No Brasil, aparentemente a política do ensino público ensinar parece estar sendo menos importante que manter a criança na escola. A tática de obter resultados da aprovação quase automática ano-a-ano, faz com que os transtornos emocionais dos alunos, externados através de condutas desviantes, anômalas, rebeldes, indisciplinadas, inconseqüentes e toda sorte de atitudes jamais imaginadas há poucas décadas, constituam uma excelente oportunidade para reflexões honestas sobre os limites e as possibilidades do professor e da estrutura escolar.
Se, infelizmente, as crianças carreiam suas mazelas emocionais para dentro da escola, e se essas mazelas estão sendo lidadas adequadamente ou não, posso dizer por experiência da clínica, que também os professores carreiam suas frustrações, depressões e ansiedades geradas na escola para dentro dos consultórios psiquiátricos, com a desvantagem de não se dispor de tanta literatura especializada a respeito quanto existem sobre a problemática infanto-juvenil.
A noção cultural em torno da infância e da adolescência varia de acordo com a época. Na Idade Média, por exemplo, a duração da infância era reduzida ao mínimo possível, provavelmente devido à necessidade da mão de obra dos infantes. Logo que a criança manifestasse uma certa autonomia de movimentos, era automaticamente incluída no mundo dos adultos, na condição de um pequeno adulto, apto, portanto, à produção.
Antes de meados da década de 60 as regras comportamentais dentro de casa eram algo mais rígidas. Quando as coisas não saiam de acordo com a orientação paterna, haviam os castigos, o corte das regalias e ponto final. Depois dessa fase, veio a época dos acordos entre pais e filhos, a recomendação politicamente correta dos diálogos, discussões e decisões conjuntas.
Com o psicologismo vigente da década de 70, quando cada autor queria se sobressair mais que o outro, através de tendências e teorias esdrúxulas e inusitadas, a infância e adolescência passaram a ter uma autonomia desmedida, algo imerecida e muitas vezes irresponsável. Liberdade era a palavra chave, muitas vezes confundida com irrsponsabilidade e inconseqüência, e não apenas das próprias crianças e adolescentes mas, inclusive, dos próprios pais.
Um bom exemplo da propalada individualidade da criança e/ou adolescentes era a inviolabilidade de seu quarto, transformado em fortim e território inexpugnável, onde eles reinavam e se autodeterminavam. Os pais que não se adequassem à nova moda eram retrógrados e "caretas", quase candidatos a tratamentos psiquiátricos e orientações psicológicas.
Hoje, a atual conjuntura psicológica questiona seriamente a liberdade total das crianças e adolescentes e, reconhece-se com tristeza, que a tática das "rédeas soltas" desembestou por caminhos de retorno muito problemático.
Embora não se pretenda um retrocesso à tirania que se submetiam os jovens no início do século XX, também não tem mostrado sucesso o excesso de liberdade, pois os extremos são perigosos, tanto por falta quanto por excesso.
O problema é que os jovens de hoje em dia já nasceram em uma cultura bastante marcada pela educação liberal e a delimitação dos limites de conduta se transformou em tarefa difícil, quase impossível, tamanha oposição que sofrem pais e educadores pela conjuntura social moderna. As limitações, proibições ou cerceamentos das atitudes dos adolescentes precisam ser acompanhadas de boas justificativas e explicações. Notadamente quando se deparam com a afirmativa de que "todos" fazem assim.
A escola, tanto quanto o lar, teve que se adequar a essa tendência "libertadora", e eram mais "legais" quanto mais permissivos fossem os professores, as escolas ou os pais. Surgiram assim as mães e pais tão amigos dos filhos a ponto de comprometerem o próprio papel materno e paterno, apareceram as professoras "mãezonas", que temendo um rótulo de conservadoras, assumem uma postura excessivamente permissiva e uma atitude ridiculamente jovial. Esses tipos de professores invertem os papeis e, ao invés de estimularem seus alunos para que eles tenham uma postura mais adulta e responsável, submetem-se à posição limítrofe entre o modernismo e a omissão. Decididamente, poucas dessas "mãezonas" servirão de exemplo vívido nas memórias de seus alunos como alguém a ser seguido e cultuado.
Fonte: Psiqweb
Nenhum comentário:
Postar um comentário