domingo, 20 de fevereiro de 2011

Pesquisas sobre as Causa de TOC

As pesquisas sobre a origem do TOC envolvem recursos da neuroimagem, neuroquímica, neuropsicologia e estudos genéticos. Em relação à neuroimagem, alguns trabalhos mostram anormalidades nas vias córtico-estriatal-talâmico em casos de TOC em adultos e crianças. Os estudos que avaliam alterações neurofisiológicas no TOC, tais como nas imagens funcionais, neuroimagens, nos tratamento farmacológico e eventuais terapias cirúrgicas sugerem que o TOC estaria relacionado a anormalidades orgânicas.

A tomografia com emissão de pósitrons (SPECT) revelou aumento do metabolismo da glicose no córtex orbito-frontal e pré-frontal, núcleo caudado direito e giro cingulado anterior em adultos e crianças com TOC, e o tratamento bem sucedido com fármacos inibidores da recaptação seletiva de serotonina que normaliza o metabolismo da glicose nessas regiões atenuam também a sintomatologia da doença. Muitos estudos farmacológicos e bioquímicos sugerem que as anormalidades nas atividades da serotonina e dos receptores serotoninérgicos do sistema nervoso central estão fortemente relacionadas ao Transtorno Obsessivo Compulsivo.

A sustentação preliminar para a "hipótese da serotonina" origina-se da observação que os inibidores da recaptação seletiva da serotonina (ISRS) são bastante eficientes para o TOC infantil e adulto. Alguns pesquisadores (Hanna, 1995) relacionam a duração e severidade de sintomas de TOC com níveis de prolactina (hormônio elaborado pela hipófise). Apesar das alterações anatômicas, microscópicas, bioquímicas, etc, não existe ainda um exame de laboratório que confirme a doença, como ocorre na psiquiatria em geral.

Os indivíduos com o transtorno podem apresentar maior atividade autonômica quando confrontados, em laboratório, com circunstâncias que ativam uma obsessão. A reatividade fisiológica diminui após a execução das compulsões.

Crianças com TOC exibem índices aumentados de sinais neurológicos leves, incluindo déficits no raciocínio não-verbal. Muitos destes sinais quando encontrados na infância podem ser um fator preditivo para o TOC no adulto. Os achados dos estudos da imagem, neurológicos e neuropsicológicos implicam em um predomínio das disfunções no hemisfério cerebral direito.
Sintomas do TOC Infantil

na infância as idéias obsessivas mais comuns têm como foco a contaminação ou germes, seguido pelo medo de alguma coisa de mal que possa acontecer para si ou para familiares, moralização ou religiosidade excessivas, incluindo pensamentos em pecados.

As compulsões mais comuns incluem rituais para andar (não pisar aqui e ali), lavagem excessiva, repetição, checagem, tocar, contar e ordenar.

Os rituais de lavagem (mãos, banho, escovação) chegam a ocorrer em uma freqüência de 85% das crianças com TOC. Com o passar do tempo a sintomatologia do TOC infantil pode mudar mas de modo geral o quadro clínico obedece aos sintomas relacionados na Tabela 1.

O declínio do rendimento escolar, conseqüente à diminuição da capacidade de concentração, pode ser uma valiosa pista para que os pais comecem a pensar em algum problema dessa natureza. Também alguns problemas dermatológicos devem chamar atenção, sobretudo as dermatites eczematóides, geralmente ocasionadas por lavagens excessivas com água ou detergentes. De modo geral a criança com TOC tem crítica da estranheza de suas atitudes e escondem essas “manias”, por isso elas procuram executar seus rituais em casa e não diante de professores ou estranhos.

O TOC, tanto em adultos como em crianças, é uma doença crônica, e de dois a catorze anos depois de feito o diagnóstico inicial, ainda não acontece eliminação de todos os sintomas em 43% a 68% dos casos, porém, cerca de 30% dos pacientes apresenta remissão espontânea depois de alguns anos de doença. Infelizmente, 10% dos pacientes têm piora progressiva e acabam por apresentarem múltiplas obsessões e compulsões, as quais mudam em conteúdo e severidade com o passar do tempo.

www.psiqweb.med.br

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Comportamento (Personalidade?) Infantil de Risco

BALLONE,Geraldo J.

Um tipo de comportamento infantil, quiçá algum traço marcante de personalidade (que deve ser corrigido), tem se mostrado mais vulnerável aos severos problemas de conduta no futuro. Trata-se do tipo "menino reizinho" ou "menina rainha". É uma atitude existencial infantil bastante problemática, que não existiria sem a colaboração expressa dos pais, avós, tios, enfim, da platéia de servos que rodeia a criança.

É fácil identificar esse tipo de criança. Ela não aceita nenhum limite, impõe sempre sua vontade e questiona veementemente a autoridade. Em casa, na escola e mesmo com seus amiguinhos e familiares, a criança-rei mantém relações interpessoais conflitivas. Impõe suas exigências e utiliza teatralmente os demais para obter seus desejos. Ao lado da habitual simpatia, necessária para que sua maneira de lidar com os outros seja eficiente, são sempre muito egocêntricos e não demonstram nenhum respeito para com os sentimentos e direitos das outras pessoas. Esse traço pode vir a ser um severo problema de conduta no futuro.

