconforto aumenta."

Na visão de Eugenio Mussak, fisiologista e professor de gestão de pessoas, as providências para prevenir essa patologia do trabalho devem partir tanto do sujeito quanto da empresa.

Segundo Mussak, todo mundo que trabalha bastante deve se permitir algumas atividades diárias cuja única finalidade seja o prazer, para compensar o clima estressante. E se o ambiente de trabalho puder criar um "estado de férias", melhor ainda.

"Chefes compreensivos, que valorizam o esforço e respeitam os limites de seus subordinados criam um ambiente menos favorável ao "burn out'", diz o professor.

Ele continua: "É preciso respeitar o limite entre o que é profissional e o que é pessoal, e a empresa deve estimular o trabalhador a respeitar esses limites também."

Acesso a informações na internet cria o cybercondríaco

MARIANA PASTORE

Dor de cabeça ou tumor? Um sintoma cabe em muitas doenças e a confusão é comum, em tempos de doutor Google. Muita gente prefere "ele" à consulta médica, na busca da causa do mal-estar.

A hipocondria digital é um mal contemporâneo batizado de cybercondria. O fenômeno preocupa os médicos, porque além de causar autodiagnóstico e automedicação, pode evoluir para ansiedade e síndrome do pânico.

De acordo com pesquisas internas do Google, 61% dos americanos adultos buscam informações de saúde. A grande oferta de sites especializados colabora para a autossugestão.

Um exemplo é o site americano de informações de saúde WebMD, que disponibiliza uma animação do corpo humano para o autodiagnóstico. O usuário clica na região onde tem dor e ele abre uma tabela com sintomas que corresponderiam à determinada área e à doença relacionada.

A cybercondria, em diferentes graus, já aparece no cotidiano dos profissionais."Os pacientes já chegam ao consultório com informações da internet e ainda fazem buscas após a consulta", afirma Paulo Olzon, clínico-geral da Unifesp.

Alba Prizão, 27, desenvolveu distúrbios de ansiedade por causa do excesso de informação equivocada na rede.

O médico alerta os desavisados que determinado sintoma pode ser comum a dezenas de doenças e destaca a importância da relação de confiança entre médicos e pacientes. "Na hora que a pessoa fica sem referência, vai buscar por conta própria e acaba se atrapalhando."

FALSOS SINTOMAS

Aconteceu com a administradora de empresas Alba Prizão, 27. Ela desenvolveu distúrbios de ansiedade por causa, em grande parte, do excesso de informação equivocada na rede.

Alba começou as loucas buscas por sintomas e doenças depois que teve uma reação alérgica provocada por uma taça de vinho tinto. Ela conta: "Fui à farmácia, o farmacêutico disse para eu ir ao hospital tratar a reação. Falou que alergia pode evoluir para choque anafilático, mas que não era meu caso".

No pronto-socorro, a administradora foi diagnosticada com alergia e medicada, mas não chegou a ir a um médico. Começou a pesquisar sobre choque anafilático no computador e descobriu que era um problema sério.

Depois disso, foi parar no hospital diversas vezes com sintomas da reação alérgica. "Tinha sempre os mesmos: taquicardia, garganta fechando e tremedeira."

O psicoterapeuta e professor da PUC-SP Antonio Carlos Pereira explica que o corpo reage a situações criadas pelo cérebro: toda a fisiologia pode ser afetada por ideias, daí o risco de conclusões sobre doenças baseadas no dr. Google. Isso posto, ele defende o direito do paciente buscar na rede o significado do jargão usado pelo médico.

Alba deixou de usar xampu, desodorante e sabonete na época, por medo. "Tirei todas as conclusões pela internet, fuçava tudo."

Na última ida da moça ao pronto-socorro, uma médica disse que ele deveria consultar um psiquiatra, pois seu problema era psicológico. Alba foi diagnosticada com ataques de ansiedade.

O supervisor do programa de ansiedade do Instituto de Psiquiatria da USP Luiz Vicente de Mello explica que o medo desencadeia as histaminas, substâncias que nos defendem dos corpos estranhos que nos atacam. "Há relação entre o sistema de alergia e o de emoção. Quem é muito tenso desenvolve sintomas físicos, somáticos."

Hoje, os ataques de Alba cessaram e ela frequenta o especialista uma vez por semana. As buscas na rede diminuíram, mas o fácil acesso ainda lhe parece tentador. "Meus pais e meu médico me proibiram de entrar na internet para procurar doença. Tento não fuçar muito, mas ainda olho", entrega.

Mello afirma que as pesquisas on-line devem ser criteriosas. "Sites confiáveis, ligados a faculdades, ajudam a esclarecer. Já os alternativos podem fornecer informações errôneas e quem não conhece os termos técnicos pode confundir uma doença com outra e transformá-la em preocupação excessiva."

No Brasil, 10% a 15% da população sofre de ansiedade, segundo dados do Instituto de Psiquiatria da USP, enquanto apenas 2% a 4% são hipocondríacos.

Mas o interesse dos pacientes que sofrem desses dois distúrbios é o mesmo: descobrir se têm determinada doença. A ansiedade é tratada com antidepressivos e psicoterapia, enquanto a hipocondria, com terapia cognitiva comportamental.

A consulta médica deve ser soberana, de acordo com o supervisor do instituto. "O paciente não pode procurar nada sem avaliação clínica médica, senão é induzido a comprar remédios que podem fazer mal e ocultar uma doença mais grave."

sábado, 30 de outubro de 2010

Eros e Psique: a lenda

Psique era a mais nova de três filhas de um rei de Mileto e era extremamente bela. Sua beleza era tanta que pessoas de várias regiões iam admirá-la, assombrados, rendendo-lhe homenagens que só eram devidas à própria Afrodite.

Profundamente ofendida e enciumada, Afrodite enviou seu filho, Eros, para fazê-la apaixonar-se pelo homem mais feio e vil de toda a terra. Porém, ao ver sua beleza, Eros apaixonou-se profundamente.
O pai de Psique, suspeitando que, inadvertidamente, havia ofendido os deuses, resolveu consultar o oráculo de Apolo, pois suas outras filhas encontraram maridos e, no entanto, Psique permanecia sozinha. Através desse oráculo, o próprio Eros ordenou ao rei que enviasse sua filha ao topo de uma solitária montanha, onde seria desposada por uma terrível serpente. A jovem aterrorizada foi levada ao pé do monte e abandonada por seu pesarosos parentes e amigos. Conformada com seu destino, Psique foi tomada por um profundo sono, sendo, então, conduzida pela brisa gentil de Zéfiro a um lindo vale.
Quando acordou, caminhou por entre as flores, até chegar a um castelo magnífico. Notou que lá deveria ser a morada de um deus, tal a perfeição que podia ver em cada um dos seus detalhes. Tomando coragem, entrou no deslumbrante palácio, onde todos os seus desejos foram satisfeitos por ajudantes invisíveis, dos quais só podia ouvir a voz.

