Criada pelo psiquiatra canadense Eric Berne, a Análise Transacional, oferece alternativas para que o indivíduo transforme o plano de vida criado na infância em algo espontâneo e autônomo
Por Maria de Los Angeles Amoroso
“A busca de significado é uma jornada
que dura toda a vida”
Muriel James
A Análise Transacional (AT) foi criada pelo psiquiatra canadense Eric Berne na década de 1950 visando auxiliar o indivíduo no seu desenvolvimento psíquico e afetivo. A International Transaction Analysis Association a define como uma “teoria da personalidade e uma psicoterapia sistemática para o crescimento e mudança pessoal”.
Berne organizou a teoria da AT em dez instrumentos capazes de promover uma investigação durante a clínica visando alavancar o processo de desenvolvimento psíquico: os Estados do Ego são segundo o psiquiatra canadense “um sistema de sentimentos que motiva um conjunto de padrões de comportamentos afins, conhecido como uma estrutura tripartida, cujas partes são designadas de Estado de Ego Pai, Estado de Ego Adulto e Estado de Ego Criança (P, A e C). É como a nossa personalidade está formada, nossa estrutura interna”; a Análise das Transações diz respeito a nossa comunicação com os outros e envolve estímulos e respostas; as Carícias são necessidades indispensáveis do ser humano. Toda pessoa necessita ser reconhecida pelo que é e pelo que faz.
Já a Estruturação do Tempo diz respeito a nossa necessidade de preencher o vazio de nossas vidas, desde o nascimento até a nossa morte. Esta estruturação pode ser um grande diferencial na qualidade de vida do indivíduo.
Enquanto as Emoções são responsáveis pelas diferentes maneiras de dar sentido à nossa vida, a Posição Existencial é definida como os juízos de valores ou conceitos de si mesmo e dos outros adquiridos ainda quando criança. Na maioria das vezes, são decisões imaturas e irracionais, sendo que tem origem na limitada capacidade da criança de se colocar objetivamente diante da realidade. Os Jogos Psicológicos podem ser descritos como uma maneira contraproducente do indivíduo estruturar o seu tempo. São armadilhas que invariavelmente levam a um resultado frustrante.
Já o Script ou Argumento de Vida consiste no plano inconsciente de vida que a pessoa cultiva na primeira infância, totalmente influenciada pelos pais e que direcionará suas ações nos processos mais determinantes da existência. O Mini-script oi miniargumento se caracteriza pela tentativa do individuo de buscar uma fuga do Script de Vida, que acaba por envolvê-lo mais ainda no processo.
Por fim, os Contratos, um acordo de mudança que serve como base para a prática da Análise Transacional, em que os analistas consideram as pessoas capazes de decidir o que desejam para suas vidas.
Mensagens interiorizadas
Além da personalidade de cada um, as mensagens que se recebe na infância são fatores essenciais para a construção do argumento.
Alguns podem ter recebido mensagens proibitivas, ou mandatos do tipo:
- Não viva (“você só me dá trabalho”. Tentativa de aborto).
- Não sinta (“eu não tenho tempo para perder com você”).
- Não pense (“deixe que eu pense por você”).
- Não seja você (“eu queria uma menina”).
- Não cresça (“continue sempre criança”. “Não me abandone”).
- Não consiga (“não me supera”. “Você não é capaz”)
Mensagens paternas e maternas são fundamentais
para formar o script da vida da criança
Quando o indivíduo acredita nessas mensagens, elas vão se internalizando e a pessoa acaba obedecendo-as sem questionar.
Existem, ainda, as mensagens afirmativas, chamadas atribuições: “Ele é o mais bonito da família”, “Ele é o mais inteligente da casa”. As pessoas dão “atributos” aos outros, rotulando-os e comparando-os. Atribuir é uma das maneiras mais eficazes de moldar, limitando a personalidade das pessoas.
As carícias são o combustível do argumento de vida. Por isso algumas são chamadas argumentais, pois mantêm as pessoas no seu argumento de vida.
Construir uma história
Ao nascermos somos “jogados no mundo” e nos deparamos com uma infinidade de eventos e experiências, que nos levam a perceber o constante processo de mudança a que estamos sujeitos. O filósofo existencialista Jean Paul Sartre afirma que ao sermos “lançados”, temos a responsabilidade de dar algum significado à nossa vida.
Podemos, então, fazer uma relação com a necessidade da criança de construir uma história, um script, que dará estrutura à sua vida e a seus relacionamentos. O script é construído a partir de sua existência neste mundo, a partir das influências familiares, sociais e culturais.
Semelhante ao ponto de vista sartriano, Berne escreveu: “Cada pessoa desenha sua própria vida. A liberdade lhe dá o poder de levar adiante seus desígnios, e o poder lhe dá a liberdade de interferir com os desígnios dos outros.”
O processo terapêutico em Análise Transacional tem como objetivo ajudar o cliente a refletir sobre seu script de vida particular, para que possa ser mudado e transformado num “Plano de Vida” espontâneo e que seja existencialmente vantajoso.
Script é aquilo que o indivíduo planeja ser desde sua primeira infância. A criança, à medida que recebe estímulos do meio ambiente, vai estruturando uma visão de si mesma, dos outros e do mundo em que vive. Quando ela internaliza uma visão negativa de si mesma, vai assumindo posições existenciais que, quanto mais cedo forem tomadas, poderão ser nefastas em virtude da fragilidade a que a criança está submetida. Compreender seu script, portanto, é condição essencial para a mudança na fase adulta.
Fonte:Psiqué, Ciência e Vida
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