Há, entretanto, uma diferença entre a criança-rei e a criança simplesmente mimada. Esta, costuma ser uma criança privilegiada, tanto no plano material como na esfera afetiva, mas se comporta dentro dos limites estabelecidos para a vida gregária harmônica, enquanto a criança-rei impõe sua vontade por quaisquer meios; chantagem emocional, gritos e berros, birra, desobediência simples, mentiras, etc.

Um dos grandes obstáculos à melhora dessas crianças costuma ser a opinião de alguns familiares, normalmente avós, que consideram essa postura arrogante e egocêntrica como se tratasse de mérito ou qualidade desejáveis da personalidade (personalidade forte, como costumam dizer). Na realidade esse raciocínio é, muitas vezes, uma defesa contra o sentimento de impotência desses familiares diante do problema.

Ao contrário do que podem pensar as pessoas que convivem com as crianças que tiranizam todos à sua volta, elas não são, obrigatoriamente, felizes. Talvez serão menos felizes ainda no futuro, quando a realidade da vida impuser limites reais às suas condutas. Portanto, para boa saúde mental e boa capacidade de adaptação à vida em geral, é imprescindível definir limites nítidos, precisos e, sobretudo, sensatos sobre o que a criança (e pessoas em geral) pode e o que não pode. E essa tarefa deve começar o mais precocemente possível.

Uma das importantes funções do estabelecimento de limites é para a criança conhecer a frustração e se adaptar à realidade, mas essa tarefa só será possível quando os pais conhecerem a diferença entre "frustração" e "sofrimento". Tal distinção também será necessária para que se ensine à criança as noções de direitos e deveres, principalmente dos deveres. Ensinar a frustração significa ensinar a participar da vida cotidiana, a conviver com as outras pessoas e a superar os conflitos que, inexoravelmente, existirão durante toda a vida.

Fonte: PsiqWeb.med

Crianças Frustradas - Mito ou Realidade

BALLONE, Geraldo J.

Há um enorme conflito habitando a mente do homem moderno; por um lado, a necessidade quase imperiosa de ter sucesso, e atualmente isso significa, exclusiva-mente, sucesso financeiro. Por outro lado, o freqüente custo amargo desse sucesso.
Segundo uma tendência deteriorante da sociedade intelectóide, crianças não podem se frustrar. Se elas se sentirem diferentes de seus pares, se elas não tiverem os bens de consumo de seus coleguinhas, telefone celular, roupas de grife, dinheiro para bares, boates e afins, enfim, se elas não se inserirem totalmente no mundo consumista que contactuam na escola e na mídia, pode ocorrer uma enorme tragédia; ficam frustradas.

Diante dessa perspectiva lúgubre, os pais têm de dota-las dessa "penosa normalidade" e, para tal, têm que trabalhar muito. Às vezes tem que trabalhar o pai e a mãe e, com isso, na falta alguém para educar e orientar essas crianças, elas acabam indo parar em creches e pré-escolas. E nas creches e pré escolas o que lhes é ensinado? Bem, aí já é outra questão, muito mais longa. Além disso, essas crianças correm o risco de crescerem frustradas porque seus pais são, como se diz modernamente, ausentes.

As crianças, incluindo aqui adolescentes, que por sinal são crianças pioradas, reivindicam desde os 11-12 anos, direitos dos adultos. Elas sempre têm coleguinhas cujos pais deixam fazer de tudo, permitem tudo e dão tudo e, novamente para não crescerem frustradas, ou pior, revoltadas, recebem tudo. Depois que perdem a virgindade, se drogam e chegam em casa bêbadas, os pais se sentem culpados, novamente por terem sido ausentes. Para minimizar a culpa ou continuar furtando-se da árdua tarefa de educar, levam os filhos a psicólogos.

Agora pasmem: uma excelente reportagem intitulada Jovem sabe o que há de errado com a família, de autoria de Daniela Tófoli e publicado no Jornal da Tarde de 11/02/03 mostra-se que, na opinião dos jovens, o erro foi terem tido excesso de liberdade. Juntando essa pesquisa, sensata e, possivelmente, verdadeira, o conflito dos pais aumenta muito. O que faremos com tudo aquilo que ouvimos dos psicólogos, educadores, pediatras e psiquiatras a favor da liberdade aos filhos, agora que eles já estão no ápice dos problemas de conduta?

Algumas correntes mais fantasiosas chegam a defender a idéia de que o quarto do filho é seu espaço inviolável, que suas opções de indumentária sejam prontamente aceitas (incluindo aqui piercings, tatuagens e toda sorte de automutilação), e outras liberalidades semelhantes.
As correntes libertárias e irresponsáveis, porque nem sempre seus defensores são pais, se propagam pela mídia, desde o cinema até programas atuais como os Big Bro-thers da vida e são defendidas com furor de orgasmo por mães que anseiam, não apenas serem consideradas amigas dos filhos, como também pessoas bacanas, legais, modernas e qualquer outro adjetivo que as faça esquecer que estão envelhecendo.