Chegando a escuridão, foi conduzida pelos criados a um quarto de dormir. Certa de ali encontraria finalmente o seu terrível esposo, começou a tremer quando sentiu que alguém entrara no quarto. No entanto, uma voz maravilhosa a acalmou. Logo em seguida, sentiu mãos humanas acariciarem seu corpo. A esse amante misterioso, ela se entregou.. Quando acordou, já havia chegado o dia e seu amante havia desaparecido. Porém essa mesma cena se repetiu por diversas noites.

Enquanto isso, suas irmãs continuavam a sua procura, mas seu esposo misterioso a alertou para não responder aos seus chamados. Psique sentindo-se solitária em seu castelo-prisão, implorava ao seu amante para deixá-la ver suas irmãs. Finalmente, ele aceitou, mas impôs a condição que, não importando o que suas irmãs dissessem, ela nunca tentaria conhecer sua verdadeira identidade.
Quando suas irmãs entraram no castelo e viram aquela abundância de beleza e maravilhas, foram tomadas de inveja. Notando que o esposo de Psique nunca aparecia, perguntaram maliciosamente sobre sua identidade. Embora advertida por seu esposo, Psique viu a dúvida e a curiosidade tomarem conta de seu ser, aguçadas pelos comentários de suas irmãs.


Seu esposo alertou-a que suas irmãs estavam tentando fazer com que ela olhasse seu rosto, mas se assim ela fizesse, ela nunca mais o veria novamente. Além disso, ele contou-lhe que ela estava grávida e se ela conseguisse manter o segredo ele seria divino, porém se ela falhasse, ele seria mortal.

Ao receber novamente suas irmãs, Psique contou-lhes que estava grávida, e que sua criança seria de origem divina. Suas irmãs ficaram ainda mais enciumadas com sua situação, pois além de todas aquelas riquezas, ela era a esposa de um lindo deus. Assim, trataram de convencer a jovem a olhar a identidade do esposo, pois se ele estava escondendo seu rosto era porque havia algo de errado com ele. Ele realmente deveria ser uma horrível serpente e não um deus maravilhoso.
Assustada com o que suas irmãs disseram, escondeu uma faca e uma lâmpada próximo a sua cama, decidida a conhecer a identidade de seu marido, e se ele fosse realmente um monstro terrível, matá-lo. Ela havia esquecido dos avisos de seu amante, de não dar ouvidos a suas irmãs.

A noite, quando Eros descansava ao seu lado, Psique tomou coragem e aproximou a lâmpada do rosto de seu marido, esperando ver uma horrenda criatura. Para sua surpresa, o que viu porém deixou-a maravilhada. Um jovem de extrema beleza estava repousando com tamanha quietude e doçura que ela pensou em tirar a própria vida por haver dele duvidado.
Enfeitiçada por sua beleza, demorou-se admirando o deus alado. Não percebeu que havia inclinado de tal maneira a lâmpada que uma gota de óleo quente caiu sobre o ombro direito de Eros, acordando-o.

Eros olhou-a assustado, e voou pela janela do quarto, dizendo:
- "Tola Psique! É assim que retribuis meu amor? Depois de haver desobedecido as ordens de minha mãe e te tornado minha esposa, tu me julgavas um monstro e estavas disposta a cortar minha cabeça? Vai. Volta para junto de tuas irmãs, cujos conselhos pareces preferir aos meus. Não lhe imponho outro castigo, além de deixar-te para sempre. O amor não pode conviver com a suspeita."

Quando se recompôs, notou que o lindo castelo a sua volta desaparecera, e que se encontrava bem próxima da casa de seus pais. Psique ficou inconsolável. Tentou suicidar-se atirando-se em um rio próximo, mas suas águas a trouxeram gentilmente para sua margem. Foi então alertada por Pan para esquecer o que se passou e procurar novamente ganhar o amor de Eros.
Por sua vez, quando suas irmãs souberam do acontecido, fingiram pesar, mas partiram então para o topo da montanha, pensando em conquistar o amor de Eros. Lá chegando, chamaram o vento Zéfiro, para que as sustentasse no ar e as levasse até Eros. Mas, Zéfiro desta vez não as ergueram no céu, e elas caíram no despenhadeiro, morrendo.

Psique, resolvida a reconquistar a confiança de Eros, saiu a sua procura por todos os lugares da terra, dia e noite, até que chegou a um templo no alto de uma montanha. Com esperança de lá encontrar o amado, entrou no templo e viu uma grande bagunça de grãos de trigo e cevada, ancinhos e foices espalhados por todo o recinto. Convencida que não devia negligenciar o culto a nenhuma divindade, pôs-se a arrumar aquela desordem, colocando cada coisa em seu lugar. Deméter, para quem aquele templo era destinado, ficou profundamente grata e disse-lhe:
- "Ó Psique, embora não possa livrá-la da ira de Afrodite, posso ensiná-la a fazê-lo com suas próprias forças: vá ao seu templo e renda a ela as homenagens que ela, como deusa, merece."
Afrodite, ao recebê-la em seu templo, não esconde sua raiva. Afinal, por aquela reles mortal seu filho havia desobedecido suas ordens e agora ele se encontrava em um leito, recuperando-se da ferida por ela causada. Como condição para o seu perdão, a deusa impôs uma série de tarefas que deveria realizar, tarefas tão difíceis que poderiam causar sua morte.

Primeiramente, deveria, antes do anoitecer, separar uma grande quantidade de grãos misturados de trigo, aveia, cevada, feijões e lentilhas. Psique ficou assustada diante de tanto trabalho, porém uma formiga que estava próxima, ficou comovida com a tristeza da jovem e convocou seu exército a isolar cada uma das qualidades de grão.
Como 2ª tarefa, Afrodite ordenou que fosse até as margens de um rio onde ovelhas de lã dourada pastavam e trouxesse um pouco da lã de cada carneiro. Psique estava disposta a cruzar o rio quando ouviu um junco dizer que não atravessasse as águas do rio até que os carneiros se pusessem a descansar sob o sol quente, quando ela poderia aproveitar e cortar sua lã. De outro modo, seria atacada e morta pelos carneiros. Assim feito, Psique esperou até o sol ficar bem alto no horizonte, atravessou o rio e levou a Afrodite uma grande quantidade de lã dourada.
Sua 3ª tarefa seria subir ao topo de uma alta montanha e trazer para Afrodite uma jarra cheia com um pouco da água escura que jorrava de seu cume. Dentre os perigos que Psique enfrentou, estava um dragão que guardava a fonte. Ela foi ajudada nessa tarefa por uma grande águia, que voou baixo próximo a fonte e encheu a jarra com a negra água.

