terça-feira, 29 de junho de 2010

FELICIDADE

O ser humano vive em constante busca pela felicidade, ainda que a sua definição seja um tanto quanto controversa.

O que é felicidade para uma pessoa pode não ser para outra, de modo que há de se considerar o local onde se vive, a época, a cultura predominante, os valores estabelecidos, entre outras questões circunstanciais.

Alguns acreditam que felicidade não existe, pois o que há na vida são momentos felizes. Certamente seria utópico pensarmos em uma vida inteira de felicidade, mesmo que se usufruindo de uma situação abastada, pois os bens materiais não garantem a plena felicidade. Aliás, vemos muitas pessoas com perfeitas condições e oportunidades para serem felizes, porém sem a menor satisfação ou alegria de viver. Da mesma forma, podemos constatar a existência de pessoas de origem humilde, sobrevivendo com o mínimo e que, no entanto, transbordam de alegria pelo simples fato de estarem vivas e em condições de sonhar e lutar por uma vida melhor. Algumas vezes nos chocamos ao conhecermos pessoas que sofrem de algum tipo de deficiência ou alguma doença grave e que, ainda assim, conseguem ser exemplos de força e fé, superando obstáculos inimagináveis.

Algumas religiões defendem que a felicidade não é um objetivo em si, um destino, e sim a viagem, o percurso em busca da mesma. O simples fato de se estar vivo já é um evento feliz, pois encerra em si infinitas possibilidades de buscas e realizações.

Nosso passado, nossa história é naturalmente o alicerce do que construímos no decorrer dos anos. É o pano de fundo do que temos no presente, sem nem mesmo nos darmos conta em alguns momentos. Muitas pessoas vivem de forma infeliz por conta de inúmeras cicatrizes trazidas de outros tempos, como: sentimentos de menos valia, frustrações, mágoas, rejeições e uma série de episódios desastrosos.

É importante pararmos e refletirmos sobre nossas experiências vividas, entendendo que o mais significativo não é o que de fato nos aconteceu, mas sim o que fizemos com o que nos aconteceu. Tudo passa pela nossa leitura interior sobre a realidade que nos cerca. Um mesmo episódio tem peso diferente para as pessoas, já que cada um enxerga pela sua ótica, reagindo diferentemente aos fatos. A forma como reagimos está no nosso campo de decisão, enquanto que as situações passadas estavam na maioria das vezes fora do nosso controle.

Alguns conseguem a façanha de não permitir que certos fatos passados interfiram no presente, de forma a comprometer a qualidade vida, o que certamente não é o caso da maioria. O mais comum é notarmos que as pessoas sofrem pelo simples fato de não terem tido a oportunidade de aprenderem a gostar de si mesmas. Quem de nós teve o privilégio de ter uma educação que envolvesse questões voltadas para a auto-estima e a possibilidade de se enxergar como alguém capaz de se aceitar com seus pontos fortes e fracos. Ninguém nos ensinou a gostar de nós mesmos, e isso gera nas pessoas uma ausência de si mesmas e a necessidade de buscar no outro a satisfação de seus desejos e necessidades.

Acabamos colocando sobre os ombros do outro a responsabilidade por nos fazerem felizes, muitas vezes massacrando e torturando o outro, o que é completamente injusto. Isso quando não buscamos a compensação na comida, em vícios ou coisas parecidas. É como se houvesse um grande vazio interior a ser preenchido, algo que grita e busca desesperadamente pela completude.

A velha crença que diz a respeito de buscarmos no outro “a metade da laranja” já traz a conotação negativa de que não somos inteiros, pois valemos metade, e que sempre dependeremos de alguém que nos complete. O correto seria termos duas pessoas inteiras, convivendo e usufruindo do prazer da companhia do outro, sem qualquer tipo de dependência.

Buscar na vida a dois, no casamento, uma correção de rota para a própria vida é um grande erro, pois nem sempre as coisas acontecem como gostaríamos, já que ambos partem para o relacionamento com várias expectativas que nem sempre o outro tem conhecimento. E o que acontece quando temos expectativas não atendidas? Os sonhos se desmoronam e o que deveria ser uma doce experiência de compartilhar momentos, torna-se um pesadelo cheio de dores, mágoas e decepções.

Fritz Perls escreveu a Oração da Gestalt, que de forma simples e objetiva nos mostra como seria mais fácil viver se a praticássemos:

“Eu sou eu. Você é você. Eu faço as minhas coisas e você faz as suas. Eu não vim a este mundo para viver de acordo com as suas expectativas e você não veio para viver de acordo com as minhas. Se por acaso nos encontrarmos, será lindo. Se não, nada há a fazer.”

Na medida em que se tem na infância um ambiente familiar com falta de apoio e da sensação de ser querido, somado a situações de constrangimentos na vida escolar (o que é bastante comum) temos o cenário perfeito para o desenvolvimento de uma pessoa com baixa auto-estima. Isso geralmente leva a um sofrimento interior bem intenso e que, muitas vezes, nem se tem consciência. Como resultado, a pessoa não se sente bem consigo mesma, culpa-se com muita freqüência, apresenta dificuldades de relacionamento e sofre com pequenas coisas que não deveria se importar, pois tornou-se sensível a tudo que possa desqualificá-la mais do que já se sente inferiorizada. Ou seja, a vida vira um verdadeiro inferno, pois os sentimentos negativos acabam predominando e trazendo a “comprovação” da incapacidade de construir a própria felicidade.

Chatear-se porque alguém não gostou de algo que fizemos ou dissemos é normal, pois é muito mais prazeroso viver de forma harmoniosa com os que nos cercam. Porém, infelizmente é impossível agradarmos a todos o tempo inteiro. Viver em função de agradar o outro para sentir-se aprovado e querido é algo bastante perigoso, pois nem sempre o que agrada a um agrada ao outro. E, o pior, ficar na expectativa de aprovação alheia para nos sentirmos bem é bem delicado, pois nem sempre o outro aprova ou demonstra que aprova nossas ações. Esse tipo de atitude pode trazer sofrimento exatamente pelo fato de deixarmos nas mãos do outro a responsabilidade por nos fazer felizes, e também por nos colocarmos em segundo plano, não considerando o que de fato gostaríamos de fazer, e sim o que seria bom fazer para contentar o outro.

Em síntese, entendo que a felicidade está no simples fato de nos amarmos, para depois amarmos os outros. Entender a vida como uma grande oportunidade de construir e de ser útil à humanidade é algo espetacular. E isso torna-se mais fácil quando aceitamos que somos seres imperfeitos, mas que mesmo assim podemos nos sentir dignos de nos amar e sermos amados. Somos todos como estrelas que brilham no céu. Uns parecem brilhar mais que os outros, porém o que ocorre é que todos brilham igualmente. A diferença está apenas na distância existente entre nós e que nos traz a ilusão de brilho maior ou menor.

sábado, 26 de junho de 2010

A baixa auto-estima infantil


O ambiente familiar é o fator que mais influencia na auto-estima das crianças. Constantemente nossa auto-estima se vê afetada pelas experiências e exigências que recebemos do mundo exterior. A sociedade exige que nos moldemos e que sigamos padrões de comportamentos, escolhas, iguais aos da maioria.

E se não cumprimos os requisitos exigidos, nossa auto-estima, ainda que positiva, pode ser abalada. Por essa razão, a construção de uma auto-estima positiva deve ser sólida em todos os momentos da vida da criança. Somente assim, ela não se sentirá inferior por ter um corte de cabelo que goste mas não agrada aos demais.

Consequências de uma baixa auto-estima
Uma baixa auto-estima pode desenvolver nas crianças, sentimentos como a angústia, a dor, o desânimo, a preguiça, a vergonha, e outros sentimentos ruins. Em razão disso, manter uma auto-estima positiva é uma tarefa fundamental para o crescimento das crianças.

Dentro de cada um de nós, existem sentimentos ocultos que muitas vezes não percebemos. Os maus sentimentos, como a dor, a tristeza, o rancor, e outros, se não remediados, acabam convertendo-se e ganhando formas distintas. Esses sentimentos podem levar uma pessoa não somente a sofrer depressões contínuas, como também a ter complexo de culpa, mudanças repentinas de humor, crise de ansiedade, de pânico, reações inexplicáveis, indecisões, inveja excessiva, medos, hipersensibilidade, pessimismo, impotência e outros males.

Falta de interesse e valor próprio

Uma baixa auto-estima também pode levar uma pessoa a sentir-se desvalorizada, e, em razão disso, a estar sempre comparando-se com os demais, supervalorizando as virtudes e as capacidades dos demais. Os vêem como superiores a ela. Sente que jamais chegará a ser como elas. Essa postura pode levá-la a não ter objetivos, a não ver sentido em nada, e a convencer-se de que é incapaz de conseguir qualquer coisa que se proponha. O que acontece é que não consegue compreender que todos somos diferentes e únicos, e que ninguém é perfeito. Que todos erramos e começamos de novo.

É dentro do ambiente familiar, principal fator que influencia na auto-estima, onde as crianças vão crescendo e formando sua personalidade. O que sua famílida pensa dela, é de fundamental importância. Em razão disso, é recomendável que os pais não se esqueçam das conquistas dos seus filhos. Se o bebê começa a andar, mas os maiores vêem a situação como uma obrigação, e não como uma conquista do bebê, a criatura não se sentirá suficientemente estimulada a seguir se esforçando para conseguir outras conquistas, para superar-se.

O importante em todo o processo de crescimento dos nossos filhos é que demos a eles a possibilidade de ser, de sentir-se bem com eles mesmos. Que nosso esforço esteja vinculado ao afeto, ao carinho, à observação, a valorizar suas qualidades, e apoiá-los quando algo vai mal. E para isso é necessário conhecê-los a cada dia, favorecendo os encontros, as conversas, e o contato físico.

Fonte: guiainfantil.com

Adaptação ao Outro

O ser humano, apesar dos milhares de anos aprendendo a se adaptar à natureza, sobrevivendo às intempéries, aos terremotos, aos animais ferozes, às epidemias e à toda sorte de dificuldades e perigos que o mundo e a vida impõem, continua hoje sofrendo e sendo vítima daquilo que sempre lhe pareceu o menor dos perigos: seu semelhante e ele mesmo.

É muito difícil tratar da importante questão de nosso relacionamento com os outros, principalmente quando esse outro é nosso cônjuge.

Durante toda a vida podemos experimentar algum sofrimento, mágoa ou desencanto com nosso próximo e, não obstante, este sofrimento, mágoa e desencanto serão tão maiores quanto mais desconhecemos nosso próximo. Aliás, conhecer nosso próximo só será possível na medida em que conhecemos a nós mesmos.

Uma das maiores dificuldade de convivência entre as pessoas se baseia no fato do ser humano se apresentar um ser social por natureza e, simultaneamente, também um ser egocêntrico.

Por sermos sociais, somos incapazes de viver sozinhos no mundo e, por sermos egocêntricos somos, ao mesmo tempo, incapazes de conceder aos nossos semelhantes as mesmas regalias que nos concedemos. Portanto, sozinhos não conseguimos viver e, paradoxalmente, com os outros também nos parece difícil.