Não dar liberdade aos filhos pode causar frustração, dar liberdade também, assim como dar tudo o que querem, que dizem também corromper seus futuros ou, ao contrário, não dar o que querem deixa-os revoltados.... Se os pais não se preocupam muito em ganhar dinheiro, preferindo ficar mais tempo em casa enriquecendo a convivência com os filhos e, conseqüentemente, porventura o menino não tenha dinheiro para passar as férias em Búzios com os amigos, também fica revoltado, dizendo que seus pais são perdedores, não souberam ter o sucesso que tiveram os pais dos amiguinhos. Se, por outro lado, os pais batalham na vida para que os filhos tenham dinheiro para passar as férias em Búzios, aí os pais serão ausentes, logo, os filhos são frustrados do mesmo jeito. Afinal, o que eles querem?

A grande armadilha da natureza, visando a preservação da espécie, é claro, foi fazer as pessoas acreditarem que com elas tudo será diferente, portanto, acabam tendo filhos também. E a mãe continuará tendo orgulho em se achar a melhor amiga dos filhos, esquecendo-se que amigos a gente escolhe. Talvez se ela se dedicasse a desempenhar seu papel original as coisas fossem diferente.

Algumas (sugerem-me colocar sempre esse algumas) mães não são as melhores amigas dos filhos; elas são cúmplices. Escondem do pai a maioria dos comportamentos reprováveis, são empresárias do marketing de suas filhas, "modelos ou atrizes em potencial" custe o que custar, ocultam a primeira bebedeira do filho e assim por diante.

Talvez, devido à inclinação de sentir-se sempre jovem, moderno e progressista, grande número de profissionais dedica-se a entender os adolescentes. Sua função seria plena de êxito se conseguissem fazer esses adolescentes queixosos de que ninguém os entende, entender que, de fato, ninguém tem obrigação de entendê-los. Seria meritosa sua função se convencessem os adolescentes, que vivem se queixando com o velho chavão de não terem pedido para nascer, de que seus pais também não pediram para nascer exatamente eles. Poderiam ter nascidos crianças melhores.

Em meu caso, longe de ser um consultório médico inusitado, tenho visto mais freqüentemente pais frustrados com os filhos do que o inverso. De qualquer forma, ao menos em termos de publicidade, tem sido bem menor o número de profissionais que se dedicam a compreender os pais frustrados. Não apenas frustrados porque não existe o Dia dos Adultos (como Dia das Crianças), mas também porque os pais dos amigos dos filhos são sempre melhores, porque todos (incluindo as mães cúmplices) gostariam que os pais fossem mais generosos com o dinheiro mas, ao mesmo tempo, recriminam qualquer tentativa de economizar o dinheiro suficiente para serem generosos... De fato, quando um adolescente se suicida, a sociedade tende a avaliar seus pais com olhos pouco compreensivos, mas o inverso, ou seja, quando um dos pais se suicida, ninguém olha seus filhos com malícia.

Fonte: PsiqWeb.med
Voltando ao tema original do capítulo, concluímos que, de fato, crianças e adolescentes podem sim estar frustradas com seus pais, na mesma ou menor proporção que os pais também se frustram com elas.

Ciúme Patológico

Texto sobre o Ciúme, transcrito do artigo de Laine Furtado, publicado na revista Linha Aberta, ano VIII, Ed. 63 de Novembro de 2003.

"Geraldo J. Ballone, especialista em psiquiatria pela ABP e professor do Departamento de Neuropsiquiatria da Faculdade de Medicina da PUCCAMP de 1980 à 2001, afirma que "em questões de ciúme, a linha divisória entre imaginação, fantasia, crença e certeza freqüentemente se torna vaga e imprecisa. "No ciúme as dúvidas podem se transformar em idéias supervalorizadas ou francamente delirantes.

Depois das idéias de ciúme, a pessoa é compelida à verificação compulsória de suas dúvidas. O ciumento verifica se a pessoa está onde e com quem disse que estaria, abre correspondências, ouve telefonemas, examina bolsos, bolsas, carteiras, recibos, roupas íntimas, segue o companheiro, contrata detetives particulares". Toda essa tentativa de aliviar sentimentos, além de reconhecidamente ridícula até pelo próprio ciumento, não ameniza o mal estar da dúvida.

Os ciumentos estão em constante busca de evidências e confissões que confirmem suas suspeitas mas, ainda que confirmada pelo companheiro, essa inquisição permanente traz mais dúvidas ainda ao invés de paz. Depois da capitulação, a confissão do companheiro nunca é suficientemente detalhada ou fidedigna e tudo volta à torturante inquisição anterior.

Existem alguns princípios e conceitos que podem ser de ajuda para a grande maioria de pessoas. A psicóloga Célia Bezerra, de Orlando, afirma que, de modo geral, o ciúme é uma emoção comum. De tempos em tempos somos levados a experimentar esse sentimento no campo do que poderíamos chamar "normal". E por ser uma emoção comum, se toma difícil em muitos casos distinguir entre o normal e o patológico. De modo geral resumimos o ciúme como um conjunto de emoções desencadeadas por sentimentos que ameaçam a estabilidade ou qualidade de um relacionamento íntimo valorizado, explicou. Ela disse que existem muitas definições de ciúme, mas geralmente encontramos três elementos em comum:

1) Ser uma reação frente a uma ameaça percebida.
2) haver um rival real ou imaginário
3) A reação visa eliminar os riscos da perda do " objeto" amado.