Irada com o sucesso da jovem, Afrodite planejou uma última, porém fatal, tarefa. Psique deveria descer ao mundo inferior e pedir a Perséfone, que lhe desse um pouco de sua própria beleza, que deveria guardar em uma caixa. Desesperada, subiu ao topo de uma elevada torre e quis atirar-se, para assim poder alcançar o mundo subterrâneo. A torre porém murmurou instruções de como entrar em uma particular caverna para alcançar o reino de Hades. Ensinou-lhe ainda como driblar os diversos perigos da jornada, como passar pelo cão Cérbero e deu-lhe uma moeda para pagar a Caronte pela travessia do rio Estige, advertindo-a:
- "Quando Perséfone lhe der a caixa com sua beleza, toma o cuidado, maior que todas as outras coisas, de não olhar dentro da caixa, pois a beleza dos deuses não cabe a olhos mortais."

Seguindo essas palavras, conseguiu chegar até Perséfone, que estava sentada imponente em seu trono e recebeu dela a caixa com o precioso tesouro. Tomada porém pela curiosidade em seu retorno, abriu a caixa para espiar. Ao invés de beleza havia apenas um sono terrível que dela se apossou.
Eros, curado de sua ferida, voou ao socorro de Psique e conseguiu colocar o sono novamente na caixa, salvando-a.
Lembrou-lhe novamente que sua curiosidade havia novamente sido sua grande falta, mas que agora podia apresentar-se à Afrodite e cumprir a tarefa.

Enquanto isso, Eros foi ao encontro de Zeus e implorou a ele que apaziguasse a ira de Afrodite e ratificasse o seu casamento com Psique. Atendendo seu pedido, o grande deus do Olimpo ordenou que Hermes conduzisse a jovem à assembléia dos deuses e a ela foi oferecida uma taça de ambrosia. Então com toda a cerimônia, Eros casou-se com Psique, e no devido tempo nasceu seu filho, chamado Voluptas (Prazer).

Colégio internacional oferece bolsas de estudo fora do país

IURI DE CASTRO TÔRRES
DE SÃO PAULO

Ísis estudou na Itália e conheceu gente do mundo todo

A UWC (United World Colleges) está com inscrições abertas para quem quiser se candidatar a uma das sete bolsas de estudos para os 13 colégios que a instituição mantém no mundo. O prazo é até 19 de novembro.

Voltadas para alunos que estão concluindo o 1º ano do ensino médio, as bolsas podem ser integrais ou parciais. Os aprovados estudam por dois anos fora do Brasil.

Criada na década de 50 pelo educador alemão Kurt Hahn, foi concebida como um ambiente multicultural.

Os colégios são mantidos com doações e convênios. Têm apoio da ONU.

"Aprendi a ser mais tolerante", conta Ísis Semenzato, 19, que estudou na Itália.

Breno Maciel, 18, de Belo Horizonte, chegou à Índia em agosto do ano passado.

Ele conta que a adaptação foi difícil, mas, todos os alunos estavam na mesma situação, e isso ajudou.

"Somos uma família formada por 70 nacionalidades, milhares de ideias e incontáveis sonhos", diz Breno.

Segundo Helena Ungaretti, uma das coordenadoras da UWC no Brasil, o processo de seleção tem três etapas: prova escrita, entrevista pessoal e convívio.

O perfil dos alunos é variado, mas proatividade e facilidade de adaptação contam. Todos os alunos têm de fazer atividades físicas, artísticas e de voluntariado.

Mais informações no site da UWC: www.uwc.org.br.

Maioria dos brasileiros desconhece sintomas do AVC, alertam especialistas

DA AGÊNCIA BRASIL

A cada cinco minutos, um brasileiro morre por causa de um AVC (acidente vascular cerebral), segundo dados da ABN (Academia Brasileira de Neurologia), com base em informações do Ministério da Saúde. São quase 100.000 mortes por ano no Brasil. Nesta sexta-feira, no Dia Mundial de Combate ao AVC, especialistas alertam que a maioria dos brasileiros desconhece os sintomas da doença e não procura o médico.

Na maioria dos casos, o AVC, popularmente chamado de derrame, é causado pelo entupimento de uma artéria cerebral por um coágulo, impedindo o sangue de chegar a outras áreas do cérebro. "As pessoas esperam se vão melhorar e não procuram a emergência", alerta a integrante do Departamento de Doenças Cerebrovasculares da ABN, Sheila Martins.

Em 2008, uma pesquisa do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, da USP (Universidade de São Paulo), perguntou a 800 pessoas nas ruas das cidades de Ribeirão Preto, São Paulo, Salvador e Fortaleza quais os sintomas do AVC. Somente 15,6% dos entrevistados sabiam o significado da sigla. Ainda segundo a pesquisa, a maioria dos entrevistados confundiu a doença com paralisia, congestão, trombose ou nervosismo. Os sintomas de um AVC são fraqueza ou dormência súbita em um lado do corpo, dificuldade para falar, entender ou enxergar, tontura repentina e dor de cabeça muito forte sem motivo aparente.

Para o neurologista e coordenador da pesquisa, Octávio Marques Pontes, o brasileiro não encara o AVC como uma doença que necessita de imediato atendimento médico, porque acha que não existe tratamento. "A doença está presente na vida das pessoas, mas a maioria vê como sem tratamento", disse. Pontes informou que, desde 2001, está disponível na rede pública e privada o tratamento trombolítico, que consiste na aplicação de remédios para desobstruir a artéria e restabelecer o fluxo sanguíneo, considerado o método mais eficaz.

A recomendação é que o paciente inicie o tratamento cinco horas após o aparecimento dos primeiros sintomas. O atendimento rápido aumenta em 30% as chances de sobrevivência, segundo Pontes. Um levantamento da Associção Internacional de AVC (ISS,em inglês) constatou que 15% dos pacientes que tiveram um acidente vascular cerebral podem morrer ou sofrer novo problema no prazo de um ano.