Para compensar essa peça que a natureza nos pregou, fomos dotados de um atributo muito especial: somos capazes de mudar.

Trata-se do livre arbítrio ou seja, da capacidade de mudanças, de procurar um amanhã melhor que o hoje. Normalmente nossa evolução acontece através de mudanças em posturas e em atitudes diante dos semelhantes e da vida.

Quando sofremos alguma mágoa ou frustração produzida por outra pessoa, incluindo aqui nosso cônjuge, a possibilidade que deve ser cogitada é se não seria melhor pleitear uma mudança em nossa própria postura, no sentido de não nos magoarmos com facilidade, nem nos frustrarmos por qualquer coisa, do que tentar fazer da mudança no outro nosso modelo de ideal.

Sentindo magoados, aborrecidos, irritados e frustrados, independente de ter sido ou não a intenção do outro, a culpa maior será de nossa sensibilidade e não do outro. Nessas situações os sentimentos de humilhação que experimentamos refletem nosso orgulho ofendido.

Outras vezes nos sentimos frustrados porque o outro não satisfaz nossas expectativas. Ora essas expectativas são nossas, construídas por nós, portanto, de nossa autoria. Isso quer dizer que somos responsáveis por nossos sentimentos mas, sobre sentimentos dos outros não temos nenhum acesso.

Em segundo lugar, mesmo sendo intenção do outro nos magoar, humilhar, frustrar ou irritar, nos momentos de conflito, se estivermos muito bem conosco mesmo, jamais nos deixaremos abater por tais sentimentos.

Fonte psiqweb

sexta-feira, 25 de junho de 2010

A importância de se detectar a depressão em crianças


É difícil imaginar que haja, no ensino primário das escolas, crianças depressivas. É ainda mais difícil imaginar uma criança em idade pré-escolar e depressiva ao mesmo tempo. Mesmo sendo cada vez mais fácil de reconhecer e tratar esse transtorno em crianças, apenas recentemente os pesquisadores iniciaram estudos sobre esse mal em crianças com idades inferiores a 6 anos.
Em uma pesquisa publicada no periódico Current Directions in Psychological Science, Joan Luby, da Universidade de Washington, EUA, apontou a importância da detecção precoce em crianças.

A pesquisadora aponta que a depressão em crianças com idade pré-escolar não tem as mesmas características encontradas em crianças mais velhas ou mesmo em adultos – talvez por isso esse transtorno seja negligenciado. Em adultos, por exemplo, a anedonia – perda da capacidade de sentir prazer – se reflete principalmente por meio da diminuição ou perda da libido. Nos pré-escolares, entretanto, isso se traduz na incapacidade de gostar de brincar.

Fora isso, os pais dessas crianças também não conseguem enxergar o avanço do transtorno, pois os sintomas não são contínuos. Essas crianças não se mostram extremamente tristes (como acontece com os adultos) e pode até mesmo ter períodos em que os sintomas não se manifestem.

Reconhecimento do transtorno

O reconhecimento desse tipo de depressão é feito por testes específicos aplicados por profissionais de saúde mental. E a partir dessas entrevistas é possível observar os sintomas clássicos de depressão, como falta de vontade de fazer as tarefas diárias, sensação de culpa e mudanças no padrão de sono.

A pesquisa também sugere que a depressão infantil precoce não é uma condição temporária, mas sim a manifestação inicial de um transtorno crônico que pode piorar com o tempo. Estudos anteriores já demonstraram que os pré-escolares depressivos também mostram os traços depressivos mais intensos durante a infância e na adolescência.

Por conta desse efeito em longo prazo, a identificação e a intervenção da depressão infantil precoce é importante. O fato dessas crianças ainda terem uma grande plasticidade cerebral – a potencialidade do cérebro de se adaptar a novas experiências e eventos, é um fator positivo. Intervenções nessa idade costumam ter grande eficiência. E apesar de poucas pesquisas sobre o tema, o uso de antidepressivos ainda é bastante questionado. Nessa idade sugere-se o acompanhamento psicoterápico.

com informações da Association for Psychological Science

Pessoas Desconfiadas

A desconfiança permanente é um sinal inconfundível de paranóia. Pessoas com distúrbio paranóide de personalidade estão constantemente em guarda, por enxergarem o mundo como um lugar ameaçador. Tendem a confirmar suas expectativas, agarrando-se a mínimas evidências que confirmem suas suspeitas, e ignoram ou distorcem qualquer prova em contrário. Estão sempre alertas, procurando sinais de alguma ameaça.

Qualquer pessoa em uma situação nova — nos primeiros dias em um emprego ou iniciando um relacionamento, por exemplo — é cautelosa e de certa forma reservada, até sentir que seus temores são infundados. Pessoas com paranóia não conseguem abandonar seus temores. Continuam a esperar por armadilhas e duvidam da lealdade dos outros. No relacionamento pessoal ou no casamento, essa desconfiança pode apresentar-se sob a forma de ciúme patológico e infundado.

Por estarem excessivamente alertas, as pessoas com distúrbio paranóide de personalidade percebem qualquer minúcia e podem ofender-se sem motivo. Em conseqüência, tendem a ser excessivamente defensivas e hostis. Quando cometem algum erro, não reconhecem a culpa, nem aceitam a mais leve crítica. Entretanto, são extremamente criticas em relação aos outros. Pode-se dizer que tais pessoas fazem “tempestade em copo d’água”.

Além de serem polemistas e irredutíveis, as pessoas com distúrbio paranóide de personalidade têm dificuldade de manter vínculos afetivos. Parecem frias e evitam relacionamentos interpessoais. Orgulham-se de serem racionais e objetivas. Pessoas com uma perspectiva paranóide em relação à vida raramente procuram auxílio médico - não faz parte de sua natureza pedir ajuda. Profissionalmente podem atuar com competência. Pode procurar redutos sociais onde o estilo moralista e punitivo seja aceitável ou, até certo ponto, tolerável.
Fonte:Psiquiatria Geral .

(David Shoe, David Picka , Darryl G.Kirch)

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Os limites da Escola, dos Pais e dos Professores

No Brasil, aparentemente a política do ensino público ensinar parece estar sendo menos importante que manter a criança na escola. A tática de obter resultados da aprovação quase automática ano-a-ano, faz com que os transtornos emocionais dos alunos, externados através de condutas desviantes, anômalas, rebeldes, indisciplinadas, inconseqüentes e toda sorte de atitudes jamais imaginadas há poucas décadas, constituam uma excelente oportunidade para reflexões honestas sobre os limites e as possibilidades do professor e da estrutura escolar.

Se, infelizmente, as crianças carreiam suas mazelas emocionais para dentro da escola, e se essas mazelas estão sendo lidadas adequadamente ou não, posso dizer por experiência da clínica, que também os professores carreiam suas frustrações, depressões e ansiedades geradas na escola para dentro dos consultórios psiquiátricos, com a desvantagem de não se dispor de tanta literatura especializada a respeito quanto existem sobre a problemática infanto-juvenil.

A noção cultural em torno da infância e da adolescência varia de acordo com a época. Na Idade Média, por exemplo, a duração da infância era reduzida ao mínimo possível, provavelmente devido à necessidade da mão de obra dos infantes. Logo que a criança manifestasse uma certa autonomia de movimentos, era automaticamente incluída no mundo dos adultos, na condição de um pequeno adulto, apto, portanto, à produção.

Antes de meados da década de 60 as regras comportamentais dentro de casa eram algo mais rígidas. Quando as coisas não saiam de acordo com a orientação paterna, haviam os castigos, o corte das regalias e ponto final. Depois dessa fase, veio a época dos acordos entre pais e filhos, a recomendação politicamente correta dos diálogos, discussões e decisões conjuntas.

Com o psicologismo vigente da década de 70, quando cada autor queria se sobressair mais que o outro, através de tendências e teorias esdrúxulas e inusitadas, a infância e adolescência passaram a ter uma autonomia desmedida, algo imerecida e muitas vezes irresponsável. Liberdade era a palavra chave, muitas vezes confundida com irrsponsabilidade e inconseqüência, e não apenas das próprias crianças e adolescentes mas, inclusive, dos próprios pais.

Um bom exemplo da propalada individualidade da criança e/ou adolescentes era a inviolabilidade de seu quarto, transformado em fortim e território inexpugnável, onde eles reinavam e se autodeterminavam. Os pais que não se adequassem à nova moda eram retrógrados e "caretas", quase candidatos a tratamentos psiquiátricos e orientações psicológicas.

Hoje, a atual conjuntura psicológica questiona seriamente a liberdade total das crianças e adolescentes e, reconhece-se com tristeza, que a tática das "rédeas soltas" desembestou por caminhos de retorno muito problemático.

Embora não se pretenda um retrocesso à tirania que se submetiam os jovens no início do século XX, também não tem mostrado sucesso o excesso de liberdade, pois os extremos são perigosos, tanto por falta quanto por excesso.

O problema é que os jovens de hoje em dia já nasceram em uma cultura bastante marcada pela educação liberal e a delimitação dos limites de conduta se transformou em tarefa difícil, quase impossível, tamanha oposição que sofrem pais e educadores pela conjuntura social moderna. As limitações, proibições ou cerceamentos das atitudes dos adolescentes precisam ser acompanhadas de boas justificativas e explicações. Notadamente quando se deparam com a afirmativa de que "todos" fazem assim.

A escola, tanto quanto o lar, teve que se adequar a essa tendência "libertadora", e eram mais "legais" quanto mais permissivos fossem os professores, as escolas ou os pais. Surgiram assim as mães e pais tão amigos dos filhos a ponto de comprometerem o próprio papel materno e paterno, apareceram as professoras "mãezonas", que temendo um rótulo de conservadoras, assumem uma postura excessivamente permissiva e uma atitude ridiculamente jovial. Esses tipos de professores invertem os papeis e, ao invés de estimularem seus alunos para que eles tenham uma postura mais adulta e responsável, submetem-se à posição limítrofe entre o modernismo e a omissão. Decididamente, poucas dessas "mãezonas" servirão de exemplo vívido nas memórias de seus alunos como alguém a ser seguido e cultuado.

Fonte: Psiqweb

Transtornos Emocionais na Escola

A escola oferece um ambiente propício para a avaliação emocional das crianças e adolescentes por ser um espaço social relativamente fechado, intermediário entre a família e a sociedade. É na escola onde a performance dos alunos pode ser avaliada e onde eles podem ser comparados estatisticamente com seus pares, com seu grupo etário e social.

Com algum preparo e sensibilidade o professor estaria mais apetrechado do que os próprios pediatras, dispondo de maior oportunidade para detectar problemas cruciais na vida e no desenvolvimento das crianças.

Dentro da sala de aula há situações psíquicas significativas, nas quais os professores podem atuar tanto beneficamente quanto, consciente ou inconscientemente, agravando condições emocionais problemáticas dos alunos. Os alunos podem trazer consigo um conjunto de situações emocionais intrínsecas ou extrínsecas, ou seja, podem trazer para escola alguns problemas de sua própria constituição emocional (ou personalidade) e, extrinsecamente, podem apresentar as conseqüências emocionais de suas vivências sociais e familiares.