O psiquiatra Eduardo Ferreira Santos, autor do livro Ciúme, o medo da perda, que está sendo sucesso de vendas no Brasil, disse que existem quatro tipos de ciumentos: o zeloso, o enciumado, o ciumento e o delirante, capaz de matar caso se sinta traído. Ele afirma que se analisarmos mais detalhadamente o ciúme, podemos perceber, logo de início, que não se trata de um sentimento voltado para o outro, mas sim voltado para si mesmo, para quem o sente, pois é, na verdade, o medo que alguém sente de perder o outro ou sua exclusividade sobre ele. É um sentimento egocentrado, que pode muito bem ser associado à terrível sensação de ser excluído de uma relação. O normal, mais comum, é a pessoa sentir-se enciumada em situações eventuais nas quais, de alguma forma, se veja excluído ou ameaçado de exclusão na relação com o outro.

Eduardo afirma que em um grau maior de comprometimento emocional, quando há uma instabilidade neurótica ou de autoafirmação, a pessoa pode apresentar-se como ciumento. Neste caso, a sensação permanente de angústia e instabilidade, a insegurança em relação a si mesmo e ao outro, além da fragilidade da relação afetiva, podem levar a pessoa a manter um permanente "estado de tensão", temendo ser traído ou abandonado. Qualquer sinal do outro pode significar algo e a angústia da dúvida corrói a alma de quem é ciumento. Em uma terceira situação, ainda mais grave sob o ponto de vista de comprometimento do psiquismo, podem ocorrer situações delirantes em que a desconfiança do ciumento cede lugar a uma certeza infundada de que está mesmo sendo traído ou abandonado.

Mas como saber se o ciúme é normal ou doentio? O ciúme normal e transitório é baseado em fatos. O maior desejo seria preservar o relacionamento. No ciúme patológico há geralmente o desejo inconsciente da ameaça de um rival. Para algumas pessoas o ciúme é visto como zelo, sinal de amor ou valorização do parceiro; para outros é uma prova de insegurança e baixa auto-estima. Em ambos os casos existe uma gama de sofrimento para ambos os lados envolvidos.

Mas quando se trata do ciúme patológico é necessária uma intervenção profissional, porque existem muitos casos de mortes e tragédias familiares que apresentam como pano de fundo esta enfermidade.

Segundo Geraldo Ballone, o ciúme patológico é um grande desejo de controle total sobre os sentimentos e comportamento do companheiro. Há ainda preocupações excessivas sobre relacionamentos anteriores, as quais podem ocorrer como pensamentos repetitivos, imagens intrusivas e ruminações sem fim sobre fatos passados e seus detalhes. "O Ciúme Patológico é um problema importante para a psiquiatria, que envolve riscos e sofrimentos, podendo ocorrer em diversos transtornos mentais. Na psicopatologia o ciúme pode se apresentar de formas distintas, tais como idéias obsessivas, idéias prevalentes ou idéias delirantes sobre a infidelidade. No Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), o ciúme surge como uma obsessão, normalmente associada a rituais de verificação", explicou o psiquiatra.

Segundo ele, o ciúme considerado normal dá-se num contexto interpessoal, entre o sujeito e o objeto, enquanto o ciúme no Transtorno Obsessivo-Compulsivo seria intrapessoal, só dentro do sujeito. O ciúme normal envolveria sempre duas pessoas, e os pacientes melhorariam quando sem relacionamentos amorosos. No Ciúme Patológico o amor do outro é sempre questionado e o medo da perda é continuado, enquanto no amor normal (ou ideal) o medo não é prevalente e o amor não é questionado. No Transtorno Obsessivo-Compulsivo há sempre dúvida patológica com verificações repetidas, mesmo fenômeno que se observa no Ciúme Patológico. O medo da perda é também um sintoma proeminente no TOC, tanto quanto no Ciúme Patológico. Neste, a perda do ser amado não diz respeito à perda pela morte, como ocorre num relacionamento normal, mas o temor maior, o sofrimento mais assustador é a perda para outro.

Célia Bezerra afirma que, geralmente o que move o "ciumento" é um desejo de controle total sobre a outra pessoa. Mas, por mais controle que consiga nunca é suficiente. A pessoa que sofre deste "mal" está sempre à procura de confirmações para suas suspeitas através principalmente de confissões que nunca deixa satisfeita a pessoa ciumenta porque sempre surgem outras suspeitas. O ciumento vive um eterno sofrimento, e acaba experimentando stress, descontrole emocional, terminando por causar um tremendo clima de tensão e desajuste familiar, aliando a este clima cenas públicas constrangedoras para ela e para a família. Esse tipo de ciúme, nas palavras do médico e escritor Eduardo Ferreira Santos, é conhecido como "Síndrome de Otelo", em referência ao personagem shakespeariano que sofria deste mal, e pode levar a pessoa a cometer atos de extrema agressividade física, configurando aqueles casos que recheiam as crônicas policiais de suicídios e homicídios passionais.

Enquanto os casos mais brandos de ciúme podem ser uma manifestação de má estruturação da auto-estima, os intermediários refletirem estados neuróticos, os casos da "Síndrome de Otelo" são, indiscutivelmente causados por patologias psiquiátricas graves, as chamadas psicoses ou, ainda, por problemas neuropsiquiátricos como os diversos tipos de disritmia cerebral descritas na medicina.

