O consumo de bebidas alcoólicas por adolescentes é um problema que desperta preocupação no mundo todo. A discussão é de grande importância para a saúde pública, sendo necessária a atenção das autoridades, profissionais da saúde, pais e educadores
O consumo de bebidas alcoólicas por adolescentes (12 a 17 anos) e adultos jovens (18 a 24 anos) é um sério problema que desperta grande preocupação no mundo todo. Ao contrário do que muitos acreditavam no passado, na fase de transição entre a infância e a vida adulta, o sistema nervoso central dos jovens ainda se encontra em desenvolvimento. Desta maneira, suas vias neuronais podem se tornar mais suscetíveis aos danos causados pelo álcool, levando ao comprometimento de várias funções.
Em um período repleto de mudanças físicas, psicológicas e sociais, sob os efeitos do álcool, os jovens ficam mais propensos a comportamentos de risco. Nota-se, ainda, que uma série de fatores individuais, sociais e econômicos, principalmente a família e colegas, influencia o uso de álcool pelo jovem. No Brasil, segundo dados do II Levantamento Domiciliar Sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil, 2005, cerca de 54% e 79% dos jovens de 12-17 anos e de 18-24 anos, respectivamente, já haviam experimentado alguma bebida alcoólica em sua vida (uso de álcool na vida). Nestas mesmas faixas etárias, a dependência de álcool foi de 7,0% e de 19,2%, respectivamente. Essas altas prevalências ilustram a relevância do tema em nosso país.
Má influência familiar
A Secretaria da Saúde informou que adolescentes que bebem demais são influenciados pelos pais. A pesquisa foi realizada pelo Centro de Referência em Álcool, Tabaco e Outras Drogas (CRATOD), e envolveu mais de 500 pacientes entre 12 e 17 anos, dos quais 86% são do sexo masculino. Desses, 256 afirmaram ter parentes que também fazem uso abusivo de álcool. O estudo mostra ainda que 4,36% dos entrevistados referem o álcool como droga que mais consomem. Ainda segundo a pesquisa, dos entrevistados que apontaram o álcool como droga principal, 22% começaram a beber aos 13 anos de idade e 15% aos 11
Pesquisa revela
Mais recentemente, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) realizou uma pesquisa nacional entre estudantes da 9ª série do Ensino Fundamental (Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar 2009, PeNSE), com média de idade entre 13 e 15 anos, e os resultados foram alarmantes. A taxa de uso de álcool na vida foi de 71,4%, sendo que 22% dos escolares responderam que já beberam até se embriagar.
Nos últimos 20 anos, observou-se que a exteriorização de emoções (comportamentos agressivos, impulsivos, ou descontrolados) e, em menor grau, a interiorização das mesmas (comportamentos ansiosos ou depressivos), duas características detectáveis na infância, são potenciais marcadores de uma predisposição para o uso precoce de álcool, que está associado ao histórico de consumo abusivo e de dependência de álcool. Por exemplo, foi estimado que indivíduos que iniciam o consumo de álcool antes dos 16 anos de idade possuem risco 1,3 a 1,6 vezes maior de desenvolver dependência alcoólica, e que cada ano de atraso no início da ingestão de álcool seria capaz de gerar uma redução de 14% no risco para a dependência alcoólica. Assim, a idade de início do uso de álcool é um dos principais pontos de referência para avaliar os possíveis riscos de problemas associados. Em paralelo, vários pesquisadores sugerem que tal efeito seria decorrente do fato de que a idade de início modera a influência de outros fatores (hereditários e ambientais) sobre o uso dessa substância.
Em crianças submetidas a situações de estresse elevado, o início da ingestão de álcool é mais precoce e o risco de consumo frequente pode ser maior. Tal dinâmica pode ser observada entre as crianças em situações de rua no Brasil: constatou-se que 33% dos jovens de 9 a 11 anos de idade e 77% dos jovens de 15 a 18 anos de idade consumiam álcool.
"Estima-se que indivíduos que iniciam o consumo de álcool antes dos 16 anos de idade possuem risco 1,3 a 1,6 vezes maior de desenvolver dependência alcoólica"
Fonte: Psiquê Ciência e Vida
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