terça-feira, 25 de maio de 2010

O Crescimento na Angústia


Psicóloga Ana S. Botto

No curso de nosso desenvolvimento, diversas perdas se interpõem à nossa jornada. Em maior ou menor intensidade, elas ficam registradas em nós, se fazendo presentes, como se o tempo não tivesse ocorrido. Ficam nos desarmonizando, não nos permitindo prosseguir antes de termos elaborado estes obstáculos.

A psicoterapia é exatamente este agente de elaboração e mudança interna. Ela nos traduz o sentido de nossos padecimentos, tornando a dinâmica de nosso inconsciente favorável ao nosso crescimento. De vitimados, nos tornamos agentes de nossos processos.

A atitude pessoal de submeter-se a um processo psicanalítico se fundamenta em um comprometimento interno com esta mudança. Quando os padrões enraizados se mostraram de alguma forma ineficazes, surge o desejo de crescer através do auto-conhecimento.

O tratamento visa uma reeducação emocional, pela localização de nossos bloqueios manifestos através de nossas ansiedades, angústias, fobias ou tantas outras formas que o inconsciente lança mão. Estes começam a ser vistos como sintomas, como uma fala interna em busca de elaboração.

A psicoterapia faz com que obtenhamos êxito neste processo. Todo sintoma retrata uma grande história condensada do indivíduo. São forças internas em conflito que geram um dispêndio enorme de energia mental. Esta energia deixa de estar disponível para outras coisas, acarretando uma empobrecimento da pessoa.

Temos uma determinação interna à evolução. Desta forma, conteúdos emocionais não elaborados formam uma espécie de nódulo, uma cristalização. Em algum período de nossas vidas este represamento tentará a ser rompido. As circunstâncias emocionalmente não elaboradas de hoje virão, então, cobrar sua solução interna, fazendo com que nos confrontemos com circunstâncias que nos propiciem esta reedição. Isto, quantas vezes se mostrarem necessárias. Freud nos exemplifica este processo ao comparar nosso desenvolvimento emocional a um povo em movimento que deixa ao longo do caminho fortes destacamentos (estes seriam os nódulos emocionais). As frações mais adiantadas deste povo teriam uma grande tendência, quando vencidas, ou quando enfrentassem um inimigo demasiado forte, a voltar sobre os próprios passos para se refugiar junto aos destacamentos retardatários.

Enquanto não nos libertamos através da elaboração destes nódulos traumáticos, ficamos como um pião rodando em torno deste eixo. É a oportunidade que a natureza do nosso inconsciente nos proporciona de crescer.

A psicoterapia vem como um socorro que apóia e viabiliza esta elaboração, fazendo com que compreendamos o sentido interno da angústia e sintomas, diluindo então a repetição e permitindo por conseqüência o crescimento interno.

O papel do analista é o de um "eu auxiliar' ao do paciente, ampliando sua possibilidade de escuta interna e de elaboração. A terapia nos proporciona insights, momentos únicos nos quais nos entendemos de uma forma dinâmica, onde nossos sintomas se revelam para nós de forma compreensível. Nos auxilia na reformulação de padrões comportamentais que não mais nos servem no presente, sendo verdadeiros entraves, embora tão intimamente comprometidos conosco.

O terapeuta é o nosso companheiro neste caminho de reforma íntima e superação, permitindo em nós o surgimento de um indivíduo liberado para uma vida mais satisfatória

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