Diante desse fato, como podemos nos prevenir da Síndrome de ateio e como podemos ajudar pessoas que sofrem com o excesso de ciúme? De qualquer forma, o complexo sentimento de ciúme, longe de ser aquele "condimento" que toma a relação amorosa mais "apetitosa", é um sentimento que leva, via de regra, ao sofrimento de quem o sente e, principalmente, de quem padece nas mãos de um ciumento desconfiado e agressivo. Nas palavras do escritor Eduardo Ferreira Santos, o ciúme é, em última análise, um SINAL DE ALERTA! É uma "luz vermelha" que se acende no painel da vida, indicando que algo está falhando. Seja em um ou no outro, seja na relação, algum "ruído" está denunciado pelo ciúme.

Quanto mais intenso e menos controlável maior o problema. Quanto maior a intensidade desse sentimento, mais estaremos ultrapassando os limites da normalidade, para, aos poucos, podermos ser devorados por uma obsessão capaz de destruir qualquer relacionamento."


Fonte: PsiqWeb.med

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Câncer e Emoção


É difícil alguém estar realmente preparado para o diagnóstico de câncer. Quando isso acontece a primeira atitude é de negação. Normalmente as pessoas custam muito a acreditar que aquele diagnóstico, culturalmente muito temido, esteja acontecendo exatamente com elas. Muito freqüentemente as pessoas duvidam que estejam lhes dizendo a verdade. É um momento de grande angústia, sensação de vazio e abandono, onde a introspecção proporciona uma revisão nos valores e na vida em geral, onde afloram lembranças de pessoas queridas ou conhecidas que, muito possivelmente serão deixadas para trás.

Posteriormente surge o medo, medo de morrer, de deixar pessoas queridas, de abandonar projetos futuros. Há uma forte angústia diante da possibilidade da dependência dos outros, do sofrimento futuro, quer pela doença, quer pelas conseqüências do tratamento. Mas todos esses sentimentos devem ser reavaliado ou orientado por profissionais para minimizar os efeitos do preconceitos sobre as emoções.

Em geral as pessoas acreditam que câncer é sinônimo de sofrimento e morte. É assim que o câncer e seus tratamentos constituem uma fonte de estresse, capaz de desencadear desordens de ajustamento nestes indivíduos problemas somáticos, psíquicos e sociais. Há trabalhos sobre o desenvolvimento de sintomas somáticos associados às preocupações emocionais e sociais relacionados à idéia do câncer, mais do que devidos ao câncer propriamente dito.

No entando, estudos sobre os aspectos clínicos e terapêuticas referentes a 895 casos de câncer de língua tratados no Hospital do Câncer A.C. Camargo, mostram que as chances de cura para os pacientes atendidos na década de 80 foram 40% maiores do que as dos pacientes tratados nas décadas de 50 e 60. Isto significa que atualmente os pacientes podem esperar possibilidades de cura muito maiores do que no passado, principalmente em função dos significativos progressos científicos e tecnológicos que ocorreram nas áreas de cirurgia, radioterapia e quimioterapia.(Veja).

A clínica comprova freqüentemente que as manifestações iniciais do câncer permanecem latentes, estacionárias por longo tempo, antes de manifestar-se morbidamente, dando oportunidade à intervenção terapêutica. As atuais possibilidades da medicina permitem afirmar que o câncer é curável, quando tratado no início. Por conta desse prognóstico progressivamente mais otimista os médicos devem se preocupar sempre em identificar e estimular condições que facilitem a adaptação de seus pacientes. Assim sendo, o tratamento psicológico, em pelo menos alguma extensão, será sempre benéfico.

É muito importante deixar claro o significado dos seguintes termos: Pesar e Pena. Estes sentimentos estarão presentes, de forma variada, nos familiares de pacientes com câncer e são termos que se usam, freqüentemente, com diferentes intenções (Rando, 1984).


Pesar
Pesar é o sentimento que surge como reação ao fato de ter sofrido uma perda. O Pesar identifica a situação específica das pessoas que tenham experimentado uma determinada perda (Corr, 1997), portanto, o Pesar é uma reação emocional específica a este determinado "objeto".

Devido à perda, se desenvolve uma grande quantidade de emoções, experiências e mudanças na vida psíquica da pessoa. A duração desse estado depende da intensidade da relação com a pessoa que morreu ("objeto" perdido). É bom sublinhar que o Pesar tem também um aspecto antecipatório, ou seja, supõe o aparecimento de emoções e sentimentos antecipadamente à perda (vai morrer).

Pena
A Pena é o processo normal de reação emocional à percepção (forte indício) de uma perda. As reações de Pena podem ser vistas nas respostas à perdas básicas ou tangíveis, como por exemplo a morte, ou a perdas abstratas e psicossociais, como por exemplo o divórcio, o emprego, etc.

Cada tipo de perda implica experimentar algum tipo de falta ou privação. Durante o processo que atravessa uma família que vivencia o câncer, se experimentam várias perdas e cada uma gera sua própria reação. As reações de Pena podem ser psicológicas, físicas, sociais e conflitos emocionais.