Os especialistas alertam ainda que é possível prevenir o acidente vascular, desde que sejam adotados cuidados no decorrer da vida entre eles praticar exercícios físicos, ter alimentação saudável e evitar o fumo, o consumo de álcool, além de ficar em alerta com as taxas de pressão e do colesterol. A doença incide na população com mais de 65 anos, mas pode ocorrer em jovens e até recém-nascidos.

Além da prevenção, os médicos apontam a necessidade de ampliar a rede com tratamento específico para o AVC. Atualmente, 62 hospitais públicos e privados oferecem o tratamento adequado, contra 35 em 2008, segundo a neurologista Sheila Martins. "Temos ainda muito a fazer", alertou.

Em um ranking nacional feito pela neurologista, o Rio Grande do Sul aparece com a maior taxa de mortalidade por AVC no país 75 mortes por 100 mil habitantes. Em segundo lugar está o Rio de Janeiro, com 68 mortes por 100 mil habitantes, seguido pelo Piauí, por Pernambuco e pelo Paraná. O cálculo é baseado em estatísticas do Ministério da Saúde de 2007.

A Organização Mundial de AVC estima que uma em cada seis pessoas no mundo terá um acidente vascular cerebral na vida.

Risco de demência é 4 vezes maior entre idosos deprimidos

GUILHERME GENESTRETI

Idosos com depressão estão mais propensos à demência. O risco de desenvolver o quadro é quatro vezes maior nesses pacientes, segundo o psiquiatra Jerson Laks. Ele participa do Congresso Brasileiro de Psiquiatria, que vai até amanhã, em Fortaleza.

"A própria depressão, às vezes, é sinal de estágio inicial de demência", diz Laks, que coordena o centro de idosos do Instituto de Psiquiatria da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

Em torno de 60% dos pacientes com demência apresentam também quadros de depressão. "O diagnóstico para diferenciá-las é difícil e os médicos precisam estar preparados para suspeitar das duas doenças e tratá-las", alertou Laks. Fatores biológicos, como a progressiva atrofia do cérebro, e psicossociais, como isolamento, falta de suporte familiar, inatividade e exposição a situações de luto favorecem o aparecimento de distúrbios de humor nas pessoas mais velhas.

SEM TRATAMENTO

"No idoso, a depressão é diferente. E pode ser muito perigosa, porque aumenta ou agrava a incidência de problemas cardiovasculares.

A mortalidade de pacientes depressivos internados por causa dessas doenças é muito maior", diz Laks. O pior é que muitos idosos com depressão não são tratados. O diagnóstico não é feito, os sintomas são confundidos com os da própria velhice, segundo Sérgio Luis Blay, coordenador de psiquiatria geriátrica da Associação Brasileira de Psiquiatria.

"Pacientes e familiares pensam que tristeza e indisposição estão ligadas à idade e não buscam ajuda", diz Blay, alertando para a importância de consultar um médico em caso de mudança no comportamento do idoso.

PREVENÇÃO

Diagnosticada a depressão, o idoso deveria receber acompanhamento de grupos de apoio ou recorrer a sessões de psicoterapia. Falta suporte social para esse público, afirma Jerson Laks: "As famílias fazem tudo o que podem, mas faltam políticas públicas que informem sobre o problema e promovam centros de convivência para a terceira idade".

Os especialistas concordam que centros de convivência, grupos de reunião para práticas esportivas e viagens de lazer são muito importantes para prevenir a melancolia.

"Essas ações têm caráter mais social do que terapêutico, mas são essenciais, porque o isolamento e a inatividade podem desencadear a doença. Porém, se o problema já estiver instalado, é necessário contar com grupos de apoio e centros de saúde especializados, que são incipientes", afirma Blay.

"Não é só porque a pessoa é idosa que é normal ela ser depressiva. Esse estigma precisa mudar", conclui Laks. Com o estreitamento da pirâmide etária e o aumento do número de idosos, a depressão deve se tornar o maior desafio de saúde pública no futuro, segundo especialistas.

"A incidência de depressão entre idosos é muito alta e tende a ser crônica. Como é essa a faixa que mais cresce no mundo, a depressão será a doença mais preocupante", afirma Laks.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Violência psicológica cometida por familiares lidera ranking de violações aos direitos de crianças e adolescentes, revela pesquisa do Ceats/FIA

Estudo analisou 2.421 relatos de todo o país. Direito à alimentação é a segunda violação mais cometida

O Ceats (Centro de Empreendedorismo Social e Administração em Terceiro Setor), da FIA (Fundação Instituto de Administração) e a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República apresentam os resultados de pesquisa realizada sobre a aplicação do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) no livro "Retratos dos direitos da criança e do adolescente no Brasil: pesquisa de narrativas sobre a aplicação do ECA". A pesquisa foi realizada pela equipe técnica do Ceats com apoio da Secretaria de Direitos Humanos e a cessão do acervo do concurso Causos do ECA* do portal Pró-Menino pela Fundação Telefônica.

Para a pesquisa foi feita a análise das narrativas reais inscritas nas edições de 2005 a 2009 do concurso "Causos do ECA". O livro representa um retrato da realidade na perspectiva e no âmbito da visão de mundo dos próprios atores, no momento em que eles sentiram que poderiam ser os autores espontâneos das narrativas analisadas. Para a professora doutora Rosa Maria Fischer, coordenadora do Ceats, esta pesquisa retrata a importância do Estatuto para a promoção dos direitos da criança e do adolescente. "Este estudo ilumina os esforços dirigidos pelo Estado e pela sociedade para a superação de desafios presentes no âmbito da garantia dos direitos desses públicos no país de modo a tornar efetivo o Estatuto da Criança e do Adolescente para todas as camadas sociais", comenta.

A análise das 1.276 histórias que foram classificadas como violação de direitos revelou que a violência psicológica cometida por familiares ou responsáveis foi o tipo de violação de direitos assegurados pelo ECA que apresentou mais elevada frequência nessas narrativas: 36%. Os outros quatro tipos de violação de direitos mais frequentes foram: privação do direito de alimentação (34,3%), abandono (34,2%), violência física cometida por familiares/responsáveis (25,8%) e violação ao direito de higiene (25,0%).

