sexta-feira, 9 de julho de 2010

Entendendo a inveja na visão kleiniana

A inveja é um sentimento extremamente primitivo, imediato e voraz. A ação invejosa tem sempre, por trás, um conteúdo agressivo. Inicialmente, o bebê tem o seio da mãe como objeto ideal. Então ele passa a querer ter o seio. Quando a mãe sai, desperta no bebê um desespero. Ele fica constantemente ansioso e quer reter a mãe. Klein encontra aí as raízes primitivas da inveja - o movimento de arrancar do outro para ter para si.

O comportamento invejoso visa retirar a bondade dos objetos a fim de introjetá-la. Ao se questinar sobre a necessidade de ter algo que deseja, a conclusão nos diz que aquilo vai nos trazer algo de bom. Entre mulheres, por exemplo, é comum que uma amiga elogie o sapato da outra e pergunte onde ela comprou porque deseja um igual, ou do mesmo estilo, ou da mesma cor. Essa parte é até saudável. Agora, no movimento agressivo de retirar do outro, o objeto bom e ideal se torna mau e destruído. O bebê introjeta objetos destruídos, o que gera um ciclo prejudicial. Ao ter os mundos interno e externo destruídos, o ego se estilhaça buscando um objeto de gratificação. Já falamos sobre estilhaçamento de ego no texto sobre posição esquizo-paranóide.

O que diferencia, basicamente, a inveja do ciúme é que o ciúme é uma relação de três elementos (eu, o outro, e um terceiro que me ameaça de perder o outro), e a inveja, de dois (eu e algo que quero ter ou ser).

Existe uma relação saudável com o sentimento de inveja, indo além do significado comum que a palavra tinha até então. Inveja é algo que todos sentem, mas sentir é diferente de atuar sobre ela. Sentir inveja não faz de alguém um invejoso. A voracidade e agressividade existentes por trás de um comportamento invejoso é o que é extremamente prejudicial e negativo. Já que você quer o objeto para si e para isso realiza comportamentos agressivos.

Todos têm inveja, todos desejam algo que não têm. Isso é natural, humano. O que nos diferencia do bebê é nossa capacidade de reconhecer a inveja que sentimos e não alimentá-la, ou canalizá-la. O bebê não pode dizer: -"Nossa, eu quero muito isso. Mas posso trabalhar para conseguir e não preciso arrancar do outro." Nós podemos. Mesmo que se queira muito um objeto, tirar do outro nem sempre é a única maneira de ter.

Parece contraditório, mas é preciso reconhecer sentir a inveja para não se tornar um invejoso. .


Fonte: Olhares - Psi

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