As reações psicológicas podem incluir a raiva, mágoa, culpa, ansiedade e tristeza. As reações físicas incluem dificuldade para dormir, mudanças no apetite, queixas ou doenças somáticas, enfim, sinais e sintomas relacionados ao Transtorno de Adaptação e Ajustamento. As reações sociais incluem os sentimentos experimentados ao ter que cuidar de outros membros da família, o desejo de ver ou não a determinados amigos ou familiares (isolamento), ou o desejo de regressar rapidamente ao trabalho. Este processo depende do tipo de relação que se teve com a pessoa que morreu. Lindenmam (1994) faz notar cinco características para essas reações:

1. - aflição somática,
2. - preocupação com a imagem da pessoa morta,
3. - culpa,
4. - reações hostis, e
5. - perda da conduta normal.

O conflito emocional, seja ele consciente o inconsciente, pode ser relacionado também à resposta cultural à perda. O processo de incorporar a perda na vida afetiva contrapõe aquilo que queremos, com aquilo que devemos e aquilo que conseguimos. O conflito é, por exemplo, a contraposição entre o fato de sabermos que a morte deve ser inevitável, até como decorrência normal de quem vive, mas mesmo assim não queremos, e nem conseguimos aplicar à realidade essa conotação racional. Muitos outros conflitos, mais complexos que esse do exemplo, podem estar presentes diante da perda de um ente querido.

No chamado Processo da Pena se incluem três tarefas necessárias para que a pessoa volte a reintegrar-se à sua vida normal. Estas atividades incluem:

1. - liberar-se dos laços com a pessoa falecida,
2. - reajustar-se ao ambiente onde a pessoa falecida já não está e
3. - formar novas relações.

Liberar-se dos laços com a pessoa falecida, implica que se deve modificar a "energia emocional" (o tônus afetivo) invertida na pessoa perdida. Isto não quer dizer, de forma alguma, que tenhamos deixado de amar a pessoa desaparecida, mas sim, que é possível agora dirigir os sentimentos e afetos a outros, em busca de uma satisfação emocional.

A morte desperta com freqüência evocações de perdas ou separações do passado. Bowlby (1961) descrevia três fases do processo de luto:

1. - a urgência de recuperar à pessoa perdida,
2. - a desorganização e desespero e, finalmente,
3. - a reorganização da vida.

Durante o processo de reajuste ambiental (reorganização da vida) tem-se que modificar as regras, os valores, a própria identidade e as habilidades para ajustar-se a um mundo onde o falecido já não está. Ao modificar a energia emocional, a energia que uma vez se concentrava na pessoa falecida, agora se concentra em outras pessoas ou outras atividades. Esse esforço adaptativo costuma requerer muita energia física e emocional e, não é raro, vermos pessoas atravessando essa fase experimentando uma fadiga avassaladora. Nessa fase, em se tratando de um estado depressivo, ou mesmo um Transtorno de Ajustamento, pode estar indicado um tratamento psiquiátrico medicamentoso e/ou psicoterápico.


A experiência de Perda e Pesar não é somente pela pessoa que faleceu, mas também por todos os planos, idéias e fantasias que não se levaram a cabo com a pessoa desaparecida. De qualquer forma, os processos de Perda e Pesar fazem parte normal do universo existencial humano, são normais na medida em que sugerem que os seres humanos necessitam apegar-se a outros para melhorar sua sobrevivência e reduzir o risco de dano.

As crianças e o pesar pela morte de um ente querido.
A reação de uma criança pela morte de um ente querido pode ser muito diferente da reação das pessoas adultas. As crianças de idade pré-escolar acreditam que a morte é temporária e reversível; esta crença está reforçada pelos personagens em desenhos animados que "morrem e revivem" várias vezes.

As crianças entre cinco e nove anos começam a pensar mais como adultos acerca da morte mas, todavia, não podem imaginar que eles ou alguém que eles conheçam possa morrer. Acrescenta-se, ao choque e à confusão que sofre a criança que tenha perdido seu irmão, irmã, pai ou mãe, a falta de atenção adequada de outros familiares que choram essa mesma morte e que não podem assumir adequadamente a responsabilidade de cuidar da criança.

Os pais devem estar conscientes de quais são as reações normais das crianças ante a morte de um familiar, assim como dos sinais de perigo emocional. De acordo com os psiquiatras de crianças e adolescentes, é normal que durante as semanas seguintes à morte, algumas crianças sintam uma tristeza profunda ou que acreditem que o ente querido continua vivo. Entretanto, a negação da morte por longo período, que serve para evitar as demonstrações de tristeza, não é saudável e pode resultar em problemas mais severos no futuro.

Não se deve obrigar a uma criança assustada a ir ao velório ou ao enterro, entretanto, se recomenda que se a faça participar de alguma cerimônia como, por exemplo, ascender uma vela, rezar uma prece ou visitar a sepultura.

Uma vez que a criança aceita a morte, é normal que manifeste sua tristeza, de vez em quando, ou mesmo por um período de tempo mais longo um pouco e, às vezes, em momentos inesperados. Seus parentes devem procurar passar todo o tempo possível com a criança e fazê-la saber claramente que tem permissão para manifestar seus sentimentos livremente e abertamente.

Se a pessoa morta era essencial para a estabilidade do mundo da criança, a raiva, ira ou revolta são reações naturalmente esperadas. Esta ira pode se manifestar em jogos violentos, pesadelos, irritabilidade ou numa variedade de outros comportamentos inadequados. Não é raro que essa criança se mostre com intolerância para com outros membros da família.

Depois da morte de um dos pais, muitas crianças agem como se tivessem idade menor (regressão). A criança temporalmente age de maneira mais infantil, exige comida na boca, quer atenção, carinho e fala "como um bebê".

