Durante a elaboração de sua tese de doutorado, sob a orientação de Eugen Bleuler, Jung percebeu que entre os pacientes esquizofrênicos, a ligação do EU e os demais complexos da personalidade encontram-se mais ou menos interrompidos
Por Marisa Nieri de Toledo Soares
Marisa Nieri de Toledo Soares é médica psiquiatra, bacharel pela Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), colaboradora do PROESQ e Co-coordenadora do Núcleo de Integração entre Psicologia Analítica e Psiquiatria da Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica. E-mail: marisanieri@gmail.com
Os estudos sobre os "complexos de ideias que se tornam sucessivamente conscientes e se constelam através de complexos anteriormente associados* na esquizofrenia e na histeria propiciou a Carl Gustav Jung estabelecer a hipótese de energia psíquica e inconsciente coletivo com seu conteúdo arquetípico. (*"Psicogênese das Doenças Mentais" parágrafo 56 Obras Completas C. G. Jung)
Ao aprofundar a pesquisa para entender os dois transtornos, concluiu que a diferença fundamental entre a histeria e a esquizofrenia residia no fato de que a histeria preserva a unidade potencial da personalidade, do EU, enquanto a esquizofrenia não. Desta forma, na histeria essa unidade potencial pode ser percebida pelo terapeuta e ser trabalhada no sentido de sua reconstituição, o que não acontece na esquizofrenia.
Os testes em clientes neuróticos (histeria) revelaram que eles podem ser invadidos pelos conteúdos inconscientes e conseguem manter a unidade de seu EU e da personalidade, ainda que sob um rebaixamento de consciência. Já o esquizofrênico parece ser vencido por essa invasão e passa a ser guiado pelos conteúdos inconscientes estranhos e se identifica com eles. Talvez pudéssemos dizer que, do ponto de vista psíquico, o esquizofrênico apresente uma capacidade de resiliência muito baixa ou mesmo ausente.
Um dos pontos de destaque dos estudos de Jung em seus clientes esquizofrênicos foi que muitos dos conteúdos delirantes existiam no inconsciente de pessoas normais. Segundo ele, esses "delírios" se manifestam de maneira semelhante, sob a forma de sonhos, em pessoas normais que jamais estiveram próximas de uma psicose. Dessa forma, a existência de materiais inconscientes estranhos não prova nada, pois da mesma forma eles podem ser encontrados nos neuróticos, nos pintores modernos, nos poetas. Ocorre também na maior parte de pessoas normais que valorizam, com especial atenção, os seus sonhos. Não é o conteúdo do inconsciente pessoal ou do inconsciente coletivo que causa a psicose, mas a condição ou não de suportar a tensão crônica e a alta tonalidade energética do fator estressor, seja ele de ordem externa ou interna.
Sob essa "pressão de um rebaixamento extremo, a totalidade da psique se fragmenta em vários complexos e o complexo do EU deixa de desempenhar o papel principal, tornando-se apenas um entre os outros de igual importância ou mesmo maior importância".
Para Jung, o fator estressor é como a gota d'água que faz transbordar o copo ou é a faísca que explode o barril de pólvora, acionando a crise aguda em portadores de esquizofrenia.
Fonte:Psiqué Ciência e Vida
Por Marisa Nieri de Toledo Soares
Marisa Nieri de Toledo Soares é médica psiquiatra, bacharel pela Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), colaboradora do PROESQ e Co-coordenadora do Núcleo de Integração entre Psicologia Analítica e Psiquiatria da Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica. E-mail: marisanieri@gmail.com
Os estudos sobre os "complexos de ideias que se tornam sucessivamente conscientes e se constelam através de complexos anteriormente associados* na esquizofrenia e na histeria propiciou a Carl Gustav Jung estabelecer a hipótese de energia psíquica e inconsciente coletivo com seu conteúdo arquetípico. (*"Psicogênese das Doenças Mentais" parágrafo 56 Obras Completas C. G. Jung)
Ao aprofundar a pesquisa para entender os dois transtornos, concluiu que a diferença fundamental entre a histeria e a esquizofrenia residia no fato de que a histeria preserva a unidade potencial da personalidade, do EU, enquanto a esquizofrenia não. Desta forma, na histeria essa unidade potencial pode ser percebida pelo terapeuta e ser trabalhada no sentido de sua reconstituição, o que não acontece na esquizofrenia.
Os testes em clientes neuróticos (histeria) revelaram que eles podem ser invadidos pelos conteúdos inconscientes e conseguem manter a unidade de seu EU e da personalidade, ainda que sob um rebaixamento de consciência. Já o esquizofrênico parece ser vencido por essa invasão e passa a ser guiado pelos conteúdos inconscientes estranhos e se identifica com eles. Talvez pudéssemos dizer que, do ponto de vista psíquico, o esquizofrênico apresente uma capacidade de resiliência muito baixa ou mesmo ausente.
Um dos pontos de destaque dos estudos de Jung em seus clientes esquizofrênicos foi que muitos dos conteúdos delirantes existiam no inconsciente de pessoas normais. Segundo ele, esses "delírios" se manifestam de maneira semelhante, sob a forma de sonhos, em pessoas normais que jamais estiveram próximas de uma psicose. Dessa forma, a existência de materiais inconscientes estranhos não prova nada, pois da mesma forma eles podem ser encontrados nos neuróticos, nos pintores modernos, nos poetas. Ocorre também na maior parte de pessoas normais que valorizam, com especial atenção, os seus sonhos. Não é o conteúdo do inconsciente pessoal ou do inconsciente coletivo que causa a psicose, mas a condição ou não de suportar a tensão crônica e a alta tonalidade energética do fator estressor, seja ele de ordem externa ou interna.
Sob essa "pressão de um rebaixamento extremo, a totalidade da psique se fragmenta em vários complexos e o complexo do EU deixa de desempenhar o papel principal, tornando-se apenas um entre os outros de igual importância ou mesmo maior importância".
Para Jung, o fator estressor é como a gota d'água que faz transbordar o copo ou é a faísca que explode o barril de pólvora, acionando a crise aguda em portadores de esquizofrenia.
Fonte:Psiqué Ciência e Vida
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