domingo, 6 de junho de 2010

Estupidez emocional

A inteligência emocional, a par da auto-estima, da assertividade ou da resiliência, é daqueles conceitos provenientes da Psicologia que acabou por ganhar popularidade e por ser integrado na linguagem comum. Para quem não sabe o que é, a inteligência emocional relaciona-se com a capacidade que idealmente todos deveríamos ter de lidar com as nossas emoções de um modo saudável e produtivo. Quem tem a sua inteligência emocional bem desenvolvida deverá ser capaz de reconhecer as suas próprias emoções, de se aperceber e de respeitar as das outras pessoas, além de as utilizar como guias para o seu comportamento. Porém, o que acontece com muita frequência é que as pessoas têm dificuldade em gerir as suas emoções. Acabam por fazer coisas que lhes são prejudiciais, numa atitude que muito bem poderia ser chamada de estupidez emocional.

Ao nível profissional esta incapacidade de lidar com as emoções pode levar a escolhas pouco acertadas e a criar situações de conflito com colegas e chefias. Ao nível familiar pode ser causa de discussões, de faltas de diálogo e de ressentimentos que duram toda uma vida. Como se tudo isto não bastasse, no que respeita à vida amorosa, estes condicionalismos emocionais levam muitas pessoas a envolverem-se com outras que, provavelmente, não são as mais indicadas para elas ou que, pelo menos, não o são naquele momento. E não são indicadas porque mantêm outras relações e não estão dispostas a abdicar das mesmas, mesmo que digam que o irão fazer no futuro. Porque humilham e agridem verbal e fisicamente. Porque têm interesses ou formas de estar na vida de tal forma diferentes que se tornam irreconciliáveis numa relação a dois. Porque, enfim, não estão dispostas a assumir um compromisso e preferem manter uma "amizade colorida" quando não é esse o desejo da outra pessoa envolvida. Nestas, como em muitas outras situações, existe quem se mantenha infeliz ou pelo menos não completamente satisfeita na relação, ainda que sempre na expectativa de que as coisas melhorem de forma a conseguirem alcançar a felicidade. Na maioria dos casos, isso nunca chega a acontecer. Ainda que as relações não estejam de acordo com os desejos de uma das partes, acaba-se por ir vivendo com a situação tal como ela é, muitas vezes por comodismo, mas também por medo de ficar só.

Tudo isto não significa que as pessoas escolham conscientemente ter relações pouco gratificantes. Quantos de nós já não se apaixonaram sem ser correspondidos sabendo, à partida, que qualquer possibilidade de uma relação se encontrava fora de questão? Felizmente não somos máquinas e, por esse motivo, não controlamos as nossas emoções que por vezes nos pregam partidas. Faz parte da experiência de estar vivo não saber que rasteira os nossos desejos e vontades nos irão passar e para que estranhas paragens nos irão levar as nossas emoções. A grande questão é: se nos fosse dado a escolher, será que as coisas seriam diferentes? Teríamos o discernimento de optar pelas pessoas e pelas situações que nos poderiam fazer felizes? Enveredaríamos pelos caminhos mais apropriados para o nosso coração? Estas são questões que permanecem em aberto. Porém, tenho a ideia de que as respostas não são tão simples quanto poderão parecer à partida. Ou seja, não sei se algumas pessoas, quando confrontadas com tal possibilidade de escolha, optariam pela melhor alternativa... Até porque, em alguns casos, o sofrimento também pode ser uma forma de estar na vida que serve de motor, de alimento e de alento. Será que se escolhe sofrer? Já dizia o poeta que o amor tem razões que a razão desconhece...

Por vezes pode ser importante fazer um exercício de introspecção para tentar perceber quais os motivos pelos quais mantemos relações que não são satisfatórias. Será por medo de não conseguir melhor? Por medo de magoar a outra pessoa? Qualquer justificação pode servir como desculpa para manter uma relação que já não tem razão de ser. É nesses casos que a inteligência emocional deverá ser utilizada. Para que a felicidade pessoal possa voltar a ser um objectivo realista na vida de cada um.

Fonte:Activa.pt

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