As crianças menores acreditam que eles sejam a causa do que sucede em seu redor. O pequeno pode crer que seu pai, irmão, mão, etc., tenha morrido porque uma vez ele pode ter desejado que isso acontecesse. A criança se sente culpada porque acredita que seu desejo se realizou.

Alguns sinais de perigo emocional:

· um período prolongado de depressão durante o qual a criança perde interesse por suas atividades e eventos habituais
· insônia, perda do apetite e medo de ficar sozinho
· Regressão a uma idade mais precoce por um período longo de tempo
· Imitação excessiva da pessoa morta
· Dizer freqüentemente que quer ir-se com a pessoa morta
· Isolamento dos amiguinhos
· Deterioração pronunciada do rendimento nos estudos ou negar-se ir à escola.

Estes sintomas de aviso podem indicar que se necessita ajuda profissional. Um psiquiatra de crianças e adolescentes pode ajudar a criança a aceitar a morte, bem como assistir a sua família para que ajudem melhor a criança durante o processo de pesar e luto.


Lidando com as Fases (finais) da Doença Grave
Entender como outras pessoas enfrentam as doenças graves poderia ajudar ao paciente de câncer e sua família a preparar-se para lidar com suas próprias doenças. Pode-se dizer que a doença grave consta de quatro fases:

1. - a fase antes do diagnóstico,
2. - a fase aguda,
3. - a fase crônica, e
4. - a fase de recuperação ou morte.


A primeira fase, anterior ao diagnóstico, é quando o paciente se da conta ou suspeita de que corre o risco de desenvolver uma doença. Esta fase se estende por todo período em que a pessoa é submetida à exames, e termina no momento em que recebe o diagnóstico.

A fase aguda sucede durante o diagnóstico, quando a pessoa se vê forçada a entender o diagnóstico e tem que tomar uma serie de decisões acerca de seu cuidado médico.
A fase crônica se define como o período entre o diagnóstico e os resultados do tratamento, quando os pacientes tentam lidar com as demandas da vida cotidiana ao mesmo tempo em que recebem tratamento e tentam aceitar seus efeitos secundários.

Há algum tempo, o período entre o diagnóstico de câncer e a morte era de uns meses, geralmente passados no hospital. Entretanto, atualmente as pessoas podem viver muitos anos depois de receber um diagnóstico de câncer e de se submeterem a tratamento especializado.

Em seguida vem a fase de recuperação, durante a qual, as pessoas têm que enfrentar os efeitos psicológicos, sociais, físicos, religiosos e monetários do câncer.

A fase final ou terminal de uma doença grave ocorre quando a morte se converte em algo iminente. Neste momento se alteram os objetivos e, ao invés de se tentar a cura ou prolongar a vida do paciente, os esforços se concentram em ajudar a pessoa a se sentir mais confortável e mais aliviada de sofrimentos. As tarefas durante esta fase final, com freqüência, se enfocam no aspecto religioso.

fonte: www.psiqweb.med.br

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Sobre a Mentira

A mentira não deve ser entendida como uma espécie de contrário da verdade. Ética e moralmente a mentira está muito mais relacionada à intenção de enganar do que ao teor de deturpação da verdade e, juridicamente, a mentira está relacionada ao dolo ou prejuízo que causa a outra pessoa.

A mentira não é apenas invenção deliberada, uma ficção, pois nem toda ficção ou fábula é sinônimo de mentira. Não pode ser mentira a literatura, a arte ou mesmo a demência (sintoma da confabulação). A intencionalidade é que define a mentira, estabelece o dano ou dolo.

Assim sendo, não mente quem acredita naquilo que diz, mesmo que isto seja falso. Santo Agostinho declara que “Quem enuncia um fato que lhe parece digno de crença ou acerca do qual forma opinião de que é verdadeiro, não mente, mesmo que o fato seja falso”.

Considerarmos todas as formas de mentira, desde a mentira convencional de dizer Bom Dia às pessoas sem que, necessariamente, ansiamos para que ela tenha realmente um bom dia, passando pela mentira humanitária de consolar o moribundo, pela mentira carinhosa de achar que aquele vestido ficou muito bem na pessoa amada, o Papai Noel, ou a mentira por omissão, seja ela médica, política ou policial, enfim, todas essas maneiras de dissimular a verdade, entendemos melhor as pesquisas que mostram a mentira presente em todas as pessoas.

Mas, é o propósito com que falamos alguma coisa que definirá a mentira. Mentir seria dirigir a outro um enunciado falso, cujo mentiroso sabe conscientemente dessa falsidade, e o faz com objetivo de enganar, de levar esse outro a crer naquilo que é dito, dando a entender que diz a verdade.

Como dissemos, para mentir o que conta é a intenção e, voltando a Santo Agostinho, “não há mentira, apesar do que se diz, sem intenção, desejo ou vontade de enganar”. É a intenção que define se o que foi dito, verdadeiro ou falso, teve ou não o propósito de enganar. Aliás, excluindo-se o aspecto intencional de enganar que caracteriza a mentira, é mesmo muito difícil argüir se uma verdade é mais ou menos verdadeira, de forma a aceitarmos com facilidade a expressão “a verdade de cada um”. Isso é bem comentado quando estudamos as maneiras pessoais de representar a realidade, quando vimos o termo procepção.