Seguem abaixo as 20 violações de direitos da criança e do adolescente mais frequentes:

Violações %
1 Violência psicológica cometida por familiares/responsáveis 36,0
2 Violação do direito à alimentação 34,3
3 Abandono 34,2
4 Violência física cometida por familiares/responsáveis 25,8
5 Violação do direito à higiene 25,0
6 Ambiente familiar violento 19,3
7 Indivíduo fora da escola por motivos diversos 18,1
8 Pais/responsáveis que não providenciam encaminhamento para atendimento médico ou psicológico 15,1
9 Trabalho infantil 11,9
10 Violência ou abuso sexual cometido por familiares/responsáveis 10,7
11 Condições inadequadas para o trabalho do adolescente 8,8
12 Baixa frequência às aulas 7,7
13 Violência psicológica cometida por não familiares/responsáveis 7,3
14 Violência ou abuso sexual cometido por não familiares/ responsáveis 6,7
15 Violência cometida por pares 6,2
16 Ausência de registro de nascimento ou outros documentos 6,0
17 Impedimentos ou constrangimentos para frequentar espaços e localidades 5,8
18 Cárcere privado 5,3
19 Adoção ou guarda irregular ou ilegal 4,8
20 Trabalho escravo ou forçado 4,7

No que tange à violação de direitos, o estudo revelou, ainda:

O abuso sexual cometido por familiares/responsáveis e por não familiares é maior no caso de crianças e adolescentes do sexo feminino com, respectivamente, 19,1% e 11,1%. Os meninos, por sua vez, são mais frequentemente violentados no que se refere aos direitos de alimentação (33,1%), abandono (35,6%) e indivíduo fora da escola (21%).
· A violação dos direitos de acesso à cultura, ao esporte e ao lazer é citada com menor frequência.

Tabela - Tipos agrupados das violações mais frequentes nos causos

Direito ao respeito e à dignidade 64,3
Direito à convivência familiar e comunitária 51,6
Direito à vida e à saúde 47,6
Direito à educação 31,8
Direito à profissionalização e à proteção ao trabalho 19,4
Direito à liberdade 13,0
Direito à cultura, ao lazer e ao esporte 5,0


A pesquisa identificou ainda que crianças e adolescentes doentes ou com deficiência têm chances muito maiores de terem os direitos à vida e à saúde violados; que o direito ao respeito e à dignidade é violado quando os personagens das histórias estão em situação de exploração sexual, ou quando cometeram atos infracionais; e que o direito à educação é violado com maior frequência entre jovens que são autores de atos infracionais, crianças e jovens com deficiência e usuários de drogas e/ou álcool.

Os cruzamentos de dados apontam que problemas, carências e dificuldades familiares estão associados à vulnerabilidade da criança e do adolescente e podem aumentar a probabilidade de ocorrência de violações de direitos.
Outra questão de interesse diz respeito à abrangência da solução proposta nos relatos. Algumas geram mudanças que afetam vários contextos e pessoas, para além daqueles que protagonizam o causo. São exemplos disso: a fundação de uma associação que se torna geradora de benefícios para diversas famílias; a implementação de serviços como a instalação de UTIs em hospitais; a construção de estruturas adaptadas a deficientes em escolas e outras semelhantes.
A partir de casos individuais, pode ocorrer uma ação política ou social cuja abrangência permite ampliar a atenção preventiva, que é a mais eficaz no sentido de evitar outras violações e legitimar a aplicação do ECA. São ações que visam interferir nos fatores de vulnerabilidade que propiciam ou intensificam as situações de violação de direitos, aperfeiçoando o atendimento qualificado e assegurando a eficácia da proteção integral. Já como atores e órgãos de Sistema de Garantias dos Direitos da Criança e do Adolescente (SGDCA), o estudo revelou que, nos causos classificados como de violação de direitos, o Conselho Tutelar, Sistema de Justiça e Escola/Secretaria de Educação são os agentes frequentemente citados.

Frequência de menções a cada ator e órgão do SGDCAIdentificou-se ainda no levantamento que o Conselho Tutelar se destaca na atuação contra todos os tipos de violação. "Isso ocorre devido à proximidade que o Conselho mantém com a população, em virtude de sua própria função, da natureza de seus serviços e de sua responsabilidade por atendimentos imediatos e encaminhamentos, o que o torna mais visível e conhecido do público que necessita de atendimento", afirma Rosa Maria.

Na maioria das 595 narrativas classificadas como histórias de vida (35,1% dos causos dessa categoria) os direitos dos protagonistas foram assegurados pela própria família e através de ONGs/projetos sociais (28,7%). Figuram também, com um pouco menos de destaque, as escolas (23,9%), as unidades de medidas socioeducativas (18,6%) e o Conselho Tutelar (17,5%) como instâncias que propiciaram essa vigência do Estatuto. É interessante notar que a família aparece nos causos de violação de direitos como o local onde essas experiências são vividas pelas crianças e adolescentes que protagonizam a história. No entanto, nos causos de história de vida, a família é o principal veículo da promoção de direitos.

O livro "Retratos dos direitos da criança e do adolescente no Brasil" está disponível em http://www.fundacaofia.com.br/ceats/pesquisa_causos.pdf.

* Causos do ECA - Promovido pelo Portal Pró-Menino, da Fundação Telefônica, o Concurso Causos do ECA premia histórias verídicas que relatam como o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) ajudou a transformar a vida de meninos e meninas.

Sobre o CEATS:O Ceats (Centro de Empreendedorismo Social e Administração em Terceiro Setor) foi oficializado como um programa institucional da FIA (Fundação Instituto de Administração) em 1998, e tem a missão de "Gerar e disseminar conhecimentos e práticas de gestão em Empreendedorismo Social através de pesquisas, cursos e publicações focados no Desenvolvimento Socioambiental Sustentável". O Ceats acompanha e participa das mais modernas pesquisas no campo da gestão social. A área da infância e juventude tem sido uma temática permanente, sendo desenvolvidas pesquisas nacionais, estudos e programas de capacitação.

Sobre a FIA: eleita por três vezes, desde 2005, como a melhor Escola de Negócios do Brasil, a FIA, um dos mais conceituados e respeitados centros educacionais do País, possui 30 anos de atuação no setor. A entidade, credenciada junto ao MEC (Ministério da Educação), atua em três frentes: consultoria, pesquisa e educação, capacitando-a para desenvolver estudos e prestar serviços nos mais variados campos de especialização da Administração. Todos os MBAs oferecidos pela instituição alcançaram credenciamento junto à The Association of MBAs (AMBA), sediada em Londres, que referencia importantes escolas de negócios pelo mundo. Outro reconhecimento relevante foi concedido pelo jornal britânico Financial Times. O MBA Executivo, oferecido pela FIA, ocupa a posição de número 25 no ranking dos melhores MBAs Executivos das Américas, sendo o único MBA brasileiro na classificação elaborada pelo jornal, que destaca, ainda, a qualidade do grupo de alunos: o 6° mais experiente do mundo.


