domingo, 18 de abril de 2010

Mentes Brilhantes

Quais métodos os psicólogos contemporâneos usam para identificar crianças superdotadas? Como ocorre o desenvolvimento emocional desses pequenos? Veja o que existe de novo nesse campo e o que dizem os pesquisadores sobre os famosos testes de QI

Por Roberta de Medeiros


No supermercado, Tânia fala para sua mãe parar de colocar mercadorias no carrinho, pois já havia atingido o limite de R$ 50,00, tudo o que tinham para gastar. Com apenas 4 anos, a menina havia calculado o total gasto até aquele momento! Frequentadora de uma creche de baixa renda, ela aprendeu a contar e somar sozinha. Paulo tem 5 anos, é um menino alegre e comunicativo. Ele lê, escreve, canta e desenha, além de ter uma memória prodigiosa. Seus desenhos são excelentes para um garoto da sua idade. Pequenina e tímida, Vitória aprendeu a ler com 2 anos, quando passou a receber também aulas de inglês. Hoje, com 4 anos, ela já se debruça na leitura da mitologia grega.
Os três são superdotados. Mas como descobrir quando uma criança é superdotada (ou portadora de altas habilidades como preferem dizer os especialistas)? Isso depende do conceito que se tem de superdotação. Até pouco tempo, a ideia que se tinha do superdotado remetia à imagem do garoto franzino, que era o primeiro da classe, craque em Química, Matemática ou Física.

Hoje a noção mais aceita é de que os superdotados são aquelas pessoas que têm os três traços: habilidade acima da média, criatividade e envolvimento com a tarefa. As habilidades podem ser em diversas áreas do conhecimento, como dança, construção civil, filosofia, desenho, escultura, esportes, literatura, ciências, trabalhos manuais, fotografia... ou habilidades gerais como memória, processamento de informação, vocabulário. "O envolvimento é a dedicação que o sujeito deposita em sua área de interesse, perseverança, dedicação, foco e motivação. A criatividade está ligada ao pensamento inovador, à flexibilidade e novas formas de perceber as mesmas coisas", explica a psicóloga Nara Joyce Wellausen Vieira, da Fundação de Articulação e Desenvolvimento de Políticas Públicas para Portadores de Altas Habilidades.
O mito de que a inteligência era uma coisa única, compacta, ruiu há muito tempo, graças aos estudos do psicólogo americano Howard Gardner, da Universidade Harvard, que mapeou as inteligências antes tidas apenas como aptidões. Ele sustenta que há oito tipos diferentes de inteligência e não apenas aquele bloco de saber lógico que se julgava no passado ser a mais sublime expressão do intelecto. São elas a verbal, a musical, a matemática, a espacial, a corporal, a naturalista (a capacidade de compreender os fenômenos naturais), a intrapessoal (o autoconhecimento) e a interpessoal (a habilidade de interpretar as intenções alheias e exercer a liderança). Se Gardner estiver certo, é possível que existam mais talentos do que poderíamos supor. Ao invés dos 1% a 3% de pessoas superdotadas, proposto pela Organização Mundial de Saúde, o índice pode saltar para 15%, levando em conta as habilidades artísticas, criativas, de liderança ou de esportes.

Outro pesquisador que deu um passo adiante na compreensão do que se considera um comportamento inteligente foi o psicólogo americano Joseph Renzulli, do Centro Nacional de Pesquisa sobre o Superdotado e Talentoso da Universidade de Connecticut. Ao afirmar que o superdotado era uma mistura de talento, criatividade e dedicação obstinada, ele subverteu a visão antiga do Ocidente sobre os pequenos iluminados. "Tanto Gardner quanto Renzulli entendem que a inteligência não é um conceito fechado. Eles acreditam que as pessoas superdotadas têm diferentes perfis, que nem sempre condizem com a imagem do superdotado padrão, que é intelectual destacado", ressalta Nara.

Fonte: Psiqué, Ciência e Vida

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