Muitas vezes levadas pela insegurança de ser aceitas tal como são, as pessoas podem cair na tentação de enriquecer suas histórias e enaltecer suas habilidades de forma a causar uma impressão mais favorável em outras pessoas.

É assim, por exemplo, que um ladrão atribui-se mais roubos do que realmente tenha cometido para melhorar sua imagem diante dos companheiros de cadeia, ou o jovem que se vangloria de proezas sexuais muito além do que tenha feito, superando a insegurança de sentir-se pouco viril, ou a mãe que aumenta um pouco o desempenho escolar de seu filho, compensando assim o sentimento de inferioridade diante de outras mães satisfeitas com o rendimento dos filhos delas...

Além de atender diretamente as aspirações próprias, a mentira satisfaz também interesses de maneira indireta. É o caso, por exemplo, dos falsos rumores que diminuem, comprometem, execram pessoas que, de uma forma ou outra, nos ameaçam (às vezes ameaçam apenas nosso bem estar emocional). Mentir é um recurso fácil de se recorrer, sem necessidade de se passar por esforços ou penúrias, ainda que haja o permanente risco de ser descoberto.

O Mentiroso
Aprendemos desde cedo as vantagens da mentira. Ainda crianças aprendemos a dizer que a mãe não está em casa, quando ela quer evitar atender ao telefone. Cedo aprendemos os benefícios de um atestado médico forjado para comodidade de poder faltar às aulas de ginástica, e assim por diante. Ah! Não esquecendo das mentiras a que se obrigam os netos, quando os avós perguntam de quais avós gostam mais...

Mas o mentiroso também passa por dificuldades, e quanto mais cai na tentação de mentir, tanto mais difícil vai ficado controlar a abundante base de dados das versões de suas mentiras, mais difícil vai ficando garantir a coerência de suas estórias, mais necessidade de novas mentiras para encobrir as antigas.... a farsa cresce em progressão geométrica.

Não é possível para a psiquiatria estabelecer o estereótipo do mentiroso; cada caso é um caso. A maioria das pessoas se encaixa nos mentirosos fisiológicos, e a mais fisiológica das mentiras são os falsos elogios – “ora, você está sempre igual, parece não envelhecer...”. Esses mentirosos fisiológicos se servem das mentiras também para a elaboração das mais esfarrapadas desculpas – “não pude comparecer ao enterro porque uma tia minha teve que ser internada...” E o interessante é que o outro, igualmente mentiroso fisiológico, também mente, fingindo acreditar.

Diante dessa freqüência fisiologicamente humana há, naturalmente, uma tendência em banalizar a mentira, ou inocentemente classificar nossa mentirazinha cotidiana como sendo do tipo positiva, aquela que além de não prejudicar pode até ajudar pessoas (...o senhor me parece mais saudável hoje do que ontem... conheci seu filho, um jovem magnífico...), ou mentira negativa, aquela que prejudica.

Enfim, a mentira fisiológica pode até facilitar a integração social, e de tal forma que as pessoas com inata dificuldade para essas mentirinhas corriqueiras são tidas como ingênuas, socialmente pouco habilidosas, falta-lhes jeito ou, como se diz espertamente, não têm “jogo de cintura”.

Uma das razões interiores mais comuns para mentir é a insegurança ou baixa auto-estima. Como dissemos, a mentira passa ao outro uma imagem de nós próprios muito melhor do que de fato acreditamos ser. Mente-se também por razões externas, de acordo com as pressões para sucesso na vida em sociedade, por razões políticas ou até econômicas, quando o prejudicado for o fisco.

Finalmente há mentiras por razões patológicas, desde aquelas determinadas por uma personalidade problemática, até as outras, produzidas por neuroses francamente histriônicas, como é a Síndrome de Münchhausen e de Ganser.

Mentirosos contumazes, de dinâmica psíquica rica em conflitos e complexos, que representam personagens tal como fazem os atores, e refletem aquilo que gostariam de ser. Ao perderem o controle sobre o impulso de mentir o personagem criado suplanta o ego e a personalidade toda é tomada por um falso e inaltêntico ego.

Fonte: Psiqweb

Reações físicas e depressão

As pessoas reagem diferentemente às emoções em geral e à Depressão, em particular, inclusive em termos de eventuais doenças psicossomáticas.
Ao estudarmos o Afeto, entendemos haver uma espécie de filtro (exemplificados como lentes de óculos hipotéticos) através do qual os fatos e eventos são percebidos pelo indivíduo.
Isto faria distinguir situações percebidas como estressantes por alguns e não por outros.
A sensibilidade afetiva pessoal diante da vida exerce um efeito atenuante ou agravante aos eventos, efeito este que depende mais da própria personalidade que das circunstâncias. Isso definirá o modo de ser, de reagir, de enfrentar e de se adaptar ao estresse.
Assim sendo, podemos dizer que a elevação da pressão arterial diante do estresse, por exemplo, parece depender mais da avaliação pessoal (subjetiva) que o indivíduo faz da situação do que da própria situação, objetivamente considerada.
Alguns observadores notaram que os hipertensos tendem ao pessimismo, antecipando conseqüências negativas dos fatos, a interação interpessoal e social é por eles vivida como fonte de ansiedade e estresse.

Fonte: Psiqweb