Como exemplo de condição emocional intrínseca estão os problemas psíquicos inerentes à própria pessoa, próprias do desenvolvimento da personalidade, dos traços herdados e das características pessoais de cada um. Incluem-se aqui os quadros associados aos traços ansiosos da personalidade, como por exemplo a Ansiedade de Separação na Infância, os Transtornos Obsessivo-Compulsivos, o Autismo Infantil, a Deficiência Mental, Déficit de Atenção. Incluem-se também os quadros associados aos traços depressivos da personalidade, como é o caso da Depressão na Adolescência, Depressão Infantil , e outros mais sérios, associados à propensão aos quadros psicóticos, como a Psicose Infantil, Psicose na Adolescência e associados aos transtornos de personalidade, a exemplo dos Transtorno de Conduta, entre outros.

Entre as questões externas à personalidade capazes de se traduzirem em problemas emocionais, encontram-se as dificuldades adaptativas da Adolescência e Puberdade, do Abuso Sexual Infantil, os problemas relativos à Criança Adotada, à Gravidez na Adolescência, à Violência Doméstica, aos problemas das separações conjugais dos pais, morte na família, doenças graves, etc.

O preparo e bom senso do professor é o elemento chave para que essas questões possam ser melhor abordadas. A problemática varia de acordo com cada etapa da escolarização e, principalmente, de acordo com os traços pessoais de personalidade de cada aluno. De um modo geral, há momentos mais estressantes na vida de qualquer criança, como por exemplo, as mudanças, as novidades, as exigências adaptativas, uma nova escola ou, simplesmente, a adaptação à adolescência.

As crianças e adolescentes, como ocorre em qualquer outra faixa etária, reagem diferentemente diante das adversidades e necessidades adaptativas, são diferentes na maneira de lidar com as tensões da vida. É exatamente nessas fases de provação afetiva e emocional que vêem à tona as características da personalidade de cada um, as fragilidades e dificuldades adaptativas.

Erram, alguns professores menos avisados, ao considerar que todas as crianças devessem sentir e reagir da mesma maneira aos estímulos e às situações ou, o que é pior, acreditar que submetendo indistintamente todos alunos às mais diversas situações, quaisquer dificuldades adaptativas, sensibilidades afetivas, traços de retraimento e introversão se corrigiriam diante desses “desafios” ou diante da possibilidade do ridículo. Na realidade podem piorar muito o sentimento de inferioridade, a ponto da criança não mais querer freqüentar aquela classe ou, em casos mais graves, não querer mais ir à escola.

Para as crianças menores, por exemplo, existem as ameaças ou a ridicularização pelas mais velhas, e esse sentimento de ridicularização é tão mais contundente quanto mais retraída e introvertida é a criança. Já, para os adolescentes, as ameaças de ansiedade geradas em ambiente intraclasse são o desempenho aquém da média nos times esportivos, nos trabalhos em grupo, as diferenças sócio-econômicas entre os colegas, as diferenças no estilo e nas possibilidades de vida, no vestuário, etc.

Como se sabe, a escola é um universo de circunstâncias pessoais e existenciais que requerem do educador (professor, dirigente ou staff escolar), ao menos uma boa dose de bom senso, quando não, uma abordagem direta com alunos que acabam demandando uma atuação muito além do posicionamento pedagógico e metodológico da prática escolar.

O tão mal afamado "aluno-problema", pode ser reflexo de algum transtorno emocional, muitas vezes advindo de relações familiares conturbadas, de situações trágicas ou transtornos do desenvolvimento, e esse tipo de estigmatização docente passa a ser um fardo a mais, mais um dilema e aflição emocional agravante. Para esses casos, o conhecimento e sensibilidade dos professores podem se constituir em um bálsamo para corações e mentes conturbados.

1 - Fatores Extrínsecos capazes de causar Transtornos Emocionais
Jane Madders (Maders J - Relax and be happy. Union Paperbacks 1987) trabalhou com uma classe do curso primário e com seus colegas na elaboração de uma lista de fatos e acontecimentos importantes capazes de produzir transtornos emocionais. A partir de tais eventos Madders elaborou uma lista de gravidade relativamente decrescente, pois, o grau de importância desses eventos pode variar de acordo com a faixa etária:

Ranking dos eventos
1. Perda de um dos pais (morte ou divórcio)
2. Urinar na sala de aula
3. Perder-se; ser deixado sozinho
4. Ser ameaçado por crianças mais velhas
5. Ser o último do time
6. Ser ridicularizado na classe
7. Brigas dos pais
8. Mudar de classe ou de escola
9. Ir ao dentista/hospital
10. Testes e exames
11. Levar um boletim ruim para casa
12. Quebrar ou perder coisas
13. Ser diferente (sotaque ou roupas)
14. Novo bebê na família
15. Apresentar-se em público
16. Chegar atrasado na escola


A partir dessa lista, podemos ver alguns fatores aflitivos do dia-a-dia dos alunos. Por exemplo, observe-se que urinar na sala de aula é a segunda maior preocupação e, por comparação, um novo bebê na família aparece em 14o. lugar. Isso sugere que, para uma criança ou adolescente em idade escolar, as coisas que a depreciam diante de seus colegas podem provocar níveis mais elevados de frustração, estresse, ansiedade ou depressão.

O mesmo fenômeno pode acontecer com as minorias étnicas ou dos alunos culturalmente diferentes, como por exemplo, portadoras de sotaque. Evidentemente não devemos nunca esquecer que algumas crianças são mais vulneráveis a transtornos emocionais do que outras.

As variáveis ambientais, particularmente aquelas que dizem respeito ao funcionamento familiar, também podem influenciar muito a resposta das crianças e adolescentes aos estressores escolares e, conseqüentemente, ao surgimento de algum transtorno emocional. Há uma espécie de efeito de proteção exercido pelos bons relacionamentos familiares que se estende até a adolescência.

Separação dos Pais
Uma das mais comuns experiências ambientais, hoje em dia, capazes de determinar alterações emocionais nos alunos é a separação conjugal dos pais. Na escala de Madders vem em primeiro lugar.

Durante os momentos difíceis da separação conjugal, tanto os pais quanto, de um modo geral, a própria criança (um pouco menos, em relação aos adolescentes) esperam que os professores assumam uma atitude mais incisiva e uma maneira mais compreensiva e afetuosa ao lidar com o aluno emocionalmente abalado.

Mesmo quando os pais finalmente se separam, as crianças geralmente precisam de algum tempo (2 anos ou mais) para se adaptar à nova situação. Tudo leva a crer ser preferível que os pais que estão se separando deixem claro o rompimento, apesar desta atitude poder ser muito angustiante para os filhos, procurando oferecer explicações compatíveis com o grau de entendimento das crianças.

As pesquisas sugerem que quanto menores forem os filhos, menos desejam a separação dos pais, ainda que o relacionamento entre eles seja bastante problemático. A maioria dos filhos pequenos prefere que os pais permaneçam juntos e, mesmo após o divórcio ou o novo casamento, ainda fantasiam a possibilidade de uma reconciliação. Elas passam por um processo semelhante ao da perda e do luto.

As crianças em idade escolar são perfeitamente capazes de observar e vivenciar qualquer clima de hostilidade e animosidade entre seus pais. Ainda que na fase pré-separação a tática de beligerância dos pais seja do tipo "agressão pelo silêncio", dependendo da idade da criança haverá percepção sobre o tipo de clima que existe entre o casal e que o casamento está atravessando sérias dificuldades.

A auto-estima da criança é fortemente beneficiada pelo sentimento de fazer parte de uma identidade herdada dos pais (de ambos). Suas características geralmente são comentadas por amigos e parentes, comparando-a com os pais, e tornam-se parte da identidade pessoal da criança.

Durante a separação e depois dela, as críticas que os pais fazem um ao outro podem levar a criança a sentir que parte da sua própria identidade também é ruim e sem valor. Freqüentemente, há uma dramática perda de auto-estima durante a separação e o divórcio e isso pode levar ao isolamento social, revolta, agressividade, desatenção, enfim, alterações comportamentais próprias de um estado depressivo (típico ou atípico). Essas alterações no comportamento do aluno podem ser considerados um aviso sobre a necessidade de ajuda e apoio.

O que pode melhorar a afetividade das crianças na separação conjugal dos pais são informações claras e homestas sobre o futuro. Mas nem sempre os próprios pais sabem muito a esse respeito, tornando a iniciativa dos professores nesse sentido muito mais difícil.

Algumas crianças consideram a escola como um refúgio dos problemas familiares pois, tanto o ambiente escolar quanto os professores, continuam constantes em sua vida durante esse período de grande reviravolta existencial. Mesmo assim, nem sempre esses alunos aceitarão conversar a respeito das dificuldades que enfrentam em casa (neste caso, a separação). Novamente, serão as alterações em seu desempenho e comportamento que denunciarão a existência de problemas emocionais.

A sensação de solidão, tristeza e a dificuldade de concentração na escola, tudo isso contribui para uma depressão infantil ou da adolescência, complicando muito o inter-relacionamento pessoal e o rendimento escolar. Pode haver dificuldade de concentração, motivação insuficiente para completar tarefas, comportamento agressivos com os colegas e faltas em excesso. Não se afasta, nesses casos, a necessidade dos professores orientarem algum ou ambos os pais para a procura de ajuda especializada para o aluno.


Fonte: Psiqweb

terça-feira, 22 de junho de 2010

Família e Transtornos Emocionais

É dispensável relacionar aqui as situações familiares bizarras e extremas, capazes de prejudicar o bom desenvolvimento emocional de seus membros, incluindo os filhos, cônjuge, netos, sobrinhos e até o cachorro da casa. Normalmente essas situações dizem respeito ao alcoolismo, drogadicção, histerias de várias formas, violência doméstica, chantagens emocionais, enfim, toda sorte de excessos capazes de perturbar o bom andamento das coisas familiares.

Pode parecer estranho mas, de fato, o que interessa considerar aqui é o exercício da maldade, tortura e crueldade. Mas não se trata da maldade, tortura e crueldade clássicas e francas. Aí ficaria muito fácil diagnosticar a dinâmica familiar deturpada. Mas não, o que nos interessa é o exercício da maldade, tortura e crueldade exercidas velada e dissimuladamente. Esse tipo disfarçado de crueldade e maldade inclui toda espécie de chantagens emocionais, cerceamentos de liberdade, desrespeito, omissões e opressões que familiares dirigem uns contra os outros de forma surda, calada e, muitas vezes, socialmente irreprimível.

Esse tipo de família onde existem pessoas capazes de gerar ansiedade e mal estar emocional em outros familiares, constitui aquilo que chamamos de Família de Alta Emoção Expressa. O termo Alta Emoção Expressa foi adotada, inicialmente, para indicar características de famílias que favoreciam a recaída dos sintomas de pacientes psiquiátricos. Hoje em dia, podemos empregar o termo para designar famílias que favorecem o desenvolvimento de estados emocionais desconfortáveis.