Fonte:Psique

Entidades alertam sobre preconceito contra portadores de psoríase

DA AGÊNCIA BRASIL

No Dia Nacional de Combate à Psoríase, entidades de dermatologia do Brasil alertam para o preconceito que portadores da doença sofrem. Um dos principais obstáculos encontrados pelos pacientes hoje é a falta de informação por parte da sociedade. Especialistas afirmam que, por causa do desconhecimento, algumas pessoas mantêm o distanciamento dos portadores, achando que a doença é transmissível.

A psoríase é uma doença inflamatória de pele, crônica, não contagiosa e de causa ainda desconhecida que afeta de 1% a 3% da população, conforme dados da Psoríase Brasil. Caracteriza-se pelo aparecimento de lesões róseas ou avermelhadas, cobertas de escamas secas e esbranquiçadas que aparecem, em geral, no couro cabeludo, nos cotovelos e joelhos, podendo, em alguns casos, espalharem-se por toda a pele. A doença pode se manifestar logo após o nascimento ou em idosos, mas o mais comum é o início entre a segunda e a quarta décadas de vida.

De acordo com o presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia no Distrito Federal, Gilvan Ferreira Alves, a população, ao tomar conhecimento de que a doença não é transmissível, pode ajudar o paciente a ter um tratamento mais eficaz e uma qualidade de vida melhor.

"Esteticamente a psoríase causa repulsa, com o surgimento de placas avermelhadas. A população, tomando conhecimento de que ter contato direto com o portador da psoríase não trará nenhuma possibilidade de contágio, contribuirá consideravelmente na condução do tratamento", ressalta.

Membro da Abrapse (Associação Brasiliense de Combate à Psoríase), Elias Barros descobriu há nove anos que é portador da doença. Segundo ele, a grande dificuldade, à época, foi a fase do diagnóstico. Barros afirma que hoje procura ajudar outras pessoas a entender que é possível manter a qualidade de vida sendo portador da psoríase.

"Demorou um certo tempo para diagnosticar que eu era portador da psoríase. À época precisei de acompanhamento psicológico, porque infelizmente não havia informações claras sobre a doença e o preconceito, embora ainda exista hoje, era muito maior. Hoje eu procuro ajudar outras pessoas que têm a doença, mostrando que é possível viver bem."

Para o presidente da Abrapse, Walber Rocha, o esclarecimento sobre a doença será sempre um fator importante no combate ao preconceito. "Acreditamos que os pacientes e a família precisam ter uma vida saudável, longe de qualquer tipo de preconceito. Mas, para que isso aconteça, o governo precisa intensificar as campanhas em parceria com as entidades, oferecendo informações que ajudem a mudar esse quadro de preconceito, alertando também para aqueles que têm a doença e simplesmente desconhecem".

No Brasil, a rede pública de saúde oferece tratamento aos portadores de psoríase. Em casos em que há danos psicológicos, eles são encaminhados a profissionais da área para acompanhamento. Em todo o país serão articuladas ações de conscientização do combate à doença.

O site Psoríase Brasil reúne associações que promovem palestras e divulgam informações sobre a psoríase. O usuário pode ter informações sobre o que é a doença e grupos de apoio que podem fazer um trabalho paralelamente ao tratamento dermatológico.

Anorexia e bulimia revelam-se como sintomas histéricos contemporâneos

Obra analisa sintomas histéricos e desejos no contemporâneo

Paralisias nos braços ou pernas, desmaios e até cegueiras caracterizavam os sintomas das mulheres histéricas da antiguidade. Espasmos corporais também identificavam e marcavam o destino dessas figuras. Em um dos exemplos mais extremos, na Idade Média, as histéricas eram associadas à figuras demoníacas, e por isso eram queimadas em praças públicas a fim de "libertar" e "purificar" suas almas.

Atualmente, casos como os relatados são menos frequentes, mas isso não quer dizer que ainda não ocorram ou que os sintomas se manifestem de outras formas. Como analisa a psicanalista Denise Maurano no livro "Histeria: o Princípio de Tudo", a histeria hoje assume novas roupagens, sem deixar de lado, contudo, problemas inconscientes e de dimensões traumáticas. Para a autora, os "novos velhos" sintomas são anorexia, bulimia, obesidade, pânico, depressão e mania, que aparecem nas mais variadas versões nas quais as pessoas tentam lidar de uma forma subjetiva e mascarada com a falta. E em tempos de capitalismo pulsante, reforça a profissional, quem não sente falta de "algo".

"A histeria acaba por revelar-se para ele (Freud) não como uma patologia qualquer, mas como um modo de subjetivação. Ou seja, um modo de estar no mundo, de fazer laços e de operar com o desejo, funcionando como uma curiosa defesa frente à falta inerente à condição humana, uma vez que viver é estar sempre em busca de algo", escreve a psicanalista.

Além de apresentar a origem do termo histeria e trazer fatos históricos de casos analisados e que fundamentaram os princípios da psicanálise, Maurano contextualiza os sintomas no contemporâneo, debatendo as pulsões, o trauma e as relações de desejo.

Leia trecho.

Aqui cabe a observação: em tempos de primazia da libido, portanto de apologia do objeto, não é ao acaso que a dita doença do pânico tome a cena, assim como tantos outros transtornos que poderiam ser denominados como relativos às relações de objetos. Nesse rol podemos incluir tanto a anorexia e a obesidade quanto as toxicomanias, o alcoolismo, a chamada síndrome do pânico.

Em seu parentesco próximo com a fobia, essa última revela-se sinal de alarme frente à angústia da confrontação não propriamente com um objeto, mas com a falta do Outro enquanto mediador, falta essa que o objeto fóbico vem recobrir, funcionando como recurso para delimitação do mundo no qual o sujeito arrisca perder-se.

Fonte: Livraria da Folha

Índice de suicídios no Brasil é problema de saúde pública, diz especialista

GUILHERME GENESTRETI

No Brasil, 25 pessoas se matam por dia, fazendo do país o 11º colocado no ranking mundial de suicídios, segundo dados da Organização Mundial da Saúde.

As informações foram divulgadas pelo psiquiatra Neury José Botega, professor da Unicamp, durante a 28ª edição do Congresso Brasileiro de Psiquiatria, que escolheu a prevenção do suicídio como um dos temas principais. O encontro, em Fortaleza, vai até sábado (30).

"A questão do suicídio é realmente um problema de saúde pública porque temos um alto índice de pessoas que estão passando por muito sofrimento e que poderiam ter sido ajudadas caso não tivessem se matado", afirmou à Folha.

Segundo ele, os dados de suicídio podem ser ainda maiores do que os divulgados oficialmente, já que não é raro que muitos casos acabem recebendo outra caracterização na certidão de óbito: "O medo de não receber o dinheiro do seguro pode fazer com que muitas famílias pressionem os médicos a atestar falência múltipla dos órgãos em vez de suicídio".

Botega afirma que o aumento dos casos de depressão e de consumo de álcool e drogas são sinais preocupantes e que podem justificar o aumento dos índices de suicídio, principalmente entre adultos jovens: "São pessoas entre os 25 e os 40 anos que estão numa fase produtiva da vida. A competitividade e a solidão nas grandes cidades são alguns dos pacotes de alta tensão social que favorecem a uma sensação de desamparo e aumentam as formas alternativas de sentir prazer, como recorrer às drogas e ao álcool."

Segundo ele, os sinais de que alguém está cogitando tirar a própria vida não podem ser ignorados: "Aqui não vale a máxima do 'cão que ladra não morde'. Muitas vezes a pessoa dá sinais, fala até mesmo vagamente em se matar, mas acaba não sendo levada a sério".

ESTRATÉGIA
O psiquiatra apresentou no congresso dados de uma pesquisa internacional realizada pela OMS de que ele participou, comparando estratégias de prevenção ao suicídio.

Ao todo, foram analisadas 1.867 pessoas que tentaram o suicídio em cinco cidades do mundo. Após terem alta do hospital, metade delas recebeu o tratamento usual --mero encaminhamento a um serviço de saúde-- e a outra metade teve um acompanhamento intensivo, com entrevistas motivacionais e contatos telefônicos periódicos por 18 meses.

Ao final do experimento, apenas 0,2% das pessoas que receberam acompanhamento intensivo chegaram a praticar o suicídio, taxa dez vezes menor do que no grupo que recebeu o tratamento usual.

"O contato telefônico periódico criava uma rede de apoio e ajudava a pessoa que já tinha tentado se matar a ressignificar o que havia acontecido na vida dela", diz.

O jornalista GUILHERME GENESTRETI viajou a convite da Associação Brasileira de Psiquiatria.

Fonte: Folha.com

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

“Normose”, um desconforto emocional estatisticamente comum.


“Normose”, um desconforto emocional estatisticamente comum.
O termo “Normose” é sugerido no livro “Normose: a patologia do normal”, do filósofo francês Jean-Yves Leloup. Trata-se de um desconforto emocional que acomete a pessoa, apesar de tudo estar absolutamente normal em sua vida, ou seja, apesar de estar tudo conforme as normas recomendadas para a felicidade. Aliás, estando tudo bem e normal, parece haver um fortíssimo apelo cultural para que a pessoa seja, obrigatoriamente, feliz.

Segundo Pierre Weil, a normose pode ser definida como o conjunto de normas, conceitos, valores, estereótipos, hábitos de pensar ou agir aprovados por consenso geral ou pela maioria em determinada sociedade e que pode provocar sofrimento, doença e morte.

A necessidade de se aprofundar na normose é exigência do cotidiano da clínica psiquiátrica. O paciente entra, senta na sua frente e diz: “- Doutor, de repente me vem um pensamento desconfortável, mais ou menos me questionando sobre o que estou fazendo aqui, uma angústia sobre o sentido de minha vida, um balanço meio pessimista sobre o que fiz esses anos todos...”.
Assim os psiquiatras são incomodados com uma dúvida: como vamos tratar quem não tem um diagnóstico psiquiátrico? Antes disso, aparece a dúvida sobre o emprego das palavras terapia, terapêutica, tratamento para a pessoa que não tem diagnóstico ou não está doente.

Apreciei o termo normose por ser adequado às situações do dia-a-dia de psiquiatras e psicólogos, no atendimento de pessoas queixosas de angústia, ansiedade, depressão e estresse sem que o quadro satisfaça critérios das classificações e manuais de psicopatologia, sem que se detecte uma causa aparente para esses transtornos. Não obstante, indiferentes aos critérios da psicopatologia esses pacientes se sentem mal ou, como me disse um deles, “- não que eu sinta algum mal estar doutor, mas sinto profundamente uma falta de bem estar”.

O professor Sérgio Cruz Lima, em artigo publicado no Diário Popular fala sobre o “Conjunto de normas, conceitos, valores, estereótipos, hábitos de pensar e agir, aprovados por consenso ou pela maioria em uma determinada sociedade e que provocam sofrimento, doença e morte” Trata-se da normose que é patológica e letal, executada sem que seus autores e atores tenham consciência de sua natureza doentia.

A despeito do consenso e conjunto cultural de normas existe, além da normose, a normalidade saudável, que enriquece o existir humano, assim como a normalidade neutra, que não leva ao sofrimento, mas também não acrescenta nada, como o hábito de almoçar ao meio-dia ou fazer amor aos sábados.

A conseqüência da normose faz o paciente experimentar uma sensação de culpa pelo mal estar existencial que sente apesar de tudo estar funcionando normalmente; ele não tem problemas profissionais expressivos, não tem problemas familiares excepcionais, não tem problemas de saúde, sociais, financeiros, enfim, de acordo com o hábito de pensar, sentir e agir recomendado pelo consenso social, tudo deveria estar bem. Não obstante, apesar de tudo estar objetivamente normal essa pessoa sofre, tem angústia, experimenta sentimentos de natureza doentia diante de procedimentos subjetivos.

O conflito e sensação de culpa por estar se sentindo mal apesar das coisas estarem aparentemente supernormais decorre da crença bastante enraizada, segundo a qual tudo o que a maioria das pessoas deseja, pensa, sente, acredita ou faz, deve ser considerado normal e, por conseguinte, deve servir de guia para a felicidade de todo mundo. Entretanto, a pessoa que está diante do psicólogo ou psiquiatra não se sente feliz, apesar de todos pensarem que ela deveria estar feliz.

NIILISMO, FRUSTRAÇÃO E NORMOSE
Diante desse mal estar normótico a pessoa pode apresentar um quadro emocional de frustração inespecífica ou um certo niilismo. Segundo Eunice Carvalho, niilismo significa uma perda de ideal pelo desaparecimento de uma referência desejável e mobilizadora, e se revela por uma atitude meramente contemplativa pelo desalento. O niilismo, segundo Rossano Pecoraro, é a desvalorização e morte do sentido, a ausência de finalidade e de resposta aos “porquês”. Como assinala ainda - "... (o niilismo), não só diagnostica a doença do nosso tempo, como tenta indicar um remédio".

Por um lado, o niilismo provém do desencanto causado pela profanização da cultura ocidental do mundo moderno, visto que as concepções religiosas ou outros valores se desintegram, por outro lado, o nihilismo surge numa espécie de momento da modernidade (pós-romantismo), também marcada pela ausência de valores absolutos.

Procuramos detectar uma atitude niilista em pacientes com o mal estar emocional normótico, parodiando esse niilismo da filosofia descrito brevemente acima. Principalmente porque o niilismo pode ser considerado um movimento negativo, quando faz prevalecer os traços destruidores, o declínio, o ressentimento, a incapacidade de avançar, a paralisia e o “vale-tudo” permitido.

É o desencantamento e a desesperança do niilismo o que mais chama atenção na atitude emocional da normose. Apesar de tudo estar normal, assustadoramente normal, há um desencantamento e uma desesperança na afetividade da pessoa que apresenta uma atitude normótica. Parece haver uma frustração retroativa, referente às coisas que não saíram como pretendido, uma frustração futura, referente às perspectivas pessimistas e uma frustração atual, porque o destino não coincide simultaneamente com a vontade.

Trazendo a afirmação de Pecoraro sobre “...a ausência de finalidade e de resposta aos “porquês” da normose, como conseqüência vemos que o paciente segue normas, conceitos, estereótipos e hábitos de pensar coletivos sem questionar a validade e o propósito disso tudo, sem procurar os “porquês”. Pessoas se conduzem como autômatos obedientes sem noção da finalidade de suas atitudes, com um grande espaço vazio onde deveria estar o ajuizamento e a valorização da existência. De fato, a frustração dispara de rédeas soltas.

A normose, que resulta de um conjunto de crenças, opiniões, atitudes e comportamentos considerados normais e em torno dos quais existe um consenso de normalidade, acaba tendo conseqüências patológicas e/ou letais. Na realidade temos efeitos nocivos da normose no meio ambiente por conta do uso de agrotóxicos e inseticidas, na área da saúde geral através do consumo de drogas, cigarro ou álcool, na área social onde se considera normal a banalização da violência e em quase todas as áreas da atividade humana, passando pela informática e pela moral.

Na psiquiatria os efeitos da normose dizem respeito à vacuidade existencial, ao vazio de valores, de propósitos, objetivos e metas. Alguns próprios sintomas anteriormente considerados francamente neuróticos hoje são tidos como normais.

FONTE: PSIQWEB

domingo, 26 de setembro de 2010

As crianças entendem ironia?

Um novo estudo diz que a partir dos 4 anos, elas entendem, sim.Exemplos não faltam para perceber como nós usamos a ironia no dia a dia. Basta descobrir o valor exorbitante da bolsa que sua amiga comprou e lá vem o comentário: baratinha, não? Ou quando se depara com seu filho no meio de uma bagunça com aquela cara de ‘não fui eu’, logo diz: não, claro que não, você é um anjo!

A ironia dá aquele tom de sarcasmo à nossa linguagem e, muitas vezes, é difícil de entender. Além do aspecto cultural, precisams de uma certa bagagem, digamos assim, para compreender determinadas piadas. Mas, de acordo com um estudo da Universidade de Montreal, no Canadá, publicado no Jornal Britânico de Psicologia e Desenvolvimento, crianças de 4 anos já são capazes de entender e usar a ironia. “Estudos anteriores haviam concluído que somente aos 8 anos, a criança seria capaz de entender o tom de sarcasmo. Mas eles foram feitos em laboratórios. Dessa vez, analisamos as crianças em suas casas, em um ambiente em que se sentem à vontade”, diz Stephanie Alexander, psicólogo e um dos autores da pesquisa.

Mas será que dá para generalizar? Para Ilan Brenman, escritor e doutor em educação, cada criança é diferente e a formação da sua personalidade é influenciada tanto pela genética quanto pelo ambiente em que ela vive. “O estudo canadense mostra que elas aprendem a ironia mais cedo. Faz sentido porque, hoje, elas recebem muitos mais estímulos. Mas, ainda assim, não dá para achar que todas as crianças de 4 anos vão entender esse conceito”, diz Ilan.

O melhor a fazer é oferecer um ambiente rico em estímulos para a criança. Mostrar variedade de músicas, instrumentos, filmes, cores, texturas, palavras, atividades, linguagens. Assim, ela vai aprender e ter bagagem para entender não só a ironia, mas todas as outras figuras de linguagem.

Fonte: CRESCER

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Sinais de autismo podem aparecer em bebês com 1 mês de vida


Pesquisa foi realizada com prematuros que permaneceram em UTI e revela anormalidades precoces em crianças que mais tarde foram diagnosticadas com o distúrbio
Diagnosticar precocemente o autismo é tão fundamental para o tratamento e o desenvolvimento das crianças que tem sido o grande desafio da medicina desvendar quando os primeiros sinais podem surgir. Um novo estudo, publicado na edição de setembro da revista científica Pediatrics, revelou que com apenas 1 mês de vida isso já seria possível.

Cientistas do New York State Institute for Basic Research in Developmental Disabilities estudaram 28 bebês de uma UTI neonatal que mais tarde foram diagnosticados com autismo, comparando-os com 112 bebês sem o distúrbio de comportamento. O comportamento e desenvolvimento dos bebês foram avaliados com 1 mês, aos 4 meses e, periodicamente, até completarem 2 anos.

Um dos resultados revelou que, com apenas um mês, 40 % das crianças que foram diagnosticadas com autismo posteriormente apresentaram anormalidades na maneira como visualizavam objetos e mais da metade tinham flexibilidade ou rigidez demais nos braços.

Segundo Antonio Carlos de Farias, neuropediatra do Hospital Pequeno Príncipe (PR), embora os sinais de alerta para autismo possam surgir em crianças tão novas, isso não quer dizer que ela desenvolva o distúrbio no futuro. “O diagnóstico não é tão simples, e deve ser feito por um especialista, mas os pais devem estar atentos desde cedo com o comportamento dos bebês. Em especial aqueles que não oscilam reação de fome ou frio, ficam muito quietos no berço, demonstram uma fixação maior pelo objeto que pelas pessoas e não têm costume de olhar nos olhos”, diz.

O especialista alerta que esse estudo foi feito com bebês prematuros de UTI, e outras pesquisam devem ser feitas com crianças nascidas a termo e diagnosticadas com autismo mais tarde para verificar se as anormalidades precoces seriam similares em crianças não-prematuras também.

Fonte: CRESCER