domingo, 4 de julho de 2010

Sob o encanto da Lua

Em diferentes culturas, variações do comportamento humano foram atribuídas às fases lunares; para pesquisadores, a teoria pode ser considerada um “fóssil cultural”
por Scott O. Lilienfeld e Hal Arkowitz

“Ela aproxima-se mais da Terra agora do que de hábito e deixa os homens loucos.”
Otelo, de William Shakespeare

Ao longo dos séculos, muitos já disseram: “Deve ser noite de lua cheia”, numa tentativa de explicar acontecimentos estranhos. E até hoje, o nome da deusa romana da Lua continua sendo familiar: Luna, prefixo da palavra lunático (um dos sinônimos para louco). O filósofo grego Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.) e o historiador romano Plínio (23 – 79 d.C.), o Velho, sugeriram que o cérebro era o órgão mais úmido do corpo e, desse modo, mais suscetível às influências perniciosas da Lua, responsável também pelas marés. A crença no efeito lunar persistiu na Europa durante a Idade Média, se acreditava que alguns seres humanos se transformavam em lobisomens ou vampiros durante madrugadas de lua cheia.

Ainda hoje, muitas pessoas acreditam que os poderes místicos do satélite da Terra induzem comportamentos erráticos, surtos psicóticos e suicídios; crêem que, por deflagrar a agressividade, fazem aumentar o número de homicídios, de acidentes de trânsito, de violência por parte de torcedores e jogadores profissionais durante as partidas e até de mordidas de cachorro. Um levantamento realizado nos Estados Unidos revelou que 45% dos estudantes universitários acreditavam que as pessoas afetadas pela Lua são propensas a comportamentos estranhos. Outras pesquisas sugerem que profissionais que trabalham com saúde mental podem estar mais inclinados do que as pessoas em geral a aceitar essa ideia. Em 2007, diversos departamentos de polícia do Reino Unido aumentaram o número de policiais em noites de lua cheia, num esforço para lidar com índices de criminalidade presumidamente mais altos.

Seguindo Aristóteles e Plínio, o Velho, alguns autores contemporâneos, como o psiquiatra Arnold Lieber, de Miami, presumiram que os efeitos comportamentais da Lua cheia ocorreriam por influência lunar na água. O corpo humano, ao todo, é composto de cerca de 80% de líquido e, deste modo, a Lua pode agir, de maneira misteriosa, alterando o alinhamento das moléculas do sistema nervoso central.

Scott O. Lilienfeld e Hal Arkowitz são professores de psicologia; o primeiro, da Universidade Emory, e o segundo, da Universidade do Arizona. – Tradução de Julio Oliveira

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