Na maior parte das vezes, o discurso de tais famílias nos dá a impressão de que todos são ótimos e desejam ardentemente o bem estar dos demais. Mas, avaliando com mais cuidado, surdamente, nas entrelinhas e dissimuladamente, veremos que, as coisas são feitas de forma a piorar o estado emocional dos demais ou de alguém, especificamente.

Os trabalhos de pesquisa que investigam a atividade dessas famílias psicopatogênicas utilizam escalas de avaliação que privilegiam três aspectos (Entrevista Familiar de Camberwell - EFC):

1. O número de comentários críticos, mordazes, amargos ou depreciativos,
2. A presença de hostilidade, direta ou dissimulada e
3. O nível de envolvimento emocional estressante (scazufca, 1998).

A existência de famílias com características psiquiatricamente mórbidas foi suspeitada, de forma científica, em 1959. As conclusões do primeiro estudo de George Brown, em 1959, apontaram para uma possível associação entre a qualidade das relações familiares e o desenvolvimento da doença mental do paciente.

No primeiro desses estudos, Brown (1959) observou que alguns pacientes que tinham alta de hospitalização psiquiátrica e passavam a viver com os pais ou cônjuges, tinham uma evolução pior que a evolução dos pacientes que passavam a viver sozinhos. Brown achou que o “defeito” estava na família desses pacientes; e tinha razão.


As Agressões Emocionais
Agressões Emocionais são aquelas que, independentemente do contacto físico, ferem moralmente. A Agressão Emocional, como nas agressões em geral, depende do agente agressor e do agente agredido. Quando não há intencionalidade agressiva e o agente agredido se sente agredido, independentemente da vontade do agressor, a situação reflete uma sensibilidade exagerada de quem se sente agredido.

Havendo intencionalidade do agressor, o mal estar emocional produzido por sua atitude independe da eventual sensibilidade aumentada do agente agredido e outras pessoas submetidas ao mesmo estímulos, se sentiriam agredidas também.

A Agressão Emocional é especialidade do meio familiar, chegando-se ao requinte de agredir intencionalmente com um falso aspecto de estar fazendo o bem ou de não saber que está agredindo.

O simples silêncio pode ser uma agressão violentíssima. Isso ocorre quando algum comentário, uma posição ou opinião é avidamente esperado e a pessoa, por as vez, se fecha num silêncio sepulcral, dando a impressão politicamente correta de que “não fiz nada, estava caladinho em meu canto...”. Dependendo das circunstâncias e do tom como as coisas são ditas, até um simples “acho que você precisa voltar ao seu psiquiatra” é ofensivo ao extremo, assim como um conselho falsamente fraterno, do tipo “não fique nervoso e não se descontrole”.

Não é o freqüente, na família, a agressão sem intencionalidade de agredir, ou seja, a agressão que é sentida pelo agente agredido, independentemente da vontade do agressor. Normalmente, pelo fato da família ser um grupo onde seus membros têm pleno conhecimento da sensibilidade dos demais, mesmo que a situação de agressão refletisse uma sensibilidade exagerada de quem se sente agredido, o agressor não-intencional deveria ter plena noção das conseqüências de seus atos. Portanto, argumentar que “não sabia que você era tão sensível” é uma justificativa hipócrita.

As atitudes agressivas refletem a necessidade de uma pessoa produzir alguma reação negativa em outra, despertar alguma emoção desagradável. As razões dessa necessidade são variadíssimas e dependem muito da dinâmica própria de cada família. Podem refletir sentimentos de mágoa e frustrações antigas ou atuais, podem refletir a necessidade de solidariedade emocional não correspondida (estou mal logo, todos devem ficar mal), podem representar a necessidade de sentir-se importante na proporção em que é capaz de mobilizar emoções no outro.... enfim, cada caso é um caso.

Tipos de Agressão Emocional:

1 – Estimular sentimentos de preocupação, remorso e/ou culpa.
2 – Estimular sentimentos de inferioridade e dependência.
3 – Comportamento opositor e aversivo.



Agressões Emocionais na Família
1 - Estimular sentimentos de preocupação, remorso e/ou culpa

Um tipo comum de Agressão Emocional é a que se dá sob a autoria dos comportamentos histéricos, cujo objetivo é mobilizar emocionalmente o outro para satisfazer a necessidade de atenção e de importância da pessoa que agride. A intenção do agressor histérico é mobilizar outros membros da família, tendo como chamariz alguma doença, alguma dor, algum problema de saúde, enfim, algum estado que exija atenção, cuidado, compreensão e tolerância (veja Transtornos Histéricos).

No histérico, o traço prevalente é o “histrionismo”, palavra que significa teatralidade. O histrionismo é um comportamento caracterizado por colorido dramático e com notável tendência em buscar contínua atenção.

Normalmente a pessoa histérica conquista seus objetivos através de um comportamento afetado, exagerado, exuberante e por uma representação que varia de acordo com as expectativas da platéia. Mas a natureza do histérico não é só movimento e ação; quando ele percebe que ficar calado, recluso, isolado no quarto ou com ares de “não querer incomodar ninguém” é a atitude de maior impacto para a situação, acaba conseguindo seu objetivo comportando-se dessa forma.


Os pacientes histriônicos exageram seus pensamentos e sentimentos, apresentam acessos de mau humor, lágrimas e acusações sempre que percebem não serem o centro das atenções ou quando não recebem elogios e aprovações. Há grande possibilidade das “doenças” do histérico piorarem quando sente que alguém da família não está reservando parte de sua vida para preocupar-se com ele, quando alguém está se preparando para passear, sair, divertir-se.

Representar papéis é a especialidade mais meritosa da pessoa histérica, assim sendo, com muita propriedade, ela representa a mãe zelosa e preocupada, podendo estar sofrendo do coração, piorando quando fica “nervosa”, “passando mal” quando contrariada ou preocupada, e assim por diante.

Essa tentativa (e sucesso) da pessoa histérica em conseguir quase tudo através da mobilização emocional dos demais membros da família causa, cronicamente, um expressivo Sofrimento Emocional. O sentimento de culpa aparece quando alguém percebe que o histérico da família “adoeceu” por sua causa.

Se forem os pais os histéricos, normalmente tendem a chamar atenção quando o(s) filho(s) saem, arranjam namorado(a), deixam de cumprir seus compromissos, se comportam de maneira não esperada, etc. A postura histérica, com suas características de somatizações, surge ainda quando não há reconhecimento festivo de seus esforços para manter a família, da maneira heróica com que lidam com a vida.

Os sintomas histéricos acabam resultando em sentimentos de culpa ou remorso quando, sabidamente, aparecem se a pessoa ficar contrariada. Os familiares acabam sabendo que aquele mal estar e sofrimento da pessoa doente poderiam ser evitados se a pessoa não se aborrecesse, se todos não a deixassem nervosa.

Sendo histéricos os filhos, a teatralidade aparece como justificativa, mais que plausível, pelos fracassos e falhas do cotidiano, pela impotência na solução dos problemas e eventuais insucessos.

Fonte: Psiqweb

Começaram as Inscrições para o ENEM 2010

As inscrições ao Enem 2010 começaram a partir do dia 21 de junho e vão até o dia 9 de julho. As inscrições serão feitas exclusivamente pela Internet e será exigido o número de CPF do participante.

O CPF é um número único que cada cidadão brasileiro economicamente ativo deve possuir. Ele é individual, o que significa que o participante do Enem não poderá usar o número de CPF de seu pai ou de sua mãe, qualquer que seja sua idade. O próprio sistema de inscrição irá impedir essa prática, pois ao digitar o número do CPF, o sistema buscará informações de seu titular na base de dados da Receita Federal. Quem tiver mais de 16 anos poderá solicitar seu CPF em uma agência do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal ou dos Correios. O pai, a mãe ou o responsável legal deve solicitar CPF para os menores de 16 anos. Não é possível tirar CPF pela Internet.

A taxa de inscrição é de R$ 35,00, mas alunos da última série do Ensino Médio em escolas públicas não a pagam. Poderão ser isentos de taxa os estudantes que tiverem concluído o Ensino Médio nos anos anteriores e estudantes de escolas privadas, desde que não tenham condições de pagá-la e assinem declaração de carência.

Além dos dados cadastrais, o participante deverá responder ao questionário socioeconômico no próprio ato de inscrição. O questionário é composto por poucas questões a serem respondidas diretamente na Internet.

A redação e as quatro provas do Enem, cada uma com 45 questões, serão aplicadas nos dias 6 e 7 de novembro. No sábado, dia 6, haverá prova de ciências da natureza e ciências humanas. No domingo, dia 7, deverá ser feita a redação e haverá prova de matemática, linguagens e códigos. O participante deverá optar por uma língua estrangeira, inglês ou espanhol, no momento da inscrição. Em ambos os dias a prova terá início às 13h. O encerramento ocorrerá às 17h30 no sábado e 18h30 no domingo.


Assessoria de Imprensa do Inep/MEC

domingo, 20 de junho de 2010

Toy Story 3 fala de perda e apego


O último filme da série traz emoções fortes aos espectadores e conversa bem com os sentimentos das crianças (e dos adultos!). E ainda inspira campanha de doação de brinquedos

O que se ganha quando se perde? Se para você a reflexão pareceu sem sentido, assista a Toy Story 3, longa que a Disney/Pixar estreia nesta sexta-feira, dia 18 de junho. O filme será, sim, inesquecível. Em primeiro lugar, porque ele já é o preferido dos fãs que há 11 anos aguardam novidades com a turma de brinquedos mais adoráveis do cinema. Segundo porque o enredo está pronto para fazer você (sim, você), ficar com peito apertado e nó na garganta. Várias vezes. Toy Story 3 é de emocionar.

Desde a primeira cena – em que assistimos a uma lembrança de brincadeira de Andy, o dono dos brinquedos – é pura adrenalina. O filme todo parece ter sido feito pela cabeça de uma criança. E no bom (ótimo!) sentido. Os cenários estão incríveis, os detalhes cada vez mais ricos com novos locais, novos personagens e, o melhor: novas personalidades. Nesta terceira parte – que também entra na versão 3D –, os brinquedos não são todos unidos como uma grande família feliz. Vocês vão se deparar com bons e maus entre os pares.

Bem, a história começa com a sinopse do filme: Andy está indo para a universidade e com a mãe e a irmã faz uma “limpa” no quarto. A caixa com os brinquedos – com os personagens que aprendemos a amar, diga-se – é um baú que, por anos, anda fechado. Os brinquedos ficam ouvindo a conversa dele com a mãe. Andy está abalado com a separação definitiva e o espectador vai vivendo desde cedo a aflição do apego, desapego e perda. Woody, o caubói, já nos revela os personagens que não fazem mais parte da trama – brinquedos têm certa durabilidade, oras. E o boneco mostra desde cedo sua maior característica: a lealdade a seu dono.

Acontece que, como se trata de uma bela turma atrapalhada, eles vão todos parar em uma creche que, aparentemente, parece um oásis para os brinquedos que se sentem rejeitados. Porém, em pouco tempo, sabemos que aquele paraíso está cheio de problemas. Para os nossos heróis, claro.

Crianças e pais vão rir muito, claro. Mas prepare-se porque o filme veio para mexer com a gente. O tema doação de brinquedos revela uma boa discussão sobre apego, sobre tempo, sobre brincar e como brincar. Aliás, a própria Disney iniciou com parceiros, como a Fundação Abrinq, uma campanha de doação de brinquedos que vai durar até o dia 15 de julho, com postos em supermercados, lojas de departamento, cinemas, shoppings centers e até concessionárias. São 500 pontos para receber brinquedos em bom estado (a Disney vai divulgar a campanha pelo site www.disney.com.br) a serem doados a organizações que trabalham com crianças carentes. O filme vai inspirar, inclusive, o cuidado com os brinquedos: as crianças irão vê-los sendo maltratados e todo o público vai entender que brincar muito não é destruir. Vai ter crueldade na tela, sim, preparem-se. Mas não fujam. Cada cena vale a pena. Quem me dera ter visto novamente logo após o término. E, no dia que assisti, eu queria mesmo voltar para casa e fazer uma única coisa: abraçar meus brinquedos e me perder nas lembranças. Lembranças de quando a imaginação ia tão solta, uma liberdade, um carinho, uma fantasia que a gente insiste em tirar de nossa vida quando adultos. Mas que filmes como esses teimam em nos dar de volta. Ainda bem...

Curta da vez
Como sempre, a Pixar traz um curta-metragem antes do filme. E este, acreditem, é um dos melhores. Chama-se Dia & Noite, e é uma sensacional animação que mistura técnica 2D e 3D. Sem falas, o curta apresenta dois personagens em forma de fantasmas que, na transparência do "corpo" surgem ali representações de vantagens e desvantagens do dia e da noite. Cada um é um. É emocionante e engraçado. Imperdível também.

Fonte: CRESCER

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Contactando a Realidade


A afetividade está sempre atuando na pessoa e todos os conteúdos do acontecer mental, que são as vivências, possuem sempre um conteúdo afetivo. Nas vivências o significado afetivo é prevalente e mesmo as vivências praticamente sem significado afetivo, como, por exemplo, na atividade exclusivamente cognitiva do raciocínio, existe sempre um componente afetivo. A afetividade é, portanto, uma atividade.


Falar que a afetividade é uma atividade enfatiza a idéia de que ela é essencialmente dinâmica e é nesse dinamismo que aparece a maior riqueza da vida mental, quer pela sua variabilidade, quer pela sua flexibilidade e possibilidades de transformação. Neste sentido, cabe perfeitamente designá-la como uma atividade.

A Afetividade é Significante

A natureza da afetividade é basicamente a de um estado significante, que dá um significado especial - o significado afetivo - sobre as coisas e os acontecimentos vividos, isto é, sobre os conteúdos das vivências. O estado é meu, o significado é meu, mas se trata do significado sobre algo. Esse significado adjetiva as vivências e os objetos.
O significado afetivo, então, se atrela ao objeto além da sua definição. É assim, por exemplo, que quando encontramos uma pessoa de quem gostamos muito sentimos alegria. Podemos dizer que a vivência que temos em encontrar essa pessoa se impregna de alegria. Atrela-se, assim, à imagem que temos dessa pessoa naquele momento nossa alegria em encontrá-la. Mas a imagem da pessoa, quem ela é, suas características, nada têm a ver com a alegria que sentimos. Trata-se de um significado que transcende ao objeto, mas que é aposto a ele.

Não se trata de querermos sentir alegria ao ver a pessoa, apenas sentimos essa alegria. Da mesma forma, pode acontecer de, ao nos despedir dessa pessoa, o afastamento nos cause tristeza. Mesmo sem querer sentir tristeza. É assim que um mesmo objeto pode implicar numa vivência impregnada de diversos sentimentos. Em dois momentos diferentes o mesmo objeto adquire um significado afetivo oposto, sem deixar de ser exatamente o mesmo objeto. O significado é uma qualidade vivenciada sobre o objeto, qualidade essa que varia conforme o significado do momento vivencial em relação ao objeto.

Contactando a Realidade

A nossa cultura registra em Platão (427-374 AC) a primeira reflexão sobre uma nova espécie de realidade experimentada pelo ser humano e que não corresponde exatamente à realidade objetivamente verdadeira: trata-se da realidade psicológica. Santo Agostinho (354-430 d.C.), considerado grande inspirador do movimento existencialista e até da psicanálise, inspirou sua obra na realidade das experiências interiores do ser humano, propondo a idéia de que os sentimentos são dominantes e que o intelecto é seu servo.

Em seu livro Confissões, Santo Agostinho foi o primeiro a centralizar-se na introspecção psicológica, sugerindo também, uma completa revisão do pensamento anterior, segundo o qual o raciocínio dedutivo era o único instrumento de constatação da verdade e da realidade (racionalismo). Ele negava, categoricamente, a capacidade do ser humano para encontrar a verdade confiando apenas em suas próprias faculdades.

John Locke (1632-1704) acreditava também na existência de duas realidades: uma delas conferida pela percepção dos objetos e denominada experiência exterior e uma outra, determinada pela percepção dos sentimentos e desejos, a que chamou de experiência interior. A doutrina de Locke foi muito bem desenvolvida por Berkeley (1685-1753) e por David Hume (1711-1776), os quais concluíram que nenhum conhecimento absoluto é possível, e aquilo que sabemos da realidade é baseado na experiência subjetiva (experiência interior), a qual não reflete necessariamente o quadro verdadeiro do mundo. William James (1842-1910), no século passado, enfatizou a natureza altamente pessoal dos processos de pensamento e o caráter sempre mutável das percepções do mundo, alteradas que são pelo estado subjetivo da pessoa que percebe.

Perceber a realidade exatamente como ela é tem sido uma tarefa totalmente impossível para o ser humano. Nós nos aproximamos variavelmente da realidade, de acordo com nossas paixões, nossos interesses, nossas crenças, nosso acervo cultural, etc. É assim, por exemplo, que uma pessoa perdidamente apaixonada terá um julgamento muito pessoal acerca da pessoa que ama. Normalmente, nestes casos, a força da paixão turva a avaliação objetivamente correta do objeto amado. Da mesma forma pode-se dizer que a realidade experimentada por um botânico diante de uma orquídea será sempre diferente da realidade experimentada pelo poeta, acerca da mesma orquídea. A realidade do índio pode ser plena de determinados deuses que estão ausentes na nossa, assim como nossos micróbios não participam da realidade dele e assim por diante.

Embora a representação do real seja particular em cada um de nós, como dissemos, a compreensão do mundo percebido e introjetado deve ser organizada segundo as regras comuns de um mesmo sistema cultural e, desta forma, tornar possível a convivência e a comunicação entre as pessoas de uma mesma cultura. Este sistema sócio-cultural que reconhece o direito da apercepção (ou procepção, ou representação) de cada um de nós, também estabelece uma determinada faixa de compatibilidade entre as pessoas. Uma faixa de variáveis onde as diversas maneiras de experimentar e sentir o mundo não comprometa a viabilidade da vida gregária.

A esta faixa de congruência sugerimos chamar de Concordância Cultural. Trata-se de um conjunto de valores, normas e modelos capazes de definir um determinado grupo cultural e identificar os indivíduos de um mesmo sistema mediante um contacto mais ou menos consensual com certos aspectos da realidade.

Assim sendo, as infinitas variações pessoais na representação da realidade devem, apesar de infinitas, manter-se dentro da concordância cultural para serem consideradas normais. Seria como a variação infinita das impressões digitais. Mesmo diante da infindável variedade entre todas as impressões digitais, há alguma concordância entre elas. No momento em que nos defrontamos com impressões digitais formadas por linhas retas e paralelas, ou regularmente quadradas e concêntricas, certamente estaremos diante de impressões digitais anormais.

Fonte: Psiqweb

Criança pode usar andador?


Se você está pensando em investir o seu dinheiro num andador para o seu filho, atenção! A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) estima que o acessório, apesar das recomendações dos médicos, ainda é usado por cerca de 60 a 90% dos bebês entre seis e 15 meses de idade. E os riscos são inúmeros: queimaduras (pela proximidade com tomadas e panelas), intoxicações, afogamentos e, principalmente, quedas. Para piorar, estudos mostram que 70% das crianças que sofreram traumatismos com andadores estavam sob a supervisão de um adulto. “O andador, de fato, dá mais independência aos bebês”, diz Luiza Batista, coordenadora de políticas públicas da ONG Criança Segura. “Mas eles ainda não têm maturidade física e emocional para tanta liberdade.” Outro fator que facilita os acidentes é o fato do peso da cabeça da criança ser desproporcional ao resto do corpo. “Ela pende para frente com facilidade, postura que é potencializada pelo andador”, diz Luiza.


Além disso, o uso do aparelho pode atrasar o desenvolvimento psicomotor da criança, fazendo com que ela leve mais tempo para ficar de pé e caminhar sem apoio. Isso sem falar que ele encurta uma etapa importante, o engatinhar. Outro prejuízo diz respeito a atividade física: embora ganhe mais mobilidade, a criança gasta menos energia para alcançar o que lhe interessa. “Todos os seres humanos aprendem a caminhar sem andador”, diz Nei Botter Montenegro, ortopedista e traumatologista do Hospital Albert Einstein, de São Paulo. “Por isso, além de ser perigoso, ele não traz nenhuma contribuição ao desenvolvimento da criança.”
Ainda assim, o produto é facilmente encontrado nas lojas. Em alguns países, como o Canadá, a comercialização do andador é proibida (incluindo os artigos usados). No Brasil, infelizmente, não há legislação que proteja a criança nesse caso. “A responsabilidade, portanto, depende somente dos pais”, diz Luiza, da ONG Criança Segura.

Fonte: Crescer

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Transtorno Dismórfico Corporal e Muscular

Muitos são os pais que se esforçam, em vão, para convencer seus filhos adolescentes de que eles não são tão magros e raquíticos como acreditam, ou que não têm o nariz tão enorme como se vêem, que as espinhas não são tão deformantes como eles reclamam... Os adolescentes, entretanto, não acreditam em nenhum desses argumentos, mesmo se forem ditos por centenas de pessoas... eles continuam diante do espelho reclamando suas “deformidades”. Podem ser portadores de Transtorno Dismórfico Corporal.

Na Anorexia Nervosa, e quase sempre na Bulimia, há também uma deformação da imagem corporal. A pessoa se vê muito mais gorda do que é de fato, não acredita nas pessoas que dizem-lhe o contrário. Portadores de Anorexia costumam ver gordurinhas e dobrinhas que, ou não existem, ou são fisiológicas e normais em todas as pessoas. Isso é também uma espécie de Transtorno Dismórfico Corporal, onde a crença de estar gordo tem características delirante, ou seja, são irremovíveis pela argumentação lógica (foto, balança, opiniões).


Pacientes com Transtorno Dismórfico Corporal sofrem de idéias persistentes sobre o modo como percebem a própria aparência corporal, portanto, é muito comum que entre pessoas com Transtorno Dismórfico Corporal, tenha aquelas portadoreas de Vigorexia, que é o Transtorno Dismórfico Muscular.

Choi, Pope e Olivardia definiram essa forma de Transtorno Dismórfico Corporal, o Transtorno Dismórfico Muscular, sinônimo da Vigorexia, ou seja, uma síndrome onde as pessoas, geralmente homens, independentemente de sua musculatura (embora normalmente sejam bem desenvolvidos), têm uma opinião patológica a respeito do próprio corpo, acreditando terem uma musculatura muito pequena, fraca e frágil.

Os pensamentos persistentes sobre “defeitos” na aparência corporal são praticamente delirantes, além de intrusivos à consciência, difíceis de resistir e em geral acompanhados por compulsões rituais de olhar-se no espelho constantemente, eles não são acompanhados de nenhuma crítica por parte do paciente.


Essas idéias obsessivas sobre defeitos no próprio corpo são muito semelhantes aos pensamentos obsessivos dos pacientes com Transtorno Obsessivo-Compulsivo, e em geral são egodistônicas, ou seja, estão em desacordo com o gosto da pessoa, portanto, fazem a pessoa sofrer.

No Transtorno Dismórfico Corporal são mais comuns as queixas que envolvem defeitos faciais, como por exemplo, em relação à forma ou tamanho do nariz, do queixo, calvície, etc. As queixas geralmente envolvem falhas imaginadas ou, se existem são bem mais leves que o paciente imagina, na face ou na cabeça, tais como perda de cabelos, acne, rugas, cicatrizes, marcas vasculares, palidez ou rubor, inchação, assimetria ou desproporção facial, ou pêlos faciais excessivos.

Outras preocupações comuns incluem o tamanho, a forma ou algum outro aspecto do nariz, dos olhos, pálpebras, sobrancelhas, orelhas, boca, lábios, dentes, mandíbula, queixo, bochechas ou cabeça. Não obstante, qualquer outra parte do corpo pode ser o foco de preocupação do paciente, inclusive podem envolver outros órgãos ou funções, como por exemplo, preocupação com o cheiro corporal que exalam, mau hálito, odor dos pés, etc. Embora a queixa seja freqüentemente específica, algumas vezes pode ser vaga e alguns pacientes podem apenas se queixar de uma “feiúra” geral.

Sendo assim, o Transtorno Dismórfico Corporal costuma estar presente na Vigorexia (sinônimo de Transtorno Dismórfico Muscular). Há ainda co-morbidade do Transtorno Dismórfico Corporal e/ou do Transtorno Dismórfico Muscular, com outros quadros psiquiátricos, tais como Fobia Social, Transtorno Obsessivo-Compulsivo, Depressão e quadros delirantes.

A co-morbidade do Transtorno Dismórfico Corporal poral com Depressão e Ansiedade chega a 50% dos casos, especialmente com quadros de ansiedade tipo Pânico. De fato, alguns autores (Grant, 2002) acham que o Transtorno Dismórfico Corporal raramente aparece sem alguma comorbidade.

Com o Transtorno Obsessivo-Compulsivo clássico, Fobia Social e Anorexia Nervosa a comorbidade também é alta, em torno de 40%. Pacientes com Transtorno Dismórfico Corporal em geral são perfeccionistas e podem ter traços de personalidade obsessivos ou esquizóides. Sendo as idéias sobre as deformidades corporais de natureza obsessiva, pode haver também um comportamento compulsivo.

No caso da Vigorexia os exercícios excessivos são compulsivos, mas também a compulsão pode se manifestar através de freqüentes verificações diante do espelho, cansativos exames do suposto “defeito” que podem consumir várias horas do dia. Os pacientes freqüentemente pensam que os outros podem estar observando com especial depreciação sua suposta deformidade, talvez comentando a respeito dela ou ridicularizando-a.

Fonte: Psiqweb

terça-feira, 15 de junho de 2010

Abuso Sexual Infantil

Seja qual for o número de abusos sexuais em crianças que se vê nas estatísticas, seja quantos milhares forem, devemos ter em mente que, de fato, esse número pode ser bem maior. A maioria desses casos não é reportada, tendo em vista que as crianças têm medo de dizer a alguém o que se passou com elas. E o dano emocional e psicológico, em longo prazo, decorrente dessas experiências pode ser devastador.

O abuso sexual às crianças pode ocorrer na família, através do pai, do padrasto, do irmão ou outro parente qualquer. Outras vezes ocorre fora de casa, como por exemplo, na casa de um amigo da família, na casa da pessoa que toma conta da criança, na casa do vizinho,ou mesmo por um desconhecido.

Em tese, define-se Abuso Sexual como qualquer conduta sexual com uma criança levada a cabo por um adulto ou por outra criança mais velha. Isto pode significar, além da penetração vaginal ou anal na criança, também tocar seus genitais ou fazer com que a criança toque os genitais do adulto ou de outra criança mais velha, ou o contacto oral-genital ou, ainda, roçar os genitais do adulto com a criança.

Às vezes ocorrem outros tipos de abuso sexual que chamam menos atenção, como por exemplo, mostrar os genitais de um adulto a um criança, incitar a criança a ver revistas ou filmes pornográficos, ou utilizar a criança para elaborar material pornográfico ou obsceno.


A Criança Abusada


Devido ao fato da criança muito nova não ser preparada psicologicamente para o estímulo sexual, e mesmo que não possa saber da conotação ética e moral da atividade sexual, quase invariavelmente acaba desenvolvendo problemas emocionais depois da violência sexual, exatamente por não ter habilidade diante desse tipo de estimulação.

A criança de cinco anos ou pouco mais, mesmo conhecendo e apreciando a pessoa que o abusa, se sente profundamente conflitante entre a lealdade para com essa pessoa e a percepção de que essas atividades sexuais estão sendo terrivelmente más.

Para aumentar ainda mais esse conflito, pode experimentar profunda sensação de solidão e abandono.

Quando os abusos sexuais ocorrem na família, a criança pode ter muito medo da ira do parente abusador, medo das possibilidades de vingança ou da vergonha dos outros membros da família ou, pior ainda, pode temer que a família se desintegre ao descobrir seu segredo.

A criança que é vítima de abuso sexual prolongado, usualmente desenvolve uma perda violenta da auto-estima, tem a sensação de que não vale nada e adquire uma representação anormal da sexualidade. A criança pode tornar-se muito retraída, perder a confiaça em todos adultos e pode até chegar a considerar o suicídio, principalmente quando existe a possibilidade da pessoa que abusa ameaçar de violência se a criança negar-se aos seus desejos.

Algumas crianças abusadas sexualmente podem ter dificuldades para estabelecer relações harmônicas com outras pessoas, podem se transformar em adultos que também abusam de outras crianças, podem se inclinar para a prostituição ou podem ter outros problemas sérios quando adultos.

Comumente as crianças abusadas estão aterrorizadas, confusas e muito temerosas de contar sobre o incidente. Com freqüência elas permanecem silenciosas por não desejarem prejudicar o abusador ou provocar uma desagregação familiar ou por receio de serem consideradas culpadas ou castigadas. Crianças maiores podem sentir-se envergonhadas com o incidente, principalmente se o abusador é alguém da família.

Mudanças bruscas no comportamento, apetite ou no sono pode ser um indício de que alguma coisa está acontecendo, principalmente se a criança se mostrar curiosamente isolada, muito perturbada quando deixada só ou quando o abusador estiver perto.


O comportamento das crianças abusadas sexualmente pode incluir:
Interesse excessivo ou evitação de natureza sexual;
Problemas com o sono ou pesadelos;
Depressão ou isolamento de seus amigos e da família;
Achar que têm o corpo sujo ou contaminado;
Ter medo de que haja algo de mal com seus genitais;
Negar-se a ir à escola,
Rebeldia e Delinqüência;
Agressividade excessiva;
Comportamento suicida;
Terror e medo de algumas pessoas ou alguns lugares;
Retirar-se ou não querer participar de esportes;
Respostas ilógicas (para-respostas) quando perguntamos sobre alguma ferida em seus genitais;
Temor irracional diante do exame físico;
Mudanças súbitas de conduta.


Algumas vezes, entretanto, crianças ou adolescentes portadores de Transtorno de Conduta severo fantasiam e criam falsas informações em relação ao abuso sexual.

Quem é o Agressor Sexual

Mais comumente quem abusa sexualmente de crianças são pessoas que a criança conhece e que, de alguma forma, podem controla-la. De cada 10 casos registrados, em 8 o abusador é conhecido da vítima.

Esta pessoa, em geral, é alguma figura de quem a criança gosta e em quem confia. Por isso, quase sempre acaba convencendo a criança a participar desses tipos de atos por meio de persuasão, recompensas ou ameaças.

Mas, quando o perigo não está dentro de casa, nem na casa do amiguinho, ele pode rondar a creche, o transporte escolar, as aulas de natação do clube, o consultório do pediatra de confiança e, quase impossível acreditar, pode estar nas aulas de catecismos da paróquia. Portanto, o mais sensato será acreditar que não há lugar absolutamente seguro contra o abuso sexual infantil.

Segundo a Dra. Miriam Tetelbom, o incesto pode ocorrer em até 10% das famílias. Os adultos conhecidos e familiares próximos, como por exemplo o pai, padrasto ou irmão mais velho são os agressores sexuais mais freqüentes e mais desafiadores. Embora a maioria dos abusadores seja do sexo masculino, as mulheres também abusam sexualmente de crianças e adolescentes.

Esses casos começam lentamente através de sedução sutil, passando a prática de "carinhos" que raramente deixam lesões físicas. É nesse ponto que a criança se pergunta como alguém em quem ela confia, de quem ela gosta, que cuida e se preocupa com ela, pode ter atitudes tão desagradáveis.

A Família da Criança Abusada Sexualmente

A primeira reação da família diante da notícia de abuso sexual pode ser de incredulidade. Como pode ser comum crianças inventarem histórias, de fato elas podem informar relações sexuais imaginárias com adultos, mas isso não é a regra. De modo geral, mesmo que o suposto abusador seja alguém em quem se vinha confiando, em tese a denúncia da criança deve ser considerada.

Em geral, aqueles que abusam sexualmente de crianças podem fazer com que suas vítimas fiquem extremamente amedrontadas de revelar suas ações, incutindo nelas uma série de pensamentos torturantes, tais como a culpa, o medo de ser recriminada, de ser punida, etc. Por isso, se a criança diz ter sido molestada sexualmente, os pais devem fazê-la sentir que o que passou não foi sua culpa, devem buscar ajuda médica e levar a criança para um exame com o psiquiatra.

Os psiquiatras da infância e adolescência podem ajudar crianças abusadas a recuperar sua auto-estima, a lidar melhor com seus eventuais sentimentos de culpa sobre o abuso e a começar o processo de superação do trauma. O abuso sexual em crianças é um fato real em nossa sociedade e é mais comum do que muita gente pensa. Alguns trabalhos afirmam que pelo menos uma a cada cinco mulheres adultas e um a cada 10 homens adultos se lembra de abusos sexuais durante a infância.

O tratamento adequado pode reduzir o risco da criança desenvolver sérios problemas no futuro, mas a prevenção ainda continua sendo a melhor atitude. Algumas medidas preventivas que os pais podem tomar, fazendo com que essas regras de conduta soem tão naturais quanto as orientações para atravessar uma rua, afastar-se de animais ferozes, evitar acidentes, etc. Se considerar que a criança ainda não tem idade para compreender com adequação a questão sexual, simplesmente explique que algumas pessoas podem tentar tocar as partes íntimas (apelidadas carinhosamente de acordo com cada família), de forma que se sintam incomodadas.


1.Dizer às crianças que "se alguém tentar tocar-lhes o corpo e fazer coisas que a façam sentir desconfortável, afaste-se da pessoa e conte em seguida o que aconteceu."

2.Ensinar às crianças que o respeito aos maiores não quer dizer que têm que obedecer cegamente aos adultos e às figuras de autoridade. Por exemplo, dizer que não têm que fazer tudo o que os professores, médicos ou outros cuidadores mandarem fazer, enfatizando a rejeição daquilo que não as façam sentir-se bem.

3.Ensinar a criança a não aceitar dinheiro ou favores de estranhos.

4.Advertir as crianças para nunca aceitarem convites de quem não conhecem.

5.A atenta supervisão da criança é a melhor proteção contra o abuso sexual pois, muito possivelmente, ela não separa as situações de perigo à sua segurança sexual.

6.Na grande maioria dos casos os agressores são pessoas conhecem bem a criança e a família, podem ser pessoas às quais as crianças foram confiadas.

7.Embora seja difícil proteger as crianças do abuso sexual de membros da família ou amigos íntimos, a vigilância das muitas situações potencialmente perigosas é uma atitude fundamental.

8.Estar sempre ciente de onde está a criança e o que está fazendo.
9.Pedir a outros adultos responsáveis que ajudem a vigiar as crianças quando os pais não puderem cuidar disso intensivamente.

10.Se não for possível uma supervisão intensiva de adultos, pedir às crianças que fiquem o maior tempo possível junto de outras crianças, explicando as vantagens do companheirismo.

11.Conhecer os amigos das crianças, especialmente aqueles que são mais velhos que a criança.

12.Ensinar a criança a zelar de sua própria segurança.

13.Orientar sempre as crianças sobre opções do que fazer caso percebam más intenções de pessoas pouco conhecidas ou mesmo íntimas.

14.Orientar sempre as crianças para buscarem ajuda com outro adulto quando se sentirem incomodadas.

15.Explicar as opções de chamar atenção sem se envergonhar, gritar e correr em situações de perigo.

16.Orientar as crianças que elas não devem estar sempre de acordo com iniciativas para manter contacto físico estreito e desconfortável, mesmo que sejam por parte de parentes próximos e amigos.

17.Valorizar positivamente as partes íntimas do corpo da criança, de forma que o contacto nessas partes chame sua atenção para o fato de algo incomum e estranho estar acontecendo.

Uma falsa crença é esperar que a criança abusada avise sempre sobre o que está acontecendo. Entretanto, na grande maioria das vezes, as vítimas de abuso são convencidas pelo abusador de que não devem dizer nada a ninguém. A primeira intenção da criança é, de fato, avisar a alguém sobre seu drama mas, em geral, nem sempre ela consegue fazer isso com facilidade, apresentando um discurso confuso e incompleto. Por isso os pais precisam estar conscientes de que as mudanças na conduta, no humor e nas atitudes da criança podem indicar que ela é vítima de abuso sexual.

Fonte: PSIQWEB

terça-feira, 8 de junho de 2010

Violência doméstica - Ensine a sua filha a não ser uma vítima no futuro

Violência dentro do casamento era tema – infelizmente – bem conhecido. Mas ultimamente, vários estudos mostraram que a violência começa muito mais cedo: no namoro. É urgente mostrar aos adolescentes que agressividade não é amor.

Becky tem 17 anos, é inteligente, divertida e quer ser humorista. Entretanto, conhece Kip, atraente e apaixonado, que se preocupa com cada detalhe da sua vida.

Aos poucos, aquilo que parecia um amor escaldante torna-se uma prisão: Kip controla todos os passos da namorada, corta a sua relação com os amigos, persegue-a a cada minuto, e quando começa a agredi-la fisicamente, Becky toma consciência de que a paixão pode não ser aquilo que pensava. Só que o caminho para se libertar de um namorado possessivo e controlador é mais difícil do que ela pensava - aliás, é muito parecido com a libertação de um vício - e a ajuda da família e dos amigos vai ser imprescindível...

Esta é a história do livro ‘Amor no Fio da Navalha', um livro escrito pela jornalista americana Janet Tashjian, que, impressionada com os casos de violência em namoros adolescentes, decidiu chamar a atenção dos seus leitores. Mas esta é também a história de milhares de adolescentes por esse mundo fora.

Tema muito deprimente para um mês em que se celebra o Dia dos Namorados? Talvez: mas esta é, cada vez mais, a realidade dos jovens portugueses.

Segundo um estudo desenvolvido por investigadoras da Universidade do Minho, um em cada quatro jovens, com idades entre os 13 e os 29 anos, reconheceu ter sido vítima de comportamentos abusivos. E estes dados espelham uma situação muito semelhante nos Estados Unidos e no resto da Europa.

"Se tem ciúmes, é porque gosta de mim"

Existe tanta violência no namoro como no casamento: 25% dos jovens já foram vítimas. Os mais novos começam a agredir-se cada vez mais cedo. E o maior problema, nota a investigadora Carla Machado é que a maioria encara com normalidade que dois namorados se agridam. "O que acontece é que os adolescentes, embora reprovem a violência em abstracto, depois encontram justificações e desculpam a violência em situações específicas, como os ciúmes ou a infidelidade", explica a investigadora.

Por violência não se entende apenas murros e pontapés. "A violência mais comum é a emocional (insultos, humilhações, ameaças, tentativas de controlo) e a pequena violência física (bofetadas, empurrões)", nota Carla Machado.
Claro que a agressividade não surge do nada: vivemos num mundo onde é muito mais normal resolver-se os conflitos ao murro e ao pontapé (literal ou figurado...) do que pelo diálogo. "Vários estudos internacionais sugerem que a proveniência de uma família já de si violenta é de facto um factor de risco", confirma Carla Machado. "Contudo, não quer dizer que todos os jovens que vivenciaram essa situação se tornem violentos... há vários factores de possível compensação dessa influência."

Mas não podemos deitar todas as culpas para o nosso tempo, simplesmente porque não temos dados para comparar, "É um assunto que só agora começa a ser estudado. Portanto, não temos ponto de comparação sobre como era ‘dantes'". Provavelmente, os namorados sempre se agrediram, mas só agora é que começamos a achar que isso não é aceitável...

Agressivos uns com os outros

Apesar do muito que se progrediu em termos de condição feminina, as raparigas ainda são educadas para a docilidade. No entanto, uma das grandes diferenças entre a violência nas relações adultas e nos adolescentes é que as raparigas mais novas também são agressivas nas suas relações amorosas.

"Isto não é só uma agressão da qual são vítimas", faz notar Carla Machado. "Mas é verdade que as raparigas parecem sofrer mais a influência de um certo discurso sobre o amor e o romance muito idealizado, que acredita que o "verdadeiro amor" sobrevive a tudo e que vão ser capazes de mudar um parceiro abusivo. Claro que isto as pode levar a tolerar, desculpar e permanecer mais tempo em relações abusivas."

"Estamos numa fase em que há uma elevada violência contra as mulheres adultas, mas entre os adolescentes esta é bi-unívoca, ou seja, são agressivos uns com os outros", confirma Maria Neto Leitão, professora na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra e coordenadora de um projecto absolutamente inovador nesta área: ‘(O)Usar e Ser Laço Branco. "Se eu já sentia, da minha experiência, que a violência tinha um enorme peso da vida das mulheres, apercebi-me de que era um problema tão grave que exigia prevenção entre as mais novas. É urgente que elas tomem consciência de que estão a viver situações de violência e não as validem como relações de amor


O projecto forma estudantes voluntários na área da violência no namoro e depois leva às escolas secundárias encenações do tema, como forma de pôr os alunos a discutir. "Concluímos que a única forma que os mais novos conhecem de comunicarem é através da violência. E aí também o nosso projecto é inovador: tentamos mostrar-lhes o que é uma relação violenta, que ninguém tem o direito de ser violento sobre o outro, e que isso não é uma forma de nos relacionarmos com ninguém e muito menos com um namorado, a pessoa que nos devia dar mais apoio e carinho."

Mais vale mal acompanhada que só

Os grandes problemas são culturais: por exemplo, o namoro valoriza as raparigas. "Sem dúvida," confirma Maria Neto. "Continua uma forma de afirmação social. Nas secundárias tentamos mostrar-lhes que não têm de ter um namorado para se sentirem valorizadas. Mas é uma tarefa muito difícil. Elas preferem ter um mau namorado a não ter namorado nenhum!"

A estratégia da encenação da violência pelo teatro revelou-se extremamente útil. "Quando encenamos essas situações, eles ficam revoltados e acham inadmissível. Mas depois, reproduzem-nas na vida deles sem se darem conta!", nota Maria.

O projecto pretende não apenas mostrar mas dar soluções. "Violência não, mas então o que é que sim? Eles têm um vazio afectivo, um vazio de modelos. São violentos porque não sabem como resolver as situações. Então, vamos dar-lhes esses modelos: como aprender a resolver um conflito de modo não-agressivo, como respeitar os direitos dos outros, como declarar uma situação que não me satisfaz. São aprendizagens que desenvolvemos com os estudantes para eles perceberem que há outras formas de nos relacionarmos que não sejam violentas. E também como forma de prevenção: para que, quando arranjem um namorado, não permitam que essas situações aconteçam."

Ou como afirma Janet Tashjian, autora da história de Becky: "Na nossa cultura, rapazes e raparigas nadam contra a fortíssima corrente da violência. As raparigas carregam frequentemente o fardo da raiva e da frustração dos rapazes. Ajudar ambos os lados a encontrar uma solução significa eliminar a raiz da violência na nossa sociedade. Temos muito trabalho à nossa frente."

NÃO É FÁCIL SER RAPAZ

"Os homens também são vítimas disto tudo, e estas não são relações dentro das quais eles se sintam bem", defende a professora Maria Neto Leitão. "Socialmente, são obrigados a desempenhar um papel que não os satisfaz, mas não têm outro! Eles comportam-se da maneira que acham que lhes é exigida. Tentamos no nosso projecto mostrar aos rapazes que, para serem homens, não têm de ser violentos. E ao recusar a violência, serão mais felizes. O problema é que mesmo as mulheres esperam deles que sejam violentos. É fundamental apresentar novos modelos de masculinidade aos jovens, ou eles vão continuar a pensar que não ser isto é ser homossexual. E no contexto de homofobia em que vivemos, eles preferem tudo menos ser homossexual!"

O QUE OS PAIS PODEM FAZER~

"Podem, antes de mais, transmitir muito claramente, no seu discurso e comportamento, que a violência é inaceitável, em qualquer circunstância e qualquer que seja a desculpa," defende Carla Machado. "Podem educar os filhos para serem assertivos (não agressivos) e terem consciência dos seus direitos. Podem enfatizar a ideia de que o respeito faz parte integrante do amor. E que o amor não implica anulação nem fusão com o outro."

"Tudo passa por estar atento, e mostrar disponibilidade para ouvir o filho e para o perceber," explica Maria Neto Leitão. "Se os miúdos sabem que os pais não vão aprovar o namoro, é óbvio que não lhes vão dizer nada. Os pais têm de perceber que os filhos não são deles, são do mundo. E isto é um assunto muito ligado à sexualidade, e quando não desenvolvemos este trabalho desde a infância, na adolescência a situação pode complicar-se. O aprender a construir relações afectivas positivas vem desde a relação que construímos com os pais, desde a forma como nos pegavam, seguravam, lidavam com o nosso corpo."

Fonte:."Catarina Fonseca/ACTIVA

domingo, 6 de junho de 2010

Ensine o seu filho a resistir ao fracasso


Errar é um dos medos mais comuns, tanto nas crianças como nos adultos. Mas cabe aos pais explicar-lhes que isso não deve impedi-los de tentar de novo
Ter uma má nota, não correr tão depressa como o amigo, levar uma 'tampa' da namorada... As crianças de hoje têm imensa dificuldade em lidar com o erro e o fracasso. Mas será que não estão a ser o nosso espelho?

O fracasso está ligado à frustração: 'não conseguir' aparece cada vez mais ligado ao 'não ter' e ambos ao 'não ser' - o que pode ser perigoso.

Os mais novos foram habituados a ter tudo já. Quem não teve uma educação para a frustração não percebe que precisa de esperar para ter alguma coisa. E isso pode resultar em comportamentos destrutivos. 'Vivemos numa sociedade em que se tem de ter sucesso para se ser julgado digno de pertencer', nota a psicóloga Dalila Paulo. 'As crianças já vão para a escola a competir umas com as outras. É urgente fazer um descondicionamneto da ideia de que a felicidade está em ter um carro grande e imensos telemóveis. A felicidade está no conforto espiritual.'

Os pais precisam de valorizar a criança pelo que ela tem de único e especial. 'O que mais me aparece actualmente nas consultas são crianças mal-aproveitadas, que mostram uma nota aos pais e eles dizem 'ah tiveste um Bom? podias ter feito melhor...'.

O que é urgente fazer: criar um espaço seguro onde a criança possa ser quem é, onde possa errar sem medo que deixem de gostar dela, onde tenha desafios sem que estejam sempre a tentar poupá-la a tudo. Os mais novos têm de perceber que aquilo que vale a pena dá trabalho e exige esforço. O importante é não querer poupá-los ao fracasso a todo o custo, porque é errando que se aprende a crescer.

O que é que um pai pode fazer: lembre-lhe que todas as invenções tiveram por base o erro. Sempre que errar, identifique as soluções. Não o resgate de falhar: deixe-o assumir as consequências. Não estudou? deixe-o 'provar' uma negativa

E acima de tudo, ensine que um erro é um trampolim para o sucesso: uma oportunidade maravilhosa para fazer melhor.

Fonte: ACTIVA.pt

Estupidez emocional

A inteligência emocional, a par da auto-estima, da assertividade ou da resiliência, é daqueles conceitos provenientes da Psicologia que acabou por ganhar popularidade e por ser integrado na linguagem comum. Para quem não sabe o que é, a inteligência emocional relaciona-se com a capacidade que idealmente todos deveríamos ter de lidar com as nossas emoções de um modo saudável e produtivo. Quem tem a sua inteligência emocional bem desenvolvida deverá ser capaz de reconhecer as suas próprias emoções, de se aperceber e de respeitar as das outras pessoas, além de as utilizar como guias para o seu comportamento. Porém, o que acontece com muita frequência é que as pessoas têm dificuldade em gerir as suas emoções. Acabam por fazer coisas que lhes são prejudiciais, numa atitude que muito bem poderia ser chamada de estupidez emocional.

Ao nível profissional esta incapacidade de lidar com as emoções pode levar a escolhas pouco acertadas e a criar situações de conflito com colegas e chefias. Ao nível familiar pode ser causa de discussões, de faltas de diálogo e de ressentimentos que duram toda uma vida. Como se tudo isto não bastasse, no que respeita à vida amorosa, estes condicionalismos emocionais levam muitas pessoas a envolverem-se com outras que, provavelmente, não são as mais indicadas para elas ou que, pelo menos, não o são naquele momento. E não são indicadas porque mantêm outras relações e não estão dispostas a abdicar das mesmas, mesmo que digam que o irão fazer no futuro. Porque humilham e agridem verbal e fisicamente. Porque têm interesses ou formas de estar na vida de tal forma diferentes que se tornam irreconciliáveis numa relação a dois. Porque, enfim, não estão dispostas a assumir um compromisso e preferem manter uma "amizade colorida" quando não é esse o desejo da outra pessoa envolvida. Nestas, como em muitas outras situações, existe quem se mantenha infeliz ou pelo menos não completamente satisfeita na relação, ainda que sempre na expectativa de que as coisas melhorem de forma a conseguirem alcançar a felicidade. Na maioria dos casos, isso nunca chega a acontecer. Ainda que as relações não estejam de acordo com os desejos de uma das partes, acaba-se por ir vivendo com a situação tal como ela é, muitas vezes por comodismo, mas também por medo de ficar só.

Tudo isto não significa que as pessoas escolham conscientemente ter relações pouco gratificantes. Quantos de nós já não se apaixonaram sem ser correspondidos sabendo, à partida, que qualquer possibilidade de uma relação se encontrava fora de questão? Felizmente não somos máquinas e, por esse motivo, não controlamos as nossas emoções que por vezes nos pregam partidas. Faz parte da experiência de estar vivo não saber que rasteira os nossos desejos e vontades nos irão passar e para que estranhas paragens nos irão levar as nossas emoções. A grande questão é: se nos fosse dado a escolher, será que as coisas seriam diferentes? Teríamos o discernimento de optar pelas pessoas e pelas situações que nos poderiam fazer felizes? Enveredaríamos pelos caminhos mais apropriados para o nosso coração? Estas são questões que permanecem em aberto. Porém, tenho a ideia de que as respostas não são tão simples quanto poderão parecer à partida. Ou seja, não sei se algumas pessoas, quando confrontadas com tal possibilidade de escolha, optariam pela melhor alternativa... Até porque, em alguns casos, o sofrimento também pode ser uma forma de estar na vida que serve de motor, de alimento e de alento. Será que se escolhe sofrer? Já dizia o poeta que o amor tem razões que a razão desconhece...

Por vezes pode ser importante fazer um exercício de introspecção para tentar perceber quais os motivos pelos quais mantemos relações que não são satisfatórias. Será por medo de não conseguir melhor? Por medo de magoar a outra pessoa? Qualquer justificação pode servir como desculpa para manter uma relação que já não tem razão de ser. É nesses casos que a inteligência emocional deverá ser utilizada. Para que a felicidade pessoal possa voltar a ser um objectivo realista na vida de cada um.

Fonte:Activa.pt

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Prêmio SESC de Literatura 2010

A chance de sua obra chegar às principais livrarias do país

O Prêmio SESC de Literatura está com as inscrições abertas para a sua 8ª edição. O edital está disponível online e nas unidades do SESC em todo o Brasil. As inscrições vão até 30 de setembro de 2010.

O concurso revela desde 2003 escritores inéditos cujas obras possuam qualidade literária para edição e circulação nacional. As inscrições para o Prêmio SESC de Literatura são gratuitas e aceitas em todo o Brasil, basta procurar a unidade mais próxima do SESC. São duas categorias: romance e contos. Cada concorrente pode participar com uma obra e os livros vencedores são publicados pela editora Record e distribuídos para toda a rede de bibliotecas e salas de leitura do SESC e SENAC em todo o país.

Na edição de 2009, dentre os 43 romances e 57 contos pré-selecionados, os escritores de Minas Gerais e do Rio de Janeiro foram os vencedores. Prosa de papagaio, da mineira Gabriela Guimarães Grazzinelli, foi o trabalho vencedor na categoria romance, e Cavala, de Sergio Tavares, foi escolhido como melhor coletânea de contos.

Fonte: SESC

quinta-feira, 3 de junho de 2010

O pensamento abstrato na adolescência

A conquista do pensamento abstrato muda a maneira de ver o mundo. Rebeldia e desejo de transformar e projetar o futuro são as novidades
Novo raciocínio influencia o juízo moral e a obediência a regras

Para Piaget, essa conquista não está relacionada simplesmente à maturação biológica e à idade cronológica, mas também aos estímulos que o indivíduo recebe. E é aí que entra o papel da escola. "Situações-problema, desafios e oportunidades diárias para as crianças e os jovens pensarem são fundamentais. Algumas pessoas passam a vida toda sem conseguir sair do estágio concreto, anterior ao abstrato. Para elas, é muito difícil entender conteúdos científicos e até mesmo nuances dos relacionamentos sociais e emocionais", ressalta Luciene.

Por meio do pensamento abstrato, muda a forma de encarar normas sociais e regras de conduta. "A diferença básica é que, diferentemente dos tempos de criança, a regra não é mais seguida às cegas - sua validade começa a ser discutida. As implicacões passam a depender de um contexto", explica Antonio Carlos Amador Pereira, professor da Faculdade de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

A fala de Fernando*, 14 anos (leia no destaque da primeira página), dá contornos mais nítidos a essa noção. E outra situação-problema ajuda a ilustrar a diferença entre o pensamento infantil e o juvenil. Pergunte a um jovem e a uma criança o que seria justo fazer com criminosos que foram capturados. "Colocá-los na cadeia" seria a provável resposta de um pequeno. Trata-se de um pensamento tipicamente concreto, sem grande ref lexão sobre as circunstâncias do ocorrido. Por outro lado, um adolescente que já domine o pensamento abstrato poderia dizer: "Primeiro, é preciso tentar saber os motivos que levaram ao roubo. A punição pode ser diferente se os ladrões estavam uma semana sem comer ou se apenas tinham preguiça de encontrar trabalho".

Justamente por começarem a se ver capazes de analisar as coisas de maneira ampla, os adolescentes têm um senso de justiça muito forte. Num cenário em que surgem em cena a contestação e até as brigas em nome dessa convicção, o professor deve entender que não se trata de mera provocação. O jovem está saindo de uma moral tipicamente heterônoma, na qual segue as regras por medo da repreensão, e começa a operar uma moral autônoma, na qual a regra é seguida por se respeitar um valor próprio, uma moral introjetada e que gera prazer e recompensa em seguir. "O jovem já consegue situar a lei fora da autoridade. Por essa razão, ele precisa de muito mais justificativas para acatar qualquer norma. Nessa fase, não costuma aceitar nada imposto", explica Luciene.

A mudança de comportamento também traz grandes implicações para a formação da identidade. É verdade que a forma como cada um se vê e enxerga o mundo é um processo que dura desde o momento em que nascemos até a morte. Na adolescência, entretanto, ele é ainda mais agudo e latente, pois a entrada no mundo adulto está ligada à necessidade de definir valores pessoais, morais, políticos e religiosos.

Fonte